Dia da Consciência Negra: mobilidade urbana reflete desigualdade social brasileira

Dados da SPTrans apontam que aproximadamente 70% das pessoas que usam transporte por ônibus são negras. Foto: Getty Images

Há 3h - Tempo de leitura: 2 minutos, 16 segundos

Como espelho da sociedade brasileira, a mobilidade ou o ato de ir e vir, também reflete suas muitas desigualdades. “São várias questões, para além da desigualdade de renda, que vão fazer com que pessoas negras e pardas experimentem uma mobilidade diferente”, diz Glaucia Pereira, pesquisadora na área e fundadora do Instituto de pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana.

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Maioria entre os usuários de transporte público, as pessoas negras são minoria entre os proprietários de carros. De acordo com estudo da Multiplicidade, 70% das famílias negras paulistas não tem automóvel, e isso assume uma relevância ainda maior em uma sociedade que é voltada para esse modal, realidade que se repete em todo o território nacional.

“Então, se nosas políticas públicas privilegiam o automóvel, elas não estão privilegiando pessoas negras e sim as pessoas brancas”, diz Glaucia. Da mesma forma, ela explica que quando uma gestão municipal opta por não investir em medidas que visam fluidez do transporte público como corredores de ônibus, por exemplo, a população negra é prejudicada de forma desproporcional.

A questão da tarifa também tem impacto maior nessa população, que, de maneira geral ganha menos que as pessoas brancas. “Uma tarifa de R$ 5 é muito mais cara, proporcionalmente, para essas pessoas, que são justamente as que mais precisam. Então, benefícios como a Tarifa Zero de fato melhoram a vida dessa população”, diz.

Caminhos para uma mobilidade mais justa

Para a especialista, encontrar soluções para o problema passa por um entendimento pela sociedade de que as pessoas não são iguais. “Apesar da legislação dizer que somos todos iguais, na prática essa essa igualdade não não é realizada. Então, precisamos ter políticas públicas que façam esses recortes, como já ocorre com políticas que já fazem isso na questão do gênero”, acredita Glaucia.

De acordo com ela, as decisões de gestão das cidades precisam levar em conta como é o dia a dia dessas pessoas, para onde elas se deslocam, por quais modais, em quais horários, quanto tempo levam nesses deslocamentos entre outros aspectos, para que as decisões importantes das cidades, como investimentos em infraestrutura, alocação de linhas de ônibus, de trens, de metrô ou mesmo de estruturas cicloviárias atendam essas pessoas.

“Precisamos de políticas públicas voltadas para essa realidade e elas precisam estar claras dentro do plano de metas das cidades, para que as cidades não reflitam mais essas desigualdades”, finaliza Glaucia.