MotoGP: temporada 2024 inicia nova era de combustíveis sustentáveis

Na temporada que começa hoje (8/3), no Catar, determina que motos usem combustíveis com, no mínimo, 40% de origem não fóssil; meta é chegar a 100% em 2027. Foto: DIvulgação/Repsol

08/03/2024 - Tempo de leitura: 4 minutos, 29 segundos

A MotoGP abre a temporada 2024, hoje (8/3), com os treinos para o Grande Prêmio do Catar, que acontece no próximo domingo (10). Além da expectativa quanto ao desempenho do espanhol Marc Marquez, que trocou o time oficial Honda pela equipe satélite Gresini Ducati, a MotoGP inicia em 2024 a era dos combustíveis sustentáveis.

A partir deste ano, todas as categorias da MotoGP usarão combustíveis com, no mínimo, 40% de origem não fóssil. Em 2027, os combustíveis terão de ser 100% de origem não fóssil. O objetivo, de acordo com os organizadores, é criar combustíveis renováveis, que poderão abastecer motos, carros, caminhões, aviões e navios, no futuro.

Isto permitirá reduzir, significativamente, as emissões de gases do efeito de estufa em relação à gasolina derivada de combustíveis fósseis. Da produção à bomba e depois à rua, o ciclo de vida destes combustíveis do futuro visa a neutralidade de carbono. A ideia é que os fornecedores também passem a utilizar energias renováveis na produção dos seus combustíveis.

Espécie de Fórmula 1 das motos, a MotoGP é o campeonato mundial de motovelocidade mais antigo, realizado desde 1949, e importante do mundo. A competição tem quatro categorias: a MotoGP (motos de quatro cilindros de 1000 cc), Moto2 (três cilindros de 765 cc), Moto3 (um cilindro de 250 cc) e MotoE (motos elétricas).

A MotoGP quer servir como uma plataforma global para desenvolver com combustíveis renováveis tanto na indústria de duas rodas como na indústria da mobilidade. Na principal categoria, a MotoGP, cada equipe e fabricante trabalha com um fornecedor de combustível.

Categorias Moto2 e Moto3 também vão usar biocombustível fornecido pela Petronas. Foto: Divulgação/Dorna

Já na Moto2 e Moto3, a companhia de energia malaia Petronas é a única fornecedora. A empresa, inclusive, já apresentou o combustível Petronas Primax Pro-Race M2, formulado com pelo menos 40% de biocombustível não fóssil.

De onde virão os combustíveis da MotoGP?

Embora haja segredos em relação a qual tipo de combustível cada fornecedor irá desenvolver em conjunto as equipes de MotoGP, existem atualmente duas possibilidades. Os combustíveis, criados em laboratório, podem ter componentes provenientes da captura de carbono, ou derivados de resíduos urbanos ou biomassa não alimentar.

Apesar de não revelar qual será o combustível utilizado, a espanhola Repsol, parceira da Honda, afirmou que estuda duas alternativas: combustíveis sintéticos e biocombustíveis avançados.

Os sintéticos, também chamados de e-fuels, usam duas matérias-primas básicas: gás carbônico (CO2), proveniente da atmosfera ou das indústrias, misturado com hidrogênio renovável. Segundo a empresa, isso permitira reduzir a pegada de carbono a quase zero.

Já os biocombustíveis avançados provêm de resíduos de florestas, dejetos de animais e até mesmo do óleo utilizado em frituras. Apesar de já serem uma realidade, os biocombustíveis reduziriam a emissão de carbono em até 90% em relação ao combustível convencional. Entretanto, essa solução também contribuiria com a sustentabilidade por estimular a economia circular.

Das pistas para as ruas

De acordo com a MotoGP, a participação de fabricantes e fornecedores no desenvolvimento de diversos tipos de combustíveis sustentáveis tornaria a tecnologia e o conhecimento mais acessíveis. Facilitando, dessa forma, que a inovação chegasse mais rapidamente aos postos de combustível. Mas como isso poderá afetar a competição e o desempenho das motos da MotoGP?

Bastianini já bateu recordes de volta nos testes da pré-temporada com sua Ducati, abastecida com os combustíveis verdes. Foto: DIvulgação/Ducati

A Repsol, inclusive, já realizou testes com um piloto de MotoGP em novembro de 2022. Na época, com Marc Márquez numa Honda RC213V-S abastecida com biocombustível desenvolvido no laboratório de tecnologia da petrolífera espanhola. “Não notei nenhuma diferença ao usar este combustível, que é o objetivo final – manter um alto nível de desempenho”, resumiu o oito vezes campeão mundial.

Já a Ducati, por exemplo, renovou seu contrato com a Shell, no ano passado. As empresas afirmaram que o desenvolvimento de combustíveis renováveis para a MotoGP foi um fator crucial para renovação da parceria.

“Com certeza fará a diferença”, disse Gigi Dall’Igna, gerente geral da Ducati Corse, divisão de competições da fabricante italiana., sobre os combustíveis sustentáveis. “Teremos mais alguns problemas e um pouco menos de desempenho. O combustível é um pouco mais suscetível ao bloqueio de vapor, então teremos que ter um pouco mais de cuidado. Mas também já o usamos há algum tempo, então eu acho que podemos nos adaptar bem.”, concluiu o chefão da Ducati.

Até agora, porém, não parece que os combustíveis sustentáveis influenciarão negativamente o desempenho das motos na MotoGP 2024. Nos treinos de pré-temporada, realizados em Sepang, na Malásia, e em Losail, no Catar, em fevereiro, os tempos de volta dos pilotos não ficaram abaixo da temporada passada. Pelo contrário. Com a moto do time oficial Ducati, o italiano Enea Bastianini estabeleceu novos recordes de volta no circuito da Malásia, enquanto seu companheiro Francesco Bagnaia liderou em Losail.