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Motos crescem como opção de mobilidade

Por: Arthur Caldeira . 07/09/2020

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Motos crescem como opção de mobilidade

Frota de motocicletas quase dobrou entre 2009 e 2019; número de motociclistas habilitados cresceu 54,3% no período

6 minutos, 54 segundos de leitura

07/09/2020

Por: Arthur Caldeira

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A consultora de vendas Luiza Machado: “Antes, eu demorava 1h30 para ir voltar do trabalho. Agora, são apenas 25 minutos em cada trecho." Foto: Marco Ankosqui

Meio de transporte ágil e econômico, a motocicleta tem ganhado cada vez mais espaço no cenário da mobilidade no Brasil. Nos últimos dez anos, a frota de motocicletas no País praticamente dobrou. Cresceu 91,8%, passando de cerca de 15 milhões em 2009 para 28 milhões no ano passado.

A moto virou protagonista da mobilidade urbana no Brasil”, analisa Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo, associação que reúne os fabricantes de motocicletas e bicicletas do País.

O aumento do trânsito nas cidades grandes e médias e a economia de combustível são apontados pelo executivo como alguns dos motivos para o crescimento de 92% na quantidade de motos, scooters e ciclomotores nas ruas e avenidas do Brasil, entre 2009 e 2019.

Além disso, o menor valor de aquisição e o baixo custo de manutenção da motocicleta, quando comparada aos automóveis, também contribuíram para o aumento da frota de duas rodas. “É um veículo que se encaixa perfeitamente na realidade do brasileiro que tem renda baixa”, analisa Fermanian. No ano passado, segundo o IBGE, a renda per capita domiciliar no Brasil foi de R$ 1.439.

Mais motos, mais motociclistas

O número de pessoas habilitadas na categoria “A” também cresceu 53,4% no período, chegando a mais de 33 milhões de motociclistas. A maioria deles, 77%, ainda é do sexo masculino, mas o número de mulheres ao guidão tem aumentado. Em 2011, elas eram 18,8% e, hoje, correspondem a 23%, somando 7.594.452 mulheres habilitadas a pilotar moto.

Caso de Luiza Machado Ferreira, de 30 anos, que comprou recentemente uma scooter Honda SH 150i, vendida a R$ 13.340, para ir de sua casa ao trabalho com mais agilidade. Habilitada há 12 anos, Luiza estava sem moto, mas planejava comprar uma no final deste ano. Acelerou os planos para evitar aglomeração no transporte público em tempos de pandemia, além de ganhar tempo no dia a dia.

Principal uso é para locomoção

As scooters, espécie de moto na qual o condutor vai sentado e tem câmbio automático, são muito populares em países do Sudeste Asiático, como meio de transporte diário.

As vendas de scooters e os modelos disponíveis no País têm aumentado nos últimos anos, mas esse tipo de moto ainda corresponde a apenas 8,46% das 1.077.234 motocicletas comercializadas no ano passado – sendo que 34% dos consumidores eram mulheres.

O dentista Ricardo Cardoso, 41 anos, estava cansado de ficar parado no trânsito entre seus dois consultórios, um em Diadema e outro no centro de São Bernardo do Campo, ambas as cidades no ABC paulista. “Na Avenida Piraporinha, que liga as duas cidades, tem muito caminhão, ônibus, e sempre pegava trânsito parado. Olhava as motos passando pela janela e pensava: preciso dessa agilidade”, conta ele.

No início do ano passado, Ricardo decidiu comprar uma moto. “O principal motivo foi a mobilidade”, revela. O dentista confirma a estatística da pesquisa, com dados do setor de duas rodas, divulgada no início de setembro pela Abraciclo. De acordo com o estudo, 88% dos compradores de moto em 2019 apontam a locomoção como o principal uso da motocicleta.

O dentista Ricardo Cardoso: “Eu olhava as motos passando pela janela e pensava que precisava dessa agilidade” Foto: Acervo Pessoal.

Ele comemora o ganho de tempo, pois diz que “antes, chegava sempre atrasado” para atender os pacientes; porém, também se surpreendeu com a economia de combustível, que dizia não conhecer.

“Eu medi poucas vezes, mas o consumo sempre foi em torno de 30 km/litro. Só sei que, agora, abasteço duas vezes por mês. Comprei pela agilidade mesmo, mas a economia veio de bônus”, comemora.

Ricardo pilota uma Royal Enfield Continental GT de 535 cm³. Optou pela moto, de maior capacidade, pois também pega a estrada em direção à Araraquara, onde cursa doutorado. “Só uso o carro quando preciso ir ao mercado, carregar alguma coisa ou para sair com a família”, conta ele, que é casado e tem duas filhas.

Outra tendência observada pelos especialistas. “Fazendo um paralelo com outros mercados importantes, como a Europa, onde muita gente tem carro; porém, usa scooter ou moto no dia a dia”, explica Fermanian.

“De ônibus e metrô eu gastava uma hora e meia para ir e voltar da minha casa, no Campo Belo, até o escritório, no Ipiranga. Agora, de moto, levo 25 minutos para chegar em casa e tenho mais tempo para me dedicar a outras coisas”, conta a jovem. Ela destaca também a economia de combustível. Segundo Luiza, sua scooter roda, em média, 40 quilômetros com 1 litro de gasolina.

Faltam motos para vender

Embora o aumento de motos nas ruas na última década seja expressivo, o presidente da Abraciclo acredita que o número poderia ser ainda maior. O setor enfrentou quedas nas vendas desde 2012, mas vinha se recuperando nos últimos dois anos.

A previsão para 2020 também era boa; porém, em função da pandemia, as fábricas, todas localizadas no Polo Industrial de Manaus, paralisaram a produção por cerca de dois meses, o que deve prejudicar o balanço anual.

Segundo Fermanian, a indústria de duas rodas enfrenta uma situação inusitada na retomada da economia. “Temos capacidade produtiva, mas não estamos conseguindo atender à demanda. Devido ao período de paralisação, temos que atender às entregas atrasadas de consórcio, modalidade responsável por um terço das vendas, e também está havendo uma maior procura por motos”, revela.

Apesar da forte queda registrada em abril e maio, a venda de motos tem demonstrado recuperação nos últimos meses e registrou seu melhor resultado do ano no mês passado. Com 95.998 unidades comercializadas, o volume foi maior até que agosto de 2019.

Mais motos que carros

A pesquisa da Abraciclo revela ainda que a relação entre habitante por motocicleta no Brasil também aumentou. Em 2009, esse índice era de uma moto para cada 13 brasileiros. No ano passado, chegou a uma para cada sete habitantes.

Especialistas e executivos de fabricantes acreditam que, pelo perfil do Brasil, o número pode chegar a cinco, como em países asiáticos. “Em dez Estados brasileiros, há mais motos que carros”, diz Fermanian. Em Rondônia, por exemplo, já existe uma moto para cada três habitantes.

Mais motos e scooters em circulação impõem alguns desafios não só à indústria mas também à sociedade como um todo. A maior quantidade de motos se reflete, infelizmente, em mais acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.

Tanto que, neste ano, a Semana Nacional de Trânsito, promovida anualmente pelo Contran entre 18 e 25 de setembro, tem como objetivo abordar a vulnerabilidade de pedestres, ciclistas, motociclistas e pessoas com deficiência, que são os mais expostos a risco.

Segundo o presidente da Abraciclo, tudo parte do processo de habilitação do motociclista, mas também pela conscientização de todos os agentes de trânsito.

“O setor tem buscado o aprimoramento do processo de habilitação, participando de discussões de projetos nas câmaras temáticas dos órgãos competentes”, afirma Marcos Fermanian.

Entretanto, a instabilidade política no Brasil nos últimos anos tem sido uma dificuldade para dar continuidade à mudança na regulamentação do processo de formação de condutores.

Procura por motos aumenta na pandemia

O aumento nas vendas de moto em julho e agosto tem registrado crescimento expressivo, apesar da retração da economia como um todo.

“Estamos acompanhando, desde meados de julho, uma recuperação da demanda por motocicletas, até o momento, em um ritmo mais rápido do que esperávamos. A venda de cotas de consórcio, por exemplo, cresceu 21% em julho, na comparação com o mês anterior”, revela Marcos Paulo Monteiro, gerente-geral de vendas da Honda Motos, que tem 77% de participação no mercado.

Além do aumento nas entregas com motos, o delivery, a procura por uma forma de evitar aglomerações em trens e ônibus pode ajudar a entender o crescimento na demanda por motos em tempos de pandemia. Em diversos países, e em algumas cidades brasileiras, o número de usuários do transporte público tem registrado queda, mesmo após a retomada das atividades.

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