Tarifa zero em BH_Faixa no Aglomerado da Serra, em BH, pede ao prefeito “Damião, libera o busão”. Crédito: Minha BH
Os gastos com transporte público consomem até 20% do orçamento mensal das famílias de baixa renda da capital mineira, Belo Horizonte. O dado faz parte de um estudo feito neste mês de outubro pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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Feito para avaliar o impacto da adoção da tarifa zero na cidade, proposto pelo Projeto de Lei 60/2025, que foi reprovado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte no dia 3/10, o estudo mostrou como o transporte público por ônibus impacta no orçamento da população mais pobre.
“As famílias que ganham até meio salário mínimo comprometem cerca de 20% de sua renda. Já para as que ganham até um salário mínimo, o percentual é de cerca de 15% do orçamento com transporte”, explica André Veloso, economista, doutor em economia pelo Cedeplar da UFMG e um dos autores do estudo.
De acordo com ele, somado a esse aspecto está o fato de as pessoas mais pobres usam muito pouco o transporte coletivo justamente pelo custo.
“Uma família que ganha até meio salário mínimo, em média, utiliza o transporte coletivo de quatro a cinco vezes por mês. Ou seja, essas pessoas não só têm a renda represada, como também têm o uso do transporte coletivo – e, portanto, o acesso à cidade, direitos e benefícios – restringido”, completa.
O levantamento utilizou a pesquisa de orçamento familiar realizada pelo IBGE em 2018, sistematizando e comparando os dados com outras cidades e municípios do Brasil. Dessa forma, os valores foram atualizados pela inflação acumulada de 2018 a 2025.
“Essa é a pesquisa sobre renda familiar mais atualizada do Brasil, infelizmente, porque os microdados de renda do Censo de 2022 ainda não estão disponíveis. Então, boa parte do estudo também consistiu em tratar esses dados e torná-los palatáveis para 2025”, explica Veloso.
Como acontece em diversas grandes cidades do Brasil, a população de Belo Horizonte é muito dependente do transporte por ônibus.
“Aqui a política de transporte coletivo por ônibus é extremamente precária, o que torna as opções das pessoas mais limitadas e as deixa mais reféns desse sistema. Assim, são levadas a procurar alternativas igualmente precárias, como Ubermoto, entre outras”, diz o economista.
Outra conclusão do estuso é que cada R$ 1 investido na tarifa zero tem potencial de retorno de R$ 3,89 em gastos e dinamização da economia local, sobretudo no comércio e serviços.
Em algumas faixas de renda, entretanto, como a de até meio salário mínimo, o efeito é ainda maior: cada real investido gera mais de R$ 14 de benefício.
De acordo com o economista, o cálculo de R$ 3,89 demonstra o retorno para a população caso o uso do transporte fosse de 30 vezes por mês. “Considerando que hoje um indivíduo de baixa renda utiliza o transporte apenas cinco vezes por mês, ele passaria a utilizá-lo 60 vezes, e teria um retorno proporcional na renda dele, nesse caso de até 14 vezes. Em média, para a cidade como um todo, esse retorno seria de R$ 3,89”, explica.
Ainda segundo Veloso, a tarifa zero representaria o fim desse cerceamento de direitos causado pela falta de mobilidade. Além disso, a adoção da política representaria um financiamento justo, correto e progressivo do transporte coletivo.
“Ele teria prioridade central na política de mobilidade urbana, contribuindo para combater a poluição, as mudanças climáticas, o aquecimento global, o trânsito, as mortes no trânsito, os engarrafamentos e a desigualdade social”, diz o economista.
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