A nova Harley-Davidson Sportster S, que acaba de chegar às lojas no Brasil, é mais do que uma evolução do famoso modelo. Mais recente lançamento da tradicional fabricante norte-americana, a renascida Sportster mostra uma revolução e aponta para o futuro das motos Harley-Davidson, marca que completa 120 anos em 2023.
Equipada com um motor potente, de 121 cavalos, a Sportster S aposta em controles eletrônicos de assistência ao condutor e componentes topo de linha para oferecer “uma nova experiência de pilotagem”, segundo Flavio Villaça, gerente de marketing da Harley-Davidson América Latina.
O discurso do executivo brasileiro ecoa a nova estratégia global da Harley, anunciada em maio de 2020, pelo então nomeado presidente e CEO global da marca, Jochen Zeitz. “Essa Sportster é parte do nosso compromisso de apresentar motocicletas que se alinham com a nossa estratégia de aumentar a atratividade e impulsionar o legado da Harley-Davidson”, declarou Zeitz quando a moto foi apresentada no exterior, em 2021.
O executivo alemão fez fama ao ser nomeado CEO da Puma, em 1993, e conduzir uma reestruturação global da marca de acessórios esportivos, que passava por dificuldades financeiras na época. Agora, Zeitz tenta fazer o mesmo com a fabricante de motos norte-americana.
Conhecido por suas habilidades de “virar o jogo”, Zeitz assumiu o comando da Harley-Davidson, primeiramente, como CEO interino, em fevereiro de 2020. Em maio daquele ano, foi nomeado para o cargo definitivamente. Dois meses depois, anunciou um plano estratégico de cinco anos batizado de Hardwire. O objetivo era reverter os consecutivos resultados financeiros negativos da Harley.
Resumidamente, o plano inclui a priorização de mercados importantes para a marca e foco nas grandes e luxuosas motos da Harley. Além da entrada em novas categorias que fazem sucesso, como a de motos aventureiras, nas quais a marca já fincou o pé com a PanAmerica 1250. A estratégia ainda inclui investimento nos segmentos de peças, acessórios, equipamentos de pilotagem e serviços financeiros do negócio, além de uma nova divisão focada exclusivamente em motocicletas elétricas, a Livewire.
Parte desse plano já pode ser visto nas etiquetas de preço das novas motos Harley-Davidson. A Sportster S, por exemplo, chega às lojas com preço a partir de R$ 125.900, valor elevado até mesmo para motos de alta cilindrada e considerando que a família Sportster sempre foi a porta de entrada às motos da marca norte-americana. Como mostram os últimos registros financeiros da Harley, uma empresa de capital aberto, o plano de recuperação de Zeitz parece estar dando certo.
Com quase 13 mkgf de torque e aceleração brutal, modelo tem tanque pequeno e suspensões com pouco curso para viajar
“Essa é uma Sportster da próxima geração, definida por potência, performance, tecnologia e estilo.” Ainda que parcial, a fala de Jochen Zeitz, CEO da Harley-Davidson, descreve bem a nova Sportster S.
Apesar de manter o nome, que faz sucesso desde 1957, a Sportster S é uma moto nova dos pés à cabeça. Exceto pela arquitetura do motor – com dois cilindros em V –, não herdou nada das antigas Sportster.
Aliás, o próprio motor Revolution Max 1250T, como seu nome denuncia, é uma revolução em se tratando de Harley-Davidson. Criado nessa nova fase, o V2 tem arrefecimento líquido, além de comando de válvulas variável, que garante torque em baixos giros e boa potência em altas rotações. Derivado do motor que estreou na PanAmerica 1250, o propulsor manteve a capacidade cúbica, mas ganhou um novo cabeçote, com válvulas menores, diferentes tempos de abertura e perfis alterados.
As mudanças resultaram em menos potência e torque – 122 cv, em vez dos 152 cv da Pan America, e 12,9 mkgf, contra os 13,1 mkgf da moto aventureira. O câmbio de seis marchas está integrado ao motor e conta com embreagem deslizante. Uma transmissão final por correia denteada, como é tradicional na Harley-Davidson, completa o trem de força da Sportster S.
Apesar de menor torque máximo, a fabricante garante que a nova Sportster S oferece 10% mais “força” em baixos e médios giros. O que pode ser percebido já na primeira acelerada: a Sportster S arranca como se fosse um Mustang, o famoso muscle car americano.
A força é tanta que a Harley adotou modernos sistemas de assistência ao condutor para ajudar a domar essa muscle bike. A Sportster S tem três modos de pilotagem (Road, Sport e Rain), além de uma unidade de medição inercial que controla o sistema ABS otimizado para curvas e o controle de tração sensível à inclinação. Dois controles úteis para evitar derrapagens indesejadas ao girar o acelerador com vontade.
Tudo é controlado por meio da tela TFT redonda de 4”, que também abriga outras funções do aplicativo Harley-Davidson, como navegação. Junto com o novo painel, há diversos recursos modernos, como iluminação toda em LED e novos comandos multifuncionais nos punhos.
Além de ser o coração da nova Harley, o motor faz parte da estrutura do chassi. Com isso, a marca conseguiu reduzir o peso para “apenas” 228 quilos, já com o pequeno tanque de 11,8 litros abastecido. Não é pouco, mas menos do que nas antigas Sportster – como comparação, a Sportster 1200 pesava 256 quilos, cerca de 10% a mais do que a nova geração.
A Harley também adotou freios Brembo e suspensões da grife Showa para reforçar o caráter “esportivo” da Sportster S. Na dianteira, o garfo telescópico invertido tem tubos de 43 mm. Já na traseira, conta com um monoamortecedor fixado à balança tubular. Ambos são totalmente ajustáveis.
As suspensões representam uma evolução na nova Sportster S. Ajudam a contornar curvas com segurança e a dianteira lida bem com o ondulado asfalto paulistano; porém, o pequeno curso na roda traseira (cerca de 5 centímetros) mostra limitações e transfere as imperfeições do piso para o piloto.
O principal problema é que a Harley, ao menos na posição de pilotagem, priorizou o estilo, em detrimento do conforto. Com visual inspirado nas motos de flat track, a Sportster S tem perfil musculoso, reforçado pelos largos pneus. O escapamento de ponteira dupla também se inspiram nas motos “esportivas” da Harley, usadas nas competições nos circuitos ovais de terra.
Mas, como suas pedaleiras são avançadas, o condutor assume uma posição em forma de concha e transfere mais peso para as costas. Pode não ser um problema em passeios curtos no fim de semana, mas deve cansar em trajetos mais longos.
Vale também uma crítica para os largos pneus, mais especificamente o dianteiro. Com 160 mm de largura, deixa a frente pesada e sacrifica a agilidade que existia nas antigas Sportster.
Com a difícil missão de apontar o futuro da Harley-Davidson, a nova Sportster S cumpre sua função. Afinal, mantém o estilo típico das motos da marca – porém, agrega bom desempenho, componentes topo de linha e muita tecnologia.
Claro que as novidades também vieram acompanhadas de uma mudança de preço. Se as antigas Sportster eram os modelos de entrada, o ingresso para se tornar um “harleyro” agora ficou mais caro. O novo modelo parte de R$ 125.900 na cor preta e vai até R$ 128.800 nas cores azul, branco e cinza. Só resta saber se as custosas mudanças serão suficientes para convencer os fãs a desembolsar esse valor e também para atrair novos consumidores à tradicional marca.
Com uma estratégia oposta à do antigo CEO, que planejava aumentar as vendas da Harley, Jochen Zeitz decidiu investir nos nichos em que a marca já faz sucesso, com modelos mais potentes, modernos e, consequentemente, mais caros. Até o momento, a equação parece estar funcionando.
No primeiro trimestre de 2023, a Harley vendeu menos motos em todo o mundo; porém, teve um lucro maior. Entre janeiro e março deste ano, a marca vendeu 39.400 unidades, 12% a menos do que as 45.000 motos comercializadas no mesmo período do ano passado. Apesar da queda nas vendas, o lucro operacional da Motor Company, a divisão de motos, passou de US$ 219 milhões para US$ 336 milhões, um aumento de expressivos 51%.
De acordo com a empresa, a margem de receita operacional da HDMC foi de 21,6%, um aumento de 4,6 pontos, em relação ao ano anterior, pois os preços, o mix de unidades e a produtividade de custos mais do que compensaram a inflação do período.
Motor: 2 cilindros em V, 1.252 cm³
Câmbio: 6 marchas
Transmissão final: Por correia denteada
Potência: 121 cv a 7.500 rpm
Torque: 12,96 mkgf a 6.000 rpm
Peso em ordem de marcha: 228 kg
Preço: A partir de R$ 125.900