Ciclovias de SP. Metas da Prefeitura são tímidas, mas importantes, diz urbanista

A expansão da malha cicloviária é um dos 126 pontos do documento Programa de Metas 2025-2028 da Prefeitura de SP divulgado no começo de abril, Foto: Adobe Stock

Há 3h - Tempo de leitura: 3 minutos, 42 segundos

A versão inicial das metas da Prefeitura de SP para ciclovias da cidade foi divulgada. A gestão declarou quantas ciclovias pretende construir até o fim da atual administração, em 2028. A expansão da malha cicloviária é um dos 126 pontos do documento Programa de Metas 2025-2028. Divulgado no começo de abril, ele contempla os planos do município para diversas áreas.

A promessa é atingir 1.000 km de caminhos exclusivos para bicicletas, construindo 233 novos quilômetros. Além disso, o ponto inclui a manutenção de 150 dos 767 km de ciclovias já existentes.

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Para o urbanista Daniel Guth, diretor da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), a meta é tímida, mas importante. Isso é, considerando como as últimas gestões municipais se posicionaram em relação a esse tema. “Poderíamos muito bem não ter nenhuma meta associada a ciclovias. Viemos de anos de criminalização dessa pauta”, recorda.

Daniel Guth, urbanista e diretor da Aliança Bike. Foto: Estadão

Se a Prefeitura cumprir a meta, será um avanço importante, afirma Guth, em uma avaliação que ele considera “pé no chão”. “Não é o que a gente precisa e gostaria, mas é um dado em si positivo”, afirma. Mas o ponto, para ele, é que há muitos motivos para duvidar do compromisso da atual gestão com essa entrega.

Metas da Prefeitura de SP para ciclovias serão cumpridas?

A administração anterior, eleita com Bruno Covas (PSDB) como prefeito e Ricardo Nunes (PMD) como vice, divulgou em 2021 que iria construir 300 novos quilômetros de ciclovias. O mandato, porém, acabou com apenas 49,7 quilômetros de novas ciclovias, 16% do prometido. O atual prefeito esteve, nesse sentido, à frente da Prefeitura na maior parte daquele mandato.

Houve uma tentativa de atingir a meta na reta final da última gestão. A Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito abriu, em setembro de 2023, uma licitação para construção de 158 km de ciclovias, com orçamento de R$ 357,3 milhões. Um parecer do Tribunal de Contas do Município, porém, apontou irregularidades no edital. Assim, o processo foi suspenso e, em março deste ano, cancelado, sem previsão de quando será reaberto.

Para Guth, os questionamentos do Tribunal de Contas são importantes. O preocupante é que justifiquem o abandono dos planos de construção das novas ciclovias. “De um lado há avanços. Mas, de outro, claras sinalizações de que a pauta não só não é prioridade, como ela vai ficando para segundo e terceiro plano”, afirma.

Além disso, há preocupação com o fato de que algumas ciclovias que já existiam estão sendo removidas. Um exemplo é a Rua Paulino Camasmie, próxima ao Parque do Ibirapuera, na zona sul da capital paulista. Lá existia uma ciclovia até um processo de recapeamento asfáltico da rua. As obras já acabaram, inclusive com a pintura de faixas de pedestres e sinalização para os pontos de ônibus. Só que a ciclovia desapareceu.

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‘Ótimo, inimigo do bom’

Para o urbanista, ainda há muito a avançar para atingir o que está previsto no Plano de Mobilidade Urbana de São Paulo, criado há 10 anos e ainda vigente. Segundo o plano, criado por meio de um decreto na gestão Fernando Haddad (PT), a malha cicloviária deveria ser de 1.800 km até 2028.

Apesar disso, ele ressalta que, no atual cenário, o que está previsto é uma avanço importante. “Eu aprendi com tempo que, no cenário político das gestões públicas, o ótimo é inimigo do bom. É muito pouco, mas num cenário que poderia não ter nada, é um avanço”, conclui.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo respondeu que as vias recapeadas continuarão contando com as ciclovias. “O recapeamento foi realizado em 15 de abril na Rua Inglês de Souza e a sinalização está em fase de reimplantação. Já na Rua Paulino Camasmie, há uma obra de concessionária no local e a sinalização será refeita pela própria empresa depois de concluída. A cidade de São Paulo tem atualmente a maior malha cicloviária do País, com 767,7 km de extensão, que passa por manutenções constantemente”.