Pesquisa revela também que a maior parte da população preta se desloca de ônibus
O automóvel é o meio de transporte mais utilizado pelo brasileiro no deslocamento para o trabalho, de acordo com pesquisa divulgada na quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, o carro é usado por 32,3% dos trabalhadores, seguido por ônibus (21,4%), a pé (17,8%) e por motocicleta (16,4%). O estudo considerou 76,6 milhões de pessoas ou 88,4% da população, o total de brasileiros ocupados.
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Os números tiveram como ponto de partida o Censo 2022, divulgado pelo IBGE em abril deste ano. De acordo com Glaucia Pereira, pesquisadora e fundadora do Instituto de Pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana, o censo tem dois questionários: um feito para a população em geral e o outro para até 5% dela, uma pesquisa amostral.
“É a primeira vez que foram incluídas perguntas sobre deslocamento da população para o trabalho, o que é muito positivo. Dessa forma, temos uma visão geral de todas as cidades do Brasil, das com 5 mil habitantes, passando pelas médias e grandes, e não apenas das grandes metrópoles”, explica.
Batizada de Censo 2022: Deslocamentos para trabalho e para estudo – resultados preliminares da amostra, a pesquisa, de acordo com o IBGE, trouxe um panorama das características da mobilidade das pessoas com 10 anos ou mais que precisam se deslocar para exercer seu trabalho ou estudar.
“As informações são fundamentais para o planejamento urbano em diferentes níveis territoriais, fornecendo indicadores seguros relacionados à integração funcional entre localidades. São, portanto, estatísticas que podem contribuir para melhorar a qualidade de vida da sociedade”, destaca Mauro Sergio Pinheiro, analista da pesquisa do IBGE.
De acordo com Glaucia Pereira, não surpreende o fato de o automóvel ser o principal modal dos brasileiros para o trabalho. “A maioria das cidades do Brasil não tem transporte sobre trilhos e o transporte coletivo é muito ruim”, diz.
A pesquisadora explica que cidades de 500 mil a 1 milhão de habitantes, como Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), não contam como transporte metroferroviário. Belo Horizonte (MG) tem apenas uma linha de metrô, enquanto municípios da Baixada Fluminense (RJ) são servidos por trens muito ruins.
“No Rio de Janeiro, a cobertura do metrô é muito pequena. Em Brasília (DF) há apenas duas linhas, e em várias cidades, como Salvador (BA), o transporte metroferroviário não chega na periferia. Então, o que vemos é realmente o carro sendo mais utilizado no deslocamento diário”, afirma Glaucia.
Glaucia mostra que quanto mais alto é o nível de instrução das pessoas ocupadas, aumenta também o uso do automóvel, do trem ou metrô, e do táxi ou assemelhados. Assim, o deslocamento a pé ou por bicicleta perdem participação entre aqueles com graus de instrução mais elevados.
Dessa forma, 59% das pessoas que usam automóvel para ir ao trabalho são brancas, proporção muito superior ao percentual de pardos que utilizam esse meio de transporte (32,9%), o segundo grupo que mais o usa, de acordo com a pesquisa do IBGE.
Já o modal mais usado pela população preta no deslocamento para o trabalho é o ônibus (29,5%). O automóvel, segundo meio de transporte mais expressivo (21,0%), equivalente a 1,7 milhão de pessoas, é semelhante à quantidade de pessoas pretas que se desloca a pé, totalizando 1,6 milhão de pessoas (19,8%).
“Esse dado confirma outras pesquisas de mobilidade, que mostram que em torno de 70% dos domicílios formados por pessoas negras não possuem automóvel. Então, essa população se desloca mais de ônibus, principalmente as mulheres”, finaliza Glaucia.
Fonte Censo 2022: Deslocamentos para trabalho e para estudo – resultados preliminares da amostra/IBGE 2025.