Carros elétricos vs carros a combustão: reflexões sobre a navalha de Ockham
O País inteiro tem 35 mil postos de combustível e mais de 400 milhões de tomadas em casas e estabelecimentos comerciais
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12/03/2025

Imagine uma conversa sobre carros elétricos e a combustão com reflexões guiadas pelo bom senso. O objetivo? Explorar o tema seguindo o princípio da navalha de Ockham, do filósofo franciscano inglês do século 14, William de Ockham (1287-1347): “A explicação mais simples tende a ser a mais correta.” O principal questionamento sobre carros elétricos é a “baixa autonomia”. Porém, a maioria das pessoas percorre distâncias diárias muito menores do que a autonomia média desses veículos.
No início do século 20, veículos a combustão enfrentaram desafios semelhantes. Henry Ford (1863-1947) lançou o Modelo T antes de haver postos de gasolina ou estradas pavimentadas. A necessidade impulsionou o desenvolvimento da infraestrutura. O mesmo ocorre hoje com os carros elétricos.
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Pontos de recarga para carros elétricos
Outro ponto é a reclamação sobre “pontos de recarga insuficientes”. Se conseguimos construir uma rede complexa para transporte e distribuição de gasolina, por que a eletricidade não pode seguir o mesmo caminho?
O País inteiro tem 35 mil postos de combustível e mais de 400 milhões de tomadas em casas e estabelecimentos comerciais. Nas tomadas, a eletricidade chega instantaneamente ao consumidor, eliminando etapas logísticas caras e reduzindo emissões. Não seria esse um modelo mais eficiente e sustentável?
Quanto ao “baixo valor de revenda”, isso é uma questão de percepção. Ao valorizar os benefícios dos carros elétricos, economia de combustível, baixo custo de manutenção e conforto, o mercado os reconhecerá como melhores do que os a combustão.
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Carros elétricos e a energia fóssil
A crítica segundo a qual os elétricos dependem de energia fóssil é válida, mas as matrizes energéticas estão mudando para fontes renováveis. Países como Brasil, com matriz predominantemente limpa, já apontam o caminho.
Sobre os geradores a diesel para recarga emergencial, a resposta é que são exceções, não a regra. Tecnologias novas, como bancos de baterias, estão evoluindo para resolver esses desafios iniciais. Criticar soluções novas sem considerar seu potencial de evolução é ignorar o aprendizado histórico.
A preocupação com o “carbono intensivo na produção” de baterias deve ser vista como oportunidade. A fabricação pode ser mais limpa com fontes renováveis e tecnologias modernas.
E as atuais técnicas de reciclagem já conseguem recuperar praticamente todos os metais e minerais das baterias velhas, reutilizando-os para novas aplicações. Assim como os motores a combustão evoluíram, o mesmo acontecerá com os veículos elétricos. E o Brasil, com matriz energética limpa, pode se tornar líder nesse mercado.
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Barreiras a serem superadas
Os “desafios de infraestrutura” sempre existirão. Quando os carros a combustão surgiram, não havia estradas ou oficinas. Se desafio fosse desculpa, ainda estaríamos utilizando cavalos nos transportes.
No dia 3 de outubro de 1908, o jornal americano Pacific Rural Press publicou um artigo intitulado “Horse vs. Automobile” (“Cavalo vs. Automóvel”). Argumentava que os automóveis eram economicamente desvantajosos, destruíam as estradas e representavam uma ameaça aos condutores tradicionais (de cavalos). O que dizer desse artigo hoje?
Sobre o uso inicial de energia fóssil para viabilizar tecnologias verdes, encare essa etapa como uma ponte para o futuro. A transição é um processo, e os avanços já estão em curso.
Por fim, imagine se o Modelo T fosse elétrico em 1908. Essa possibilidade tecnológica já existia na época. Com mais de um século de aprimoramento do carro elétrico, onde estaríamos hoje?
Agora, suponha o contrário: e se precisássemos voltar aos carros a combustão? Criticaríamos problemas como barulho excessivo, poluição, logística de abastecimento cara e inconveniente, além de direção e manutenção complicadas.
Em resumo: o carro elétrico é uma realidade irresistível porque é uma solução mais racional para o ambiente, mais econômica para o condutor e mais eficiente em termos de produção, distribuição e consumo de energia.
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Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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