O Brasil é um País com 1,5 milhão de quilômetros de estradas, sendo que nem 10% são pavimentadas. “Temos o desafio da infraestrutura, no que se refere à qualidade das estradas, além de ferrovias e hidrovias, onde temos muita carência. E há uma mudança de hábitos do consumidor, que quer receber produtos e serviços onde está”, avalia Mauricio Lima, sócio diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS).
Diante disso, as empresas precisam repensar seus modelos. As entregas passam a ser pulverizadas com novos desafios logísticos e sistemas de integração.
“O Brasil depende bastante do transporte rodoviário, um dos principais modais do País. Como o PIB tem influência relevante no mercado e com a tendência de recuperação econômica, o cenário é otimista para o segmento de caminhões”, afirma Roberto Cortes, presidente e CEO da MAN Latin America.
De acordo com o executivo, há muito espaço para crescimento. “Um exemplo disso é o agronegócio, que ano após ano traz boas notícias. Sua importância é indiscutível: representa 25% do PIB nacional e é responsável pelo saldo positivo da balança comercial (R$ 96 bilhões em 2017). Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agronegócio brasileiro deverá crescer 2% em relação a 2018.”
Além do agronegócio, que já movimenta as vendas principalmente entre os pesados, a distribuição urbana também demanda a alta no segmento de caminhões médios e leves, que tem registrado aumentos. “As encomendas continuam positivas, com grandes, médias e pequenas empresas intensificando seus estudos para renovação e ampliação de frotas. As projeções da Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores] estimam alta de 15,3% para os licenciamentos de veículos pesados”, comenta Cortes.
Já Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania do Brasil, vê o momento com cautela. “Como o PIB industrial está caindo, todo fluxo de abastecimento e distribuição de alimentos cai também e assim ocorre com as vendas de caminhões maiores. Mas o varejo cresce, e assim crescem as vendas de caminhões leves e médios”, analisa.
Enquanto em 2019 para a Scania há um previsão de alta de 40%, as estimativas para o próximo ano não são muito otimistas. “Estamos tentando adivinhar o que vai acontecer em 2020, se crescer será pouco, a não ser que aconteça algo extraordinário que gere um impulso de vendas”, sugere Munhoz. Nem a agropecuária salva. “A cadeia logística de proteína animal tem demandado mais veículos e o mercado de proteína vegetal, menos.”
A falta de definição sobre a tabela de frete também gera insegurança ao setor. “Ainda não há indicação do que vai acontecer”, comenta Munhoz. “O segmento não tem nenhum tipo de incentivo, mas somos favoráveis ao livre mercado em condições estáveis. O segmento que era muito dependente do Finame [Financiamento de Máquinas e Equipamentos] não desapareceu após o fim do subsídio. Como as taxas de juros caíram, tornou-se viável o CDC. E o mercado sobrevive sem o Finame.”
Do lado de quem consome os caminhões, a percepção é de retração dos mercados. A Braspress, por exemplo, com frota própria de mais de 2 mil caminhões e mais 800 veículos agregados, sente esse reflexo no setor o qual ela tem forte atuação, como de confecções. “Tem ano que a empresa cresce por inércia. Mas 2019 está difícil”, avalia Giuseppe Lumare Júnior, diretor comercial da Braspress.
“Cada ponto de PIB significa uma multiplicação de 3 a 4 para nós. A expectativa nos três primeiros meses do ano era de 3% e nós fazíamos uma projeção de alta da empresa na casa de 12%. Mas isso vem se erodindo no decorrer do ano. Hoje o crescimento projeta algo em torno de 8%. Vivemos um momento de retração, o consumidor segura as suas compras”, analisa.
E como enfrentar esse momento tão delicado? Para Lumare, uma das saídas é a inovação. “Estamos criando novos produtos, de forma a entender as necessidades dos consumidores. A Braspress avança, então, para o segmento B2C. É um segmento que tem poucos ofertantes grandes e muitos médios”, afirma o diretor comercial.
Ele explica que trata-se de um mercado pequeno, mas que cresce a taxas aceleradas. “Para o transportador é um mercado relevante, porque do ponto de vista do frete é bastante significativo. Só os Correios faturam R$ 6 a R$ 7 bilhões com esse mercado”, diz Lumare.