Mobilidade ativa é pouco discutida na COP-30

Buscando sugestões para:


Publicidade

Mobilidade ativa, um dos caminhos para descarbonização dos transportes, é pouco discutida na COP-30

Por: Daniela Saragiotto . Há 3 min
Mobilidade para quê?

Mobilidade ativa, um dos caminhos para descarbonização dos transportes, é pouco discutida na COP-30

Modos de deslocamento limpos como caminhar e pedalar não aparecem como eixos estruturantes das discussões sobre mitigação, adaptação ou financiamento climático do evento, na visão de especialistas

4 minutos, 6 segundos de leitura

17/11/2025

cop-30: Bicicletada da União dos Ciclistas do Brasil. Foto: Jaana Pinheiro
A Bicicletada "Pedalando por Justiça Climática, Equidade e um Futuro Sustentável Possível”, nos dias 14 e 15, chamou atenção para o papel da bicicleta na discussão do clima. Foto: Jaana Pinheiro/UCB

Apesar de sua relevância climática e social, a mobilidade ativa – ou os deslocamentos por meio do esforço físico, como andar a pé, de bicicleta, entre outros meios não motorizados – tem aparecido de forma tímida na programação oficial da COP-30. Essa é a avaliação de alguns especialistas da área consultados pelo Mobilidade Estadão.

Leia também: COP-30: confira 5 fatos que mostram o avanço da descarbonização no setor de transportes

Ruth Costa, conselheira da União de Ciclistas do Brasil (UCB), observa que, na primeira semana do evento, foram realizadas ações pontuais tendo a mobilidade ativa como foco, entre elas a mesa ‘Conexões campus e cidade: universidade, gestão pública e movimento social em aliança por mobilidade ativa e ação climática’, organizada no estande da Educação Superior na Zona Azul, além do painel ‘Mobilidade ativa como solução para cidades sustentáveis e resilientes’, promovido pela Secretaria Nacional de Mobilidade na Zona Verde.

“Ainda assim, o tema não figura como eixo estruturante das discussões sobre mitigação, adaptação ou financiamento climático”, afirma Ruth. Para ela, essa ausência é incoerente e preocupante. “Ignorar os modos ativos de transporte, como caminhar e pedalar, é deixar de lado soluções acessíveis, inclusivas e de baixíssimo carbono, que podem reduzir emissões, desigualdades e custos sociais”, afirma Ruth, que mora em Belém (PA) e acompanha o evento desde o início.

Participantes do evento relatam, também, falta de bicicletários na Zona Verde da COP-30, embora o site do evento afirme que essas estruturas estão localizadas na Av. Senador Lemos, próximo à entrada da Zona Verde. De concreto, há uma estrutura ao ar livre com 60 vagas para bicicleta na entrada na Av. Brigadeiro Protásio, na Zona Azul.

Mobilidade humana para além da COP-30

Renata Falzoni, vereadora pelo PSB e cicloativista, que também está acompanhando de perto as discussões da COP-30, reforça também que temas que fazem parte da mobilidade ativa também não estão tendo protagonismo, ao menos na primeira semana de evento.

“Vi muito pouco sobre mobilidade ativa e quase nada sobre os deslocamentos de última milha e a questão do multimodalismo, que é a combinação entre o caminhar e o pedalar e outros meios de transporte. Não vi nada que fale do resgate da escala humana na mobilidade sendo discutido ou aceito como parte dessa discussão. Só se fala em motor, como diminuir a poluição, energias sustentáveis e outros assuntos relacionados”, afirma.

Para Meli Malatesta, arquiteta, urbanista, mestra e doutora em mobilidade não motorizada, a solução para a crise climática passa pelos modos ativos. “Caminhar e pedalar são os modos mais limpos de transporte que existem. E a bicicleta, se bem cuidada, pode durar uma vida inteira”, diz.

Meli chama a atenção para a ideia, na sua visão equivocada, de que os carros elétricos seriam a solução. “Ainda há várias questões que não foram resolvidas em relação ao impacto ambiental, como o gasto do espaço público destinado à mobilidade urbana, já que o carro elétrico ocupa o mesmo espaço dos demais. E tem o desafio dos congestionamentos e, principalmente, das mortes no trânsito”, afirma.

Para ela, a solução é a combinação entre a mobilidade ativa e o transporte público coletivo. “Seja ele sobre pneus, que pode ter sua frota descarbonizada, ou mesmo sobre trilhos, que já é eletrificada”, diz.

Manifesto na COP-30

A Bicicletada “Pedalando por Justiça Climática, Equidade e um Futuro Sustentável Possível”, é um movimento da periferia que foi para o centro da cidade de Belém nos dias 14 e 15 para chamar atenção para a bicicleta como instrumento de inclusão e seu papel na discussão do clima.

O evento foi organizado pelo Espaço Cultural Ruth Costa, Yellow Zone, pelo coletivo ParáCiclo e a União de Ciclistas do Brasil (UCB), com apoio do Fundação Rosa de Luxemburgo, Instituto Clima e Sociedade (ICS) e parceria do Pedal na Quebrada e a Ciclocidade.

Além de reforçar a necessidade da mobilidade ativa nas discussões, os organizadores o evento entregaram uma carta manifesto às autoridades e negociadores da COP. “Como destaca nosso manifesto, não há transição justa sem investimento público em infraestrutura segura para quem anda a pé e de bicicleta, especialmente nas periferias e territórios historicamente negligenciados”, acredita Ruth.

Para ela, infelizmente, a COP-30 não tem se revelado a oportunidade que se esperava. “Nossa intenção era que a mobilidade ativa fosse reconhecida como vetor fundamental da descarbonização do transporte, integrando políticas de mobilidade sustentável aos planos climáticos nacionais”, finaliza.

Saiba mais: O transporte urbano e a COP-30

De 1 a 5, quanto esse artigo foi útil para você?

0 Comentários


Faça o login