O Brasil ocupa a sexta posição no ranking de países que mais venderam carros em 2022. Foram mais de 1,9 milhão de carros e comerciais leves comercializados no período.
De acordo com o Ministério da Infraestrutura, por meio da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), no último ano, o Brasil possuía 60.459.290 automóveis. Em 2021, eram 59.242.869.
Para Sérgio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper, a estrutura das cidades e a própria distribuição dos espaços é um grande fator para essa relação.
“Com a população morando cada vez mais longe dos trabalhos, a dependência dos carros aumenta”, afirma. Segundo Avelleda, há uma relação direta entre planejamento urbano e a carrodependência.
As estradas de alta velocidade são um exemplo e o principal efeito colateral são os congestionamentos. “Em São Paulo, por exemplo, a construção de vias e grandes marginais, dizem para as pessoas ‘comprem carro que nós temos infraestrutura’, explica.
Outra estrutura como essa são as próprias passarelas. Para o professor Pablo Florentino, do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e membro do Observatório da Mobilidade Salvador, as estruturas elevadas foram elaboradas para manter a fluidez do trânsito. “[São estruturas que] penalizam os idosos, as crianças, as pessoas com dificuldades de mobilidade. As passarelas só geram dificuldade de acessibilidade”, afirma.
Um estudo comparativo entre as cidades de Atlanta, nos Estados Unidos, e Barcelona, na Espanha, realizado pelo Insper, mostra como o aumento do uso de automóveis pode ser prejudicial para o meio ambiente.
Enquanto Atlanta emite, por ano, cerca de 6.9 toneladas de CO², Barcelona não ultrapassa a marca de 1.9 toneladas. Conforme o documento, a principal diferença entre as cidades, com população equivalente a 5 milhões de pessoas, é a distribuição dos veículos.
Em Atlanta, 77% dos veículos em circulação são automóveis individuais. Apenas 3% são de transporte público. A cidade espanhola, por outro lado, tem 20% de automóveis e 33% de transporte público.
Do ponto de vista do planejamento urbano, a solução para Sérgio Avelleda é multiplicar a localidade econômica. De acordo com o coordenador, a concentração dos empregos em regiões afastadas dos espaços de moradia, obriga a população a fazer grandes locomoções. “Uma alternativa é incentivar a moradia de interesse social nos bairros onde estão os empregos”, explica.
Em segundo lugar, valorizar o transporte publico. “[Com] a melhoria e barateamento, reduzir os custos, construindo mais faixas exclusivas, tirando espaço do automóvel para o espaço publico, assim as pessoas poderão trocar o carro por transporte publico”, afirma. Para ele, essa é uma forma de gerenciar o espaço público entre os modais.
“Por fim, ampliar a infraestrutura de mobilidade ativa, melhorar as calçadas, ampliar a rede cicloviária, oferece mais opções de caminho para as pessoas”, comenta. Apenas em São Paulo, cerca de 30% das viagens são feitas à pé.