Quando pensamos em qualquer carro de corrida, principalmente um de Stock Car, que se assemelha a modelos que vemos circulando pelas ruas e estradas, os assuntos principais sempre giram em torno de potência, torque, aceleração e velocidade final. Dificilmente alguém coloca os freios na conversa; afinal, como amamos velocidade, qual é a graça de diminuí-la?
Um carro da Stock Car Pro Series pesa, no mínimo, 1.385 quilos, de acordo com o regulamento técnico da categoria. As equipes trabalham muito para atingir esse peso e, principalmente, distribuí-lo. O assunto é tão importante que há um boletim técnico para equilíbrio de desempenho entre marcas e modelos, inserido no regulamento da categoria. O chamado lastro de sucesso consiste na adição de peso do primeiro ao sexto colocados no campeonato, exatamente para favorecer a competição entre marcas, pilotos e equipes. Enfim, peso é fundamental no desempenho nas pistas, mas como pará-lo, quando necessário?
Agora, imagine peso em movimento. Aí, a coisa se complica bastante. Lidar com massas em movimento é tarefa para os engenheiros, sempre em busca de desempenho, estabilidade e aderência. Com cerca de 1,4 tonelada e motor de 450 cavalos de potência, um Stock Car chega, rapidamente, aos 240 km/h, Em corrida, já superou os 270 km/h. Na pista infinita de testes, atingiu 296,4 km/h, mas, segundo simulações, pode chegar aos 310 km/h.
O ponto de freada mais crítico entre todas as pistas do calendário é no fim da reta dos boxes do Autódromo de Interlagos, em São Paulo, quando os carros diminuem de 240 km/h para 75 km/h em apenas 200 metros, antes de contornarem o S do Senna. São 165 km/h cortados em apenas 5 segundos. Nesse momento, dissipa-se energia semelhante à necessária para frear uma carreta de 30 toneladas a 50 km/h, os discos atingem 720 graus Celsius, e as pastilhas, 840 graus. A pressão do sistema hidráulico, que faz tudo isso funcionar, chega a 826 libras.
Os carros utilizam freios a disco nas quatro rodas, com discos Fremax e pastilhas de freio Fras-le nacionais, desenvolvidas no Brasil. A empresa do Sul do País aventurou-se no automobilismo no início dos anos 80, dando suporte técnico ao piloto Carlinhos Andrade, de Campo Bom (RS), que disputava corridas regionais com seu GM Chevette. De lá para cá, nunca parou de apoiar o automobilismo, utilizando-o também como plataforma de desenvolvimento de seus produtos. “Nosso entusiasmo pelos esportes a motor vem de toda a beleza e emoção que o automobilismo proporciona, mas, em grande parte, pelo fato de ser um gigantesco e aberto laboratório de testes, que experimenta produtos nas mais variadas e difíceis condições”, declarou o engenheiro de projeto André Brezolin, da Fras-le & Fremax.
Apesar da alta solicitação, os materiais empregados são muito parecidos com aqueles encontrados no mercado de reposição. “Os discos embarcam tecnologias como a Stop And Go, que proporciona assentamento melhor e mais rápido nas pastilhas novas, diminuindo a possibilidade de ruídos, e também a Ready To Go, que dispensa todo o trabalho de limpeza e preparação do disco de freio na hora da instalação e traz uma eficiência maior em relação aos discos convencionais”, completou Brezolin.
São soluções usadas nas pistas e embarcadas nos produtos normais de produção. Outro exemplo é o sistema de ancoragem mecânica do material de fricção sobre a plaqueta das pastilhas da Stock Car, aplicado em pastilhas de veículos comerciais, garantindo maior integridade física e segurança em situações de alta temperatura.
A empresa prevê fornecer 800 jogos de disco de freio e 2 mil jogos de pastilhas entre as dianteiras e traseiras durante toda a temporada 2021 da Stock Car Pro Series, equipando também os carros da Stock Car Light.