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Como é a mobilidade urbana em Cuba

Por: Daniela Saragiotto . 19/05/2023
Mobilidade para quê?

Como é a mobilidade urbana em Cuba

A agenda de transportes da ilha, mesmo diante das dificuldades e complexas relações socioeconômicas e político-diplomáticas, segue em frente

3 minutos, 46 segundos de leitura

19/05/2023

Por: Daniela Saragiotto

Eco Táxi de Cuba: triciclo elétrico para transporte de pessoas em Havana
Batizados de Eco Táxis, veículos elétricos fazem o transporte de passageiros em Havana. Foto: Pablo Souza/Arquivo Pessoal

No mês de março, Pablo Souza, diretor de planejamento na Secretaria Municipal de Mobilidade de Salvador (BA), esteve em Cuba a passeio. Durante a viagem, ele teve a oportunidade de vivenciar a cultura e, principalmente, analisar os avanços em mobilidade da capital da ilha, Havana. Leia, a seguir, o relato do que o especialista pôde observar naquele país.

Pablo Souza. Foto: Arquivo Pessoal

“Existem algumas tendências nas estratégias de mobilidade das principais cidades globais. Temas como sustentabilidade, fortalecimento da mobilidade ativa, priorização do transporte coletivo, equidade e igualdade de gênero são destaques nas metrópoles de vanguarda no assunto.

Cuba, país insular localizado no Mar do Caribe e que desperta tanta curiosidade, é parte dessa agenda e das soluções às mitigações e adaptações climáticas mundiais. Para falar da mobilidade sustentável cubana, deve-se contextualizar sua matriz energética. Quem sai do aeroporto para Havana Vieja, centro histórico da ilha, nota navios turcos que abastecem 20% da rede elétrica local via queima de óleo diesel.

Há, também, energia fotovoltaica, mas ela é incipiente, representando menos de 1% da geração total. A infraestrutura energética cubana é precária, e as cidades não têm iluminação adequada. Com a chegada dos navios turcos o governo nacional pretende garantir mais estabilidade na rede elétrica, tornando cada vez menos frequentes os apagões, que deixam locais sem energia algumas horas por dia.

Frota nacional

Apenas em 2014, foi autorizada a importação de automóveis na ilha. Entretanto, boa parte da frota local é composta de veículos americanos fabricados antes de 1959 ou dos tradicionais Lada russos de meados de 1970.

Ainda que o charme desses modelos capture olhares e levem os turistas a um verdadeiro “túnel do tempo”, eles não possuem mecanismos desenvolvidos pela indústria automobilística nos últimos 60 anos, como os que reduzem as emissões de poluentes, entre outros recursos.

Como as relações com a China têm progredido, há forte presença de veículos asiáticos, sobretudo na frota do governo. Parte dos táxis modernos que circulam pelas vias é de propriedade estatal, viabilizada com investimentos públicos, pelo alto custo dos veículos.

Ao se deslocar pelo país, é possível notar iniciativas de cooperação internacional, no segmento energético, com nações como Canadá, China e Turquia, por exemplo. Apesar da ideia de uma Cuba isolada, a 5ª Avenida de Havana, uma das mais importantes do local, abriga várias representações diplomáticas e organizações internacionais atuantes.

Iniciativas contemporâneas

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) apoiam Havana no Programa de Neomovilidad, que promove transformações sustentáveis na mobilidade local com o engajamento de jovens lideranças para alcance dos Objetivos do Milênio, os ODS.

Com esse trabalho colaborativo, os bairros de Fontanar, região ao sul de Havana, foram conectados por 25 triciclos elétricos conduzidos por mulheres que enxergaram no transporte uma oportunidade de integração social. A previsão do governo local é chegar a 52 rotas, no total, com a iniciativa.

Havana, cuja população aproximada é de 2,4 milhões de habitantes, registra 46% dos havaneses se deslocando a pé, seja pelo déficit de atendimento do sistema de transporte ou mesmo pelas frágeis condições econômicas.

Na mobilidade ativa, o destaque fica por conta das bicicletas. Em centros urbanos e até mesmo em estradas, o volume de bikes não passa despercebido. Em janeiro deste ano, teve início o Sistema de Bicicletas Compartilhadas, por meio de licitação vencida por uma empresa privada, criada por jovens universitários desenvolvedores de softwares. Hoje, o programa batizado de Ha’Bici conta com 300 unidades, em toda Havana.

A Fábrica de Artes Cubanas (FAC) é uma antiga planta industrial transformada em espaço multicultural, repleta de jovens cubanos e estrangeiros que lotam o espaço, sobretudo aos fins de semana. Lá, ocorreu o Festival de Bicicletas, promovido pelo Citykletas, coletivo que estimula o uso do modal como parte da solução dos deslocamentos.

Com o apoio da embaixada da Alemanha, ele visa, também, fomentar oportunidades para esse público. A agenda de mobilidade da ilha, mesmo diante das dificuldades e complexas relações socioeconômicas e político-diplomáticas, desenvolve-se de maneira dinâmica e criativa. Os desafios estruturais, a exemplo dos enfrentados na mobilidade urbana, são densos e evidentes, mas, apesar disso, Cuba segue em frente.”

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