Dilatação térmica.: por que um trem descarrilou devido ao calor

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Dilatação térmica: saiba porquê um trem no RJ descarrilou devido ao forte calor

Por: Luis Antonio Souza . Há 1 dia atras
Mobilidade para quê?

Dilatação térmica: saiba porquê um trem no RJ descarrilou devido ao forte calor

Especialistas explicam as causas que podem fazer com que um trem saia dos trilhos em razão das altas temperaturas

4 minutos, 56 segundos de leitura

07/03/2025

Flambagem nos trilhos devido à ação da dilatação térmica.
O forte calor pode fazer um trem descarrilar devido à dilatação térmica dos trilhos, o que gera o fenômeno da flambagem. Foto: Adobe Stock

A dilatação térmica do ramal de Guapimirim, da Supervia, fez um trem de passageiros descarrilar e tombar, na região de Magé, no Rio, em 20 de fevereiro. O incidente, que não teve feridos, gerou comentários de espanto e curiosidade nas páginas de notícias locais pelas redes sociais.

A explicação é simples. Na semana do incidente, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) previu a terceira onda de calor do ano, com a máxima de 40 graus. O desconforto térmico que se aproximara gerou um alerta máximo das autoridades à população sobre cuidados com a saúde. 

Contudo, o aquecimento expôs um problema estrutural da via por impactar a segurança de todos os usuários. Mas como este fenômeno pode comprometer o transporte sobre trilhos?

Leia também: Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda: por que os trilhos foram pintados de branco?

O que é dilatação térmica?

Se você já teve um portão de ferro e, pela exposição ao Sol, enfrentou dificuldades para abrir ou fechá-lo porque estava emperrado, é um efeito da dilatação térmica. É o que diz Antônio Lorena, professor de física graduado pela UFPE (Universidade Federal do Pernambuco) e pós-graduado em Gestão Escolar pela USP. 

Na região de Magé, na Baixada Fluminense, o trem sentido Guapimirim, da Supervia, tombou e descarrilou devido à dilatação térmica nos trilhos. Foto: Reprodução via Instagram/@diario.do.transporte

“A maioria dos trilhos usados no Brasil são de aço. Quando aquecido, assim como qualquer outro metal, ele tende a se expandir”, destaca o professor.

Nas malhas ferroviárias, ainda é comum ter na via permanente (a estrada por onde o trem passa) um espaçamento entre um trilho e outro, com placas fixadas em suas laterais, chamado de junta de dilatação. 

Essa ‘margem de segurança’ evita que o material, por ficar exposto às condições climáticas extremas, não dilate ao ponto de provocar o entortamento da via, chamada de flambagem.

No entanto, a hipótese do professor de física é que os engenheiros não imaginavam uma temperatura inesperada na via férrea. “ O cálculo para esse espaçamento não considerou os 71 graus. Ninguém imaginou que chegaria a 71 graus, nem os engenheiros daquela região”, conclui Lorena.

O trecho afetado voltou à normalidade no dia seguinte, em 21 de fevereiro, após os técnicos realizarem as manutenções necessárias.

Solução simples, resultado eficaz

A equipe de manutenção da ViaMobilidade, que opera as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, temia a ação da flambagem em 35 km de pontos monitorados há um certo tempo. No entanto, a concessionária estava em busca de alguma solução eficaz em um curto espaço de tempo.

”Para esse efeito do aumento de temperatura, pesquisamos os países da Europa que também sofrem com essa questão de oscilação […] e descobrimos que já utilizam essa técnica de pintura no trilho“, diz o gerente-executivo de manutenção da ViaMobilidade, Alan Santana.

Trilhos pintados de branco nas linhas 8 e 9 - ViaMobilidade.
Picape improvisada aplica tinta branca nas vias das linhas 8 e 9 – ViaMobilidade. Foto: Divulgação/ViaMobilidade

O método, testado pela empresa austríaca OBB, reduziu a temperatura nos trilhos em até 6 graus. Primeiramente, a ViaMobilidade testou com uma via de trilhos paralelos. O trilho que não estava pintado tinha 60 graus; o outro, pintado de branco, tinha 54 graus.

Porém, o maior desafio da companhia foi a implementação. Foi aí que eles adaptaram uma picape que andasse não só no asfalto, mas nos trilhos.

“Conseguimos desenvolver todo o sistema de pintura com bicos injetores para pintar os 35 km de trilhos com esse veículo, que roda até 20 km por hora”, explica Santana.

Ainda mais, a técnica também é utilizada em telhados e já foi testada, em 2017, nas ruas de Los Angeles (EUA), chamada de ‘cool paviment’, que significa em inglês ‘pavimento fresco’.

Outras possíveis medidas

A ação realizada pela ViaMobilidade é uma das diversas formas para evitar novos eventos adversos. Mas para os especialistas ouvidos pelo Mobilidade Estadão aplicar medidas preventivas nos trilhos, o treinamento de profissionais e campanhas educativas com os usuários são outras medidas que contribuem para o transporte seguro.

O presidente da AEAMESP (Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô), Luis Kolle, disse que seria leviano apontar uma falha da Supervia, pois as companhias se comprometem com a segurança dos usuários e de seus colaboradores fazem manutenções preventivas (ações programadas de prevenção), preditivas (quando o problema é identificado e atua de imediato para corrigi-lo) e corretivas (a pós-manutenção).

“Se faz a preventiva, a programada, e estipula um prazo, você percebe quando um trilho dá problema. Mas, no momento de uma onda de calor, tem que estar atento aos indicativos do equipamento, no caso, os trilhos”, explica.

O presidente da associação também destaca que a dilatação térmica não acontece de uma hora para outra. Porém, a empresa precisa investir na capacitação dos profissionais, como os operadores de trem e os técnicos de manutenção, para identificar quaisquer anormalidades nas vias.

Para Antônio Lorena, as empresas podem atuar com ações educativas que combinem informações sobre um evento adverso com o uso consciente do serviço pela sociedade.

“Vamos dizer que estamos sofrendo forte ondas de calor. Exemplo: hidrate-se e preste atenção neste fenômeno. Acho que precisam ter essas ações atreladas e de fazer as pessoas entenderem porque estão fazendo aquilo. Se as pessoas não entendem, elas não são compradas de que aquilo é bom,” aconselha.

O que diz a Supervia?

Durante a produção desta matéria questionamos a Supervia sobre quais medidas a empresa tomará após o caso, e até o momento, não obtivemos resposta.

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