O futuro da mobilidade corporativa
Sistema de carsharing oferecido pelas empresas a seus funcionários é uma alternativa que começa a despontar no Brasil, com impacto positivo em toda a sociedade
5 minutos, 40 segundos de leitura
01/09/2021
Por: Por Daniela Saragiotto
Neste mês totalmente dedicado ao tema, o Mobilidade Estadão traz para discussão diversas inovações com potencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Uma delas é o carsharing corporativo, o compartilhamento de veículos por pessoas em seus deslocamentos ao trabalho, um movimento que ainda está tímido no Brasil, mas vem crescendo e que, em vários países, já é realidade.
Um recente estudo do Instituto WRI Brasil, feito em parceria com o Instituto Parar, aponta que um plano eficiente de mobilidade corporativa pode diminuir em até 25% o trânsito em microrregiões, nas quais grandes empresas estão instaladas, impactando também grandes centros que estão no entorno desses locais.
Uma estratégia para gerir a mobilidade é o conceito de carsharing corporativo, iniciativa que registra benefícios tanto para os colaboradores que se utilizam do transporte oferecido pelas empresas como para a sociedade, com ganhos como redução no trânsito e na poluição. Uma das corporações que tem investido nesse sentido é o Itaú Unibanco, por meio do projeto piloto batizado de Vec Itaú.
Nessa etapa inicial, cerca de 700 colaboradores do banco tiveram acesso aos veículos elétricos como o Jaguar I-Pace, o BMW i3 e o JAC iEV40, além do Nissan Leaf. A empresa informa que irá aumentar, gradualmente, o número de colaboradores elegíveis ao serviço ao longo do período de testes, sempre levando em conta o cenário de combate à pandemia e de retorno ao trabalho presencial.
“As cidades estão em constante transformação e a forma como as pessoas se locomovem também segue evoluindo. Acompanhamos de perto as tendências da sociedade e estamos colocando nossa expertise financeira a serviço das pessoas. Nesse modelo de veículos elétricos compartilhados, contamos com parcerias estratégicas com montadoras, distribuidoras de energia, startups e demais players do segmento para agregar valor por meio de uma experiência inovadora, tecnológica, segura e sustentável, além de estimular o mercado de veículos elétricos no Brasil”, explica Silvia Barcik, head do Vec Itaú e embaixadora da Mobilidade do Estadão.
Experiência autônoma
A Joycar, mobitech de carsharing corporativo criada em 2015, é um player que atua nesse segmento, fornecendo o sistema para gestão de frotas pelas empresas. Ela opera em 16 Estados do Brasil com uma tecnologia própria que possibilita aos colaboradores de seus clientes terem acesso a uma plataforma com todos os carros disponibilizados, o que elimina a necessidade de compra ou de aluguel de um veículo para cada pessoa. “Criamos um sistema de locadora digital dentro de cada empresa. Os colaboradores podem reservar e utilizar um carro por meio de uma experiência totalmente digital e autônoma. Além disso, os gestores da frota acompanham tudo em tempo real”, explica Rafael Taube, CEO da startup.
A tecnologia permite diversos controles, como saber quem usou cada automóvel, quando, por quanto tempo, regiões por onde circulou, velocidade dos deslocamentos e qual foi o consumo de combustível. “A implementação da plataforma gera uma melhora significativa no comportamento de quem está atrás do volante. Como o colaborador sabe que outro colega vai usar o carro em seguida, o cuidado também é maior”, afirma Taube.
Mudança de cultura
Atendendo a empresas como Petrobras, Raízen, CPFL, Honda, Hyundai e MRV, Taube conta que a plataforma já possibilitou reduções de 50% nas frotas. “Fechamos um contrato com uma empresa que tinha 400 carros dedicados. Eles devolveram 200 para a locadora e nós ajudamos a criar uma frota compartilhada com a outra metade. Hoje, são mais de 1.500 colaboradores usando esses carros e mais de R$ 7 milhões serão economizados, anualmente”, afirma.
Para o executivo, a disseminação do serviço passa por uma mudança de cultura nas companhias e, especificamente, nas áreas responsáveis pela gestão de pessoas, que ainda valorizam o veículo individual para grupos de colaboradores com cargos mais elevados. “Um dos próximos desafios é aproximar lideranças de RH desse novo conceito. Hoje, ainda temos milhares de carros como benefício para poucos profissionais. Por que não oferecer esses veículos a todos os colaboradores da empresa? É mais democrático e sustentável”, diz.
Ganhos ambientais ainda maiores
Outra empresa que atua nesse segmento é a Ucorp.app, fundada em 2019, mas com o diferencial de trabalhar apenas com elétricos. Atendendo empresas como BMW, Itaú Unibanco (no Projeto Vec Itaú), Jac Motors, EDP, entre outros, a empresa faz a gestão de 30 veículos, atualmente. “Não temos nenhum carro, são todos alugados ou pertencem às frotas dos nossos clientes. Até o final do ano, nossa previsão é de escalar para 200 veículos, no total”, afirma Guilherme Cavalcante, CEO e fundador da empresa e também embaixador da Mobilidade do Estadão.
O sistema é bem simples: os colaboradores das empresas parceiras baixam um aplicativo e, se estiverem autorizados, podem utilizar os veículos. “O usuário paga pelo serviço, usando cartão corporativo ou mesmo pessoal, mas as tarifas para deslocamentos a trabalho são menores, com desconto de até 50%. A devolução dos carros precisa ser feita em bases definidas, como nas sedes das empresas”, explica. Ainda segundo ele, alguns contratos também oferecem a possibilidade de os colaboradores poderem usar o carro nos momentos de lazer.
Impulsionadores do carsharing corporativo
Conheça alguns dos fatores que têm aumentado a procura pelo serviço, atualmente
• Menos congestionamentos: pesquisas diversas, como a feita pelo WRI Brasil em parceria com o Instituto Parar, apontam que um plano eficiente de mobilidade corporativa pode diminuir significativamente o trânsito. A tecnologia para gestão do carsharing permite, também, que um mesmo veículo seja usado por mais de uma pessoa quando os trajetos e horários coincidirem.
• Redução de gastos com combustíveis: para carros a combustão, a diminuição de gastos com combustíveis ocorre em função da readequação do número de carros da frota e do controle de reservas.
• Pauta ESG: o serviço colabora diretamente com uma agenda ambiental e social, na medida em que a redefinição das frotas das empresas diminui a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e de veículos em circulação.
• Impulsionando os elétricos: em São Paulo, a Lei 17.336, em vigor desde março deste ano, obriga os novos empreendimentos comerciais e residenciais a serem entregues com pontos de recarga de energia limpa para veículos elétricos e híbridos, o que pode possibilitar uma expansão de serviços de carsharing, oferecendo ao usuário de elétricos a possibilidade de carregamento em casa.
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