‘Uber da quebrada’: o app que atende a Brasilândia
O aplicativo jaUbra, criado há seis anos, atende toda a população de bairros como Brasilândia, zona norte da capital paulista, e arredores
3 minutos, 59 segundos de leitura
17/02/2020
Por: Daniela Saragiotto
Quem costuma usar os aplicativos de transporte mais conhecidos do mercado já deve ter passado pela situação de ter sua corrida recusada por causa da origem ou do destino informados. Isso ocorre porque muitos apps consideram diversas regiões das capitais como áreas de risco. O bairro da Brasilândia, zona norte da capital paulista, local de residência de cerca de 270 mil habitantes, de acordo com o IBGE, é uma delas.
Conhecendo bem essa realidade – como morador do bairro e motorista de aplicativo –, Alvimar da Silva resolveu, há seis anos, criar uma empresa de transporte que atendesse a população do bairro impedida de usar um serviço desse tipo. “Enxergamos uma oportunidade de negócio e também um trabalho que visa muito mais do que o lucro, que ajuda as pessoas em situações diversas”, conta Aline Landim de Sousa Silva, 30 anos, filha de Alvimar e cofundadora do app hoje conhecido como jaUbra.
Quando tudo começou
O aplicativo nasceu com o nome de Ubra, sigla para União da Brasilândia, e mudou recentemente para jaUbra em virtude de um reposicionamento da marca da empresa. Aline, que está desde o começo – ela era bancária e resolveu deixar seu trabalho para ajudar o pai –, conta que a startup foi criada como uma cooperativa que reunia cerca de trinta motoristas da região, para atendimento principalmente de pessoas das diversas comunidades que compõem a Brasilândia. Com o aporte de US$ 6 mil recebido em 2018 por meio da Ford Fund Lab e pela Artemisia, decorrente de um programa que reconheceu empresas inovadoras do Brasil com impacto em mobilidade, os empreendedores tiveram a consultoria de uma aceleradora.
“Recebemos toda a orientação para errar menos”, brinca Aline. No começo, explica ela, quando estavam sozinhos, tomaram algumas decisões que se mostraram incorretas. Uma delas foi com relação à plataforma tecnológica escolhida. “Em outubro do ano passado, depois de muito trabalho, lançamos nosso novo aplicativo, resultado de uma migração porque o antigo app não estava mais atendendo o que precisávamos. Foi um processo muito desgastante, mas necessário”, conta ela.
Um novo momento
Hoje a empresa tem 130 motoristas cadastrados e faz em torno de 5 mil corridas por mês tendo como origem o bairro da Brasilândia e arredores. O destino pode ser qualquer ponto da cidade. Por causa do perfil de algumas pessoas da comunidade, a jaUbra ainda atende via WhatsApp e por telefone, também com agendamento de corridas, um serviço que demanda uma central de atendimento, que responde por 1.500 corridas por mês do total. Atualmente, o aplicativo está disponível apenas para o sistema operacional Android, mas já está sendo aperfeiçoado para rodar também em iOS. A empresa estuda começar a atender outras regiões periféricas da cidade de São Paulo.
Com a palavra, os usuários
Aline conta que só entendeu o quanto a mobilidade é importante para as pessoas ao ouvir relatos de alguns de seus clientes. “Uma mulher um dia nos agradeceu porque disse que seu filho, com deficiência, só voltou a fazer fisioterapia e a ter melhoras por conta dos nossos serviços. É sempre muito emocionante ouvir histórias desse tipo”, diz a cofundadora da jaUbra.
Ela diz que é comum as pessoas chamarem ambulância e os motoristas não encontrarem o destino por causa da numeração da periferia. “Sabemos que alguns lugares são difíceis de encontrar e de acessar, como vielas, casas com números confusos ou sem números. Por isso é importante termos motoristas que moram e conhecem a região. Sempre falamos que, se um carro consegue passar numa rua, nós conseguimos buscar nosso passageiro”, explica.
Opção segura
A fotógrafa Debora Lucia Vieira Alves, moradora do bairro, usa o aplicativo desde que a empresa foi criada. “Não é exagero dizer que o serviço de transporte mudou a vida da população que era dependente dos ônibus. Uso constantemente para trabalhar e uma vez cheguei a usar para ir ao hospital. Além disso, os motoristas são muito atenciosos e educados”, diz.
A administradora de empresas Eliana Barreto, que atualmente trabalha com eventos, também foi uma das primeiras usuárias do serviço. “Antes da jaUbra, os motoristas de outros aplicativos me deixavam no meio do caminho até a minha casa. Várias vezes tive que fazer o resto do caminho andando, muitas vezes de madrugada porque trabalho com carnaval”, afirma ela. Depois que passou a usar o app da Brasilândia, ficou tranquila. “Uso muito e em várias situações, como para pegar pessoas no aeroporto, para entregar fantasias ou mesmo transportar meus filhos. Tenho confiança total nos motoristas”, explica Eliana.
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