Ciclovias protegidas atraem o dobro de ciclistas, aponta pesquisa

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Ciclovias protegidas atraem o dobro de ciclistas, aponta pesquisa publicada na revista Nature

Por: Patrícia Rodrigues . Há 2 dias

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Mobilidade para quê?

Ciclovias protegidas atraem o dobro de ciclistas, aponta pesquisa publicada na revista Nature

Barreiras físicas incentivam quem deseja pedalar com mais segurança em vias de trânsito intenso; mas custo e decisões políticas ainda são desafios

4 minutos, 54 segundos de leitura

22/07/2025

Ciclovias de SP
Na estrutura protegida da Av. Paulista, grades de metal separam o espaço dos ciclistas das pistas onde circulam os veículos. Foto: Werther Santana/Estadão - 08/04/2020

Investir em ciclovias protegidas, também conhecidas como segregadas, atrai quase o dobro de ciclistas em comparação às ciclovias convencionais. Essa conclusão faz parte da análise de mais de 14 mil quarteirões em 28 cidades norte-americanas ao longo de seis anos e foi apresentada em um artigo publicado recentemente na revista científica Nature pelos pesquisadores Nicholas Ferenchak, da Escola de Engenharia da Universidade do Novo México, e Wesley Marshall, professor de engenharia civil da Universidade do Colorado, em Denver, ambas nos Estados Unidos.
Em qualquer parte do mundo, esse dado só comprova que as infraestruturas cicloviárias separadas do tráfego motorizado por barreiras físicas, como calçadas, meio-fios, vegetação ou estacionamento de veículos, não só “chamam” mais ciclistas como também ajudam a incentivar quem deseja pedalar com segurança em ambiente urbano com trânsito intenso. Isso vale para pessoas de qualquer idade, inclusive para os mais vulneráveis.

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Ciclovias e ciclofaixas crescem no País

Mesmo com o crescimento de 7,3% nas ciclovias e ciclofaixas das capitais brasileiras em 2024, conforme levantamento feito pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), em relação ao período anterior, a quantidade de ciclovias protegidas no País ainda é reduzida. “Como essas estruturas exigem espaço maior, ainda predominam as decisões políticas e comportamentais da sociedade de priorizar o tráfego motorizado”, afirma a arquiteta, urbanista e doutora em mobilidade não motorizada, Maria Ermelina Brosch Malatesta.

De acordo com a especialista, muitas pessoas ainda acham que a solução para resolver os problemas do trânsito nas metrópoles é alargar as ruas. “Infelizmente, elas não aceitam perder área de circulação ou de estacionamento de veículos para a instalação de ciclovias protegidas, mesmo com dados que mostram que um carro ocupa o espaço de três bicicletas”, reforça Maria Ermelina. “Isso sem falar nos benefícios do uso da bike para a questão ambiental e da sustentabilidade, na economia do custo de transporte e na saúde das pessoas”, acrescenta.

Além disso, há outro desafio. Daniel Guth, consultor em políticas públicas de mobilidade urbana, aponta o investimento. “Uma ciclovia convencional custa cerca de R$ 200 mil por quilômetro. A segregada gira entre R$ 2 e R$ 5 milhões por quilômetro, conforme o tratamento necessário para implantar a estrutura”, observa Guth.

Atualmente, a cidade de São Paulo tem a maior estrutura cicloviária do País com 771,7 km de extensão (veja abaixo). Destes, 175,8 km são de ciclovias segregadas. Um bom exemplo é a estrutura instalada na Av. Paulista, separada por grades da faixa de rolamento para veículos.

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Como “chamar” mais ciclistas para as ciclovias de São Paulo

Trazer mais ciclistas para as ciclovias também passa por outras iniciativas. Vários estudos e relatórios da Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos), por exemplo, apontam que a propensão para o uso da bicicleta nos deslocamentos urbanos aumenta quando a infraestrutura cicloviária está próxima de onde as pessoas moram.

“É importante também que as ciclovias ofereçam segurança para todos os níveis e perfil de ciclistas. E não só mirar no homem de meia idade que pedala há mais de 20 anos”, avalia Daniel Guth. De acordo com o especialista o uso da bike poderia ser maior em São Paulo, caso a infraestrutura
oferecida estivesse mais de acordo com as características das vias públicas. “A ciclofaixa da Av. Rebouças é estreita. Na movimentada Rua da Consolação, é comum carros e motos invadirem o espaço dos
ciclistas o tempo todo e ameaçam a integridade física de quem ali pedala”, diz. “O cenário poderia ser outro se houvesse estrutura adequada para garantir a segurança, como ocorre nas avenidas Faria Lima, Paulista e Sumaré e na Rua Domingos de Morais.”
Outra forma de estimular o uso da bike é investir no conceito de rede, com as ciclovias conectadas e integradas aos demais meios de transporte. “A Faria Lima, por exemplo, é um eixo troncal que conecta vários bairros à região e tem alimentadoras como as ciclovias do Ceagesp, da Lapa, da Pedroso de Morais, da ruas dos Pinheiros e Butantã, entre outras”, completa Guth.

A malha cicloviária da cidade de São Paulo

A capital paulista tem a maior malha cicloviária do País, com 771,7 km de extensão, de acordo com dados da Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito (Semtra) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Na cidade a estrutura permanente dedicada aos ciclistas está assim distribuída:

  • 175,8 km de ciclovias, pistas de uso exclusivo de bicicletas e outros ciclos, como triciclos e patinetes, com segregação física do tráfego comum
  • 561,2 km de ciclofaixas, implantadas em parte da pista de rolamento, ao lado da calçada ou do canteiro central sem separação física. As ciclofaixas são destinadas à circulação exclusiva de bikes e outros ciclos, delimitada por sinalização específica (pinturas e tachões)
  • 34,7 km são de ciclorrotas. Elas estão vias com velocidade máxima reduzida, características de volume de tráfego baixo e com sinalização específica, indicando o compartilhamento do espaço viário entre veículos motorizados e bicicletas

Além destes 771,7 km, há as ciclofaixas de lazer. São mais 114 km de vias que funcionam aos domingos e feriados, das 7h às 16h. Elas são ativadas com cones e cavaletes e possibilitam a circulação exclusiva de ciclistas e de outros modais da mobilidade ativa.

Fontes: Semtra/CET/PMSP

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