Segundo quem acompanha o assunto de perto, a criação de um manual com os parâmetros para sinalização de trilhas e rotas de cicloturismo e ciclismo de montanha (MTB), a ser lançado no mês que vem, é o primeiro passo para estabelecer caminhos de execução de projetos para a gestão transparente do uso de recursos públicos, assim como traçar uma trilha de gestão de rotas com base em um contexto nacional, adequando-o também à realidade de cada região.
De acordo com Daniel Guth, diretor executivo da Aliança Bike, o segmento ainda possui deficiências básicas para estruturação dessa atividade, que vão desde a ausência de dados, como o fluxo de ciclistas que frequentam as rotas, até a falta de segurança jurídica para o transporte de bicicletas com o objetivo de chegar a elas. “O ônibus é o segundo modal mais utilizado para atingir um destino de cicloturismo, de acordo com o levantamento do Instituto de Planejamento Estratégico de Transportes e Turismo (Planett)”, revela.
Para ele, o transporte de bike está entre os principais impeditivos para que muitos abracem a prática do cicloturismo – como ter de alugar um carro para acessar as rotas, e até de saber se ela será “aceita” no ônibus. “Cada viação tem uma política própria quanto à exigência de nota fiscal, bike desmontada e acondicionada em caixa, e por aí vai. Começa na insegurança desse transporte, de saber se vai conseguir chegar e, se chegar, se vai conseguir voltar”, resume.
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Além disso, pesa a ausência histórica de qualquer política de fomento da atividade. “Não há incentivo para novas rotas, linhas de financiamento para prefeituras ou consórcio de municípios para poder estabelecer esses circuitos ou organizar sua governança, segurança e qualidade para os usuários e também de cidades se engajando para atender o visitante, promovendo serviços e facilidades para quem está viajando de bicicleta”, complementa o diretor.
Uma política nacional também deve fornecer diretrizes para guiar consórcios de municípios, prefeituras ou associações que coordenam essas rotas para a consolidação das governanças locais do cicloturismo. “Existem muitas boas intenções de rotas, mas bem pouco estruturadas para se manterem”, avalia Guth.
Até existe um esforço inicial enorme de criar uma nova rota ou até de sinalizar, mas não uma estratégia de manutenção ao longo dos anos. “Isso impacta nesse produto de turismo, que não acontece, não tem fluxo de viajantes, não há sinalização porque não nascem com base em um processo minimamente desenhado e organizado”, acrescenta o diretor.
Na prática, além de gestão, divulgação contínua, manutenção, sinalização adequada, conhecimento e envolvimento de grupos especializados para o apoio, é preciso oferecer também aluguel de bikes, entre outras experiências, produtos e serviços associados às rotas para ter, principalmente, uma boa oferta de cicloturismo, com atrativos reais, e ser acessível aos diversos perfis, com vários circuitos – do iniciante, que ainda é a base, no Brasil, de quem só tem um dia para aproveitar a paisagem, ao aventureiro e ao esportista.
Para orientar quem pretende conhecer o Estado de São Paulo com a bike, o governo lançou, no primeiro semestre deste ano, um Guia Temático do Cicloturismo, também em inglês e espanhol, sobre rotas divididas por regiões e/ou cidades, percorridas por trechos ou em sua totalidade.
Para cada uma delas, a obra traz quilometragens, níveis de dificuldade, modalidades recomendadas, site, tempo médio para completá-la, postos de atendimento ao turista e os diferentes terrenos que compõem esses trajetos, além de outras informações valiosas para ciclistas (e praticantes de mountain bike, bike speed, downhill etc.).
Águas da Prata, por exemplo, além de ser muito procurada por ser o único percurso no mundo ao redor de uma caldeira vulcânica, também é o marco zero da famosa rota Caminho da Fé, de São Paulo a Minas Gerais, com mais de 2 mil quilômetros, sendo 400 deles entre as montanhas da Serra da Mantiqueira.
Inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, só no Estado de São Paulo, o percurso do Caminho da Fé tem 318 quilômetros e pode durar de seis a oito dias, passando por várias cidades e movimentando o interior paulista há 19 anos.
O primeiro roteiro (Águas da Prata a Aparecida) deu origem a vários ramais que atualmente se ligam ao principal, idealizado e desenvolvido para dar estrutura aos ciclistas e peregrinos do Santuário Nacional de Aparecida.
Com 259 páginas, baixe o Guia Temático do Cicloturismo.
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