Pesquisa Origem Destino 2025: o checkup de São Paulo

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Pesquisa Origem Destino 2025: o checkup da cidade de São Paulo

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Mobilidade para quê?

Pesquisa Origem Destino 2025: o checkup da cidade de São Paulo

Os números mostram: desenhe a cidade que você quer, e você a terá

4 minutos, 36 segundos de leitura

18/02/2025

Pesuisa Origem Destino Metro de São Paulo Estação Pedro II
Pesquisa Origem Destino revela que o número total de viagens diárias, em todos os modais, diminuiu na capital paulista. Foto: Divulgação Metrô-SP

O leitor e a leitora desta coluna provavelmente já se submeteram a uma completa avaliação de saúde, a fim de antecipar contingentes diagnósticos, permitindo ampliar a eficácia de um eventual tratamento.

A cidade, tal qual nossos corpos, pode ser chamada de organismo vivo e demanda, por vezes, ser examinada para se entender suas patologias e, quem sabe, receber terapêuticas para a melhoria da sua saúde.

Um dos exames mais completos a que se submete uma cidade é a pesquisa Origem Destino (OD), que avalia os deslocamentos da cidade, ou de uma região metropolitana.

Em São Paulo, desde 1967, o Metrô de São Paulo promove essa pesquisa. Ela funciona como uma tomografia computadorizada das artérias da cidade, permitindo identificar a quantidade de viagens, o motivo delas e o modo pelo qual elas são cumpridas.

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Antecipação por conta da pandemia

O Metrô de São Paulo publicou, semana passada, o resultado da “OD”. Ela sempre foi realizada a cada dez anos, ou seja, sempre em ano terminado em 7.

Ocorre que veio a pandemia de covid-19 e tudo, abruptamente, se modificou. Cuidadoso, como sempre, o Metrô decidiu antecipar a “OD” para 2025 a fim de compreender melhor os efeitos da pandemia nos nossos deslocamentos.

Resultados da pesquisa Origem Destino 2025

Quero chamar a atenção para algumas descobertas da pesquisa. A primeira é a de que estamos nos deslocando menos. O número total de viagens diárias reduziu de 42 milhões para 36,5 milhões. 

Reduzir o número de viagens e a distância percorrida é um resultado desejável, se essa redução tiver por causa um planejamento urbano mais racional. Por exemplo: uma hipótese bastante plausível para esse número pode ser o adensamento promovido pelo Plano Diretor de São Paulo de 2015 ao redor dos corredores de transporte de alta capacidade.

Com isso, as pessoas puderam morar mais próximas dos seus locais de trabalho. Contudo, é preciso considerar que essa redução também pode derivar da mudança de hábitos provocada pela pandemia: a popularização do trabalho e educação remotos. 

A segunda revelação é a diminuição do número de viagens no transporte público e o aumento no transporte por carros e motos, assim como diminuíram os deslocamentos a pé. Esse é o dado que deveria tirar o sono dos governantes e de todos nós que precisamos nos deslocar na metrópole.

Em 2007, comemoramos a superação do transporte público sobre o privado. Vamos lembrar o que antecedeu a pesquisa OD de 2007: a criação do Bilhete Único, a integração desse bilhete ao sistema de trilhos.

Pode parecer pouco, mas foi uma revolução no uso do transporte público, na melhoria da sua utilidade e atratividade. A cidade é um organismo vivo: você estimula algo, ela reage de acordo com o estímulo.

A terceira revelação é o crescimento, ainda que tímido, do uso da bicicleta. Esse crescimento é a resposta ao estímulo que veio das ciclovias implantadas a partir de 2010, com a Ciclovia Rio Pinheiros, da CPTM.

O espaço aqui é restrito para debater as causas dessa transferência de viagens do transporte público para o carro e a moto. Podemos intuir alguns fatores: a pandemia. Durante a pandemia as ruas ficaram vazias e houve um medo de contaminação nos espaços públicos fechados.

A conjugação desses dois fatores convidou a adoção do carro ou da moto como o novo normal. Ruas mais vazias diziam aos cidadãos: pode adotar o carro que haverá espaço para você. Não à toa, as cidades brasileiras já enfrentam números de engarrafamentos piores que antes de 2020.

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São Paulo perdeu a janela de oportunidade da pandemia para redesenhar as ruas e priorizar o seu uso pelo transporte público e pelas bicicletas e pedestres. As cidades que fizeram isso alcançam agora resultados espetaculares: Paris já tem mais bicicleta que carros trafegando na cidade. Bogotá segue tenho o transporte coletivo como a âncora da mobilidade urbana.

Apesar da expansão do metrô entre 2007 e 2025 ter sido muito expressiva (inauguramos as linhas 4 (Amarela), 15 (Prata) e ampliamos a Linha 5-Lilás) e as linhas ferroviárias seguem recebendo investimentos na sua modernização e expansão, tal circunstância não foi suficiente para aumentar a atração do transporte público.

Invariavelmente, temos que olhar para o sistema de ônibus da região metropolitana. Infelizmente não estamos conseguindo investir nas oportunidades de melhorias e ainda reduzimos a oferta de viagens.

Um médico olhando para esse exame que foi a OD 2025 deveria prescrever ao paciente, com urgência: acelere os investimentos em corredores de ônibus troncalizados, amplie as integrações com o sistema sobre trilhos, priorize as ruas aos ônibus com faixas exclusivas, unifique a gestão metropolitana dos serviços de mobilidade, promova a imediata integração de tarifas e meios de pagamento e jamais procure economizar reduzindo o número de ônibus aumentando os intervalos de viagens.

Promova a mobilidade ativa. Não comemore recapeamento de ruas, se as melhorias não atingem as calçadas, deixando-as esburacadas e repletas de obstáculos. Não abandone as ciclovias, ao contrário. Os números mostram: desenhe a cidade que você quer, e você terá.

Confira o que pensam outros embaixadores da Mobilidade Estadão

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão

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