Descarbonização passa por recursos vindos do Refrota
Especialistas concordam que linhas de financiamentos são essenciais para promover a redução da pegada de carbono no Brasil
Um dos pilares da eletrificação da frota dos ônibus que compõem o transporte público é o desafio da descarbonização. Não adianta, porém, falar em redução da pegada de carbono sem a oferta de linhas de financiamento para as empresas do setor.
O tema foi discutido no painel “Financiamento para a descarbonização”, no primeiro dia do Parque da Mobilidade Urbana. Todos os especialistas concordam que o governo federal tem papel preponderante com a criação do programa Refrota (renovação de frota do transporte público coletivo urbano).
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Refrota com apoio do governo
Segundo Martha Martorelli, assessora técnica da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, ligada ao Ministério das Cidades, as políticas públicas, como o Refrota, e as devidas orientações para rejuvenescer a frota de ônibus brasileira são atribuições da União.
“Mas é preciso deixar claro que a implementação das medidas é de competência das cidades e dos Estados”, afirma“. “O Refrota tornou-se um programa mais amplo, com a inclusão de veículos elétricos para atender à população dos municípios”.
Ela diz que o papel do governo também é esclarecer sobre a importância da transferência dos modais. “Os usuários precisam estar abertos à mudança de cultura, de usar o transporte coletivo sempre que possível e deixar os carros parados”, afirma.
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Investimentos
Ao ser perguntada pelo mediador Lucas Avelleda, da Urucaia, assessoria da área de mobilidade urbana, Martorelli deu alguns números sobre a demanda por ônibus elétricos com recursos vindos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O volume do Refrota para investimentos era de R$ 33 bilhões até 2026, valor distribuído em novos sistemas e na aquisição de veículos, equipamentos e tecnologia embarcada”, destaca.
A secretaria recebeu 95 pedidos de financiamento, o que somavam R$ 15 bilhões. No entanto, o funil é rigoroso. Depois de uma primeira análise de adequação e pertinência, quatro propostas em desacordo foram descartadas.
“Houve outros filtros, como capacidade de pagamento e uma avaliação do BNDES. No final, 77 solicitações receberam o sinal verde, em um total de R$ 10,6 bilhões. Nessa etapa do Refrota, 61 municípios de 20 estados foram atendidos, com o compromisso de priorizar o transporte público”, revela.
Apoio internacional
O envolvimento de instituições financeiras internacionais também é importante para desfazer possíveis entraves do financiamento. Fabrício Pietrobelli, coordenador de projetos em mobilidade urbana do Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW), conta que a colaboração bilateral com o Brasil abrange ações climáticas e sustentáveis.
“Temos R$ 1,8 milhão alocado para o País para promover projetos de mobilidade”, explica. “Para levar adiante o desenvolvimento urbano sustentável, colocamos em prática acordos e soluções financeiras. Com isso, fazemos chegar os recursos para setores públicos visando a descarbonização.”
Pietrobelli mencionou dois exemplos que tiveram a influência direta do KfW: o veículo sobre trilhos (VLT), do Rio de Janeiro, e trechos do metrô da Bahia. Ambos consumiram um total de 267 milhões de euros e, juntos, transportam 680 mil passageiros por dia.
Cristina Albuquerque, diretora global da World Resources Institute (WRI Brasil), falou do projeto bem-sucedido da Índia. “Eles vêm realizando um trabalho inspirador de descarbonização nos últimos dez anos. Em 2019, com incentivos do governo local, as empresas compraram 5.400 ônibus elétricos para servir cinco cidades”, salienta.
De acordo com Albuquerque, a ideia da Índia é ter nas ruas 800 mil veículos movidos a bateria até 2030, número que representa um terço dos ônibus urbanos do país. “São modelos urbanos, intermunicipais e até escolares”, diz.
Ela adverte: “Embora o usuário prefira o conforto dos ônibus elétricos, que não apresentam ruído e vibração, é preciso melhorar os serviços e garantir a integração com outros modais, o que leva à descarbonização e, inclusive, economia com gastos relativos à saúde”, atesta.
Modelo de negócio no Brasil
Carlos Eduardo Souza, responsável pela área e-city da Enel X, fala da importância do modelo de financiamento que se quer no Brasil para fomentar a descarbonização. “Os ônibus elétricos entram no pacote de prestação de serviço e os financiamentos devem abraçar todos os quesitos, inclusive a infraestrutura de recarga”, defende.
Ele acredita que os operadores ainda estão longe do acesso às linhas de crédito competitivas. Como a infraestrutura é vital para a descarbonização brasileira, Souza revela que a criação de hubs de recarga é capaz de otimizar o trabalho dos operadores.
“As recargas de oportunidades, feitas nos hubs ao longo do dia, são mais eficientes que a operação executada nas garagens, no fim da jornada”, ressalta.
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