A prefeitura de São Paulo tomou uma medida correta em desistir da ideia de ocupar espaços públicos de pedestres para estacionamento de veículos. A decisão havia sido divulgada no dia 19 de janeiro (confira na matéria publicada pelo Estadão) com o objetivo de aumentar a presença de público no Theatro Municipal de São Paulo em dias de espetáculo — o que, claro, é uma iniciativa que merece elogios.
Segundo a prefeitura, as vagas em cima dos calçadões poderiam ser usadas em dias de apresentações no teatro no período noturno, entre 19h e 2h. Mas voltou atrás posteriormente.
Como todos sabemos, os centros das cidades brasileiras, à noite, não registram atividades comerciais, serviços e lazer. Com isso, o fluxo de pedestres se reduz bastante, o que aumenta a sensação de insegurança e, como em um ciclo vicioso, afasta ainda mais frequentadores potenciais dos espaços culturais lá instalados.
Mas não se pode fazer isso incentivando o uso do transporte individual motorizado e, muito menos, tomando espaços históricos, reservados aos pedestres. A questão é simples. Ou firmamos um compromisso em favor do transporte público e da mobilidade ativa, e somos coerentes com ele, ou não vamos combater as mudanças climáticas nem promover inclusão e democratização do espaço público.
O uso dos calçadões para veículos não irá promover ocupação de pessoas. O motorista simplesmente estaciona seu carro e vai ao teatro. Mas, durante o espetáculo, a rua permanece deserta e, potencialmente, insegura.
No entanto, penso que a prefeitura pode atender ao seu legítimo desejo de estimular com que mais pessoas frequentem o teatro e, ainda, promover a requalificação do centro e incentivar o uso do transporte público e da mobilidade ativa.
O Theatro Municipal fica a seis minutos de distância da Estação República e a três da Anhangabaú, a pé, ambas pertencentes à Linha 2-Vermelha do metrô.
No percurso entre as saídas das estações até a entrada do teatro, a prefeitura poderia, por exemplo, criar um corredor cultural, nos dias de espetáculo, incentivando ambulantes de comidas artesanais, músicos de rua, entre outras atrações, a se apresentarem naquele espaço.
E, ao mesmo tempo, incentivar lojistas a abrir as portas de seus comércios, bares e restaurantes. Além disso, outras medidas poderiam ser colocadas prática para atrair o público, como ações de zeladoria nas ruas e praças, melhorias na iluminação pública e maior presença de agentes da Guarda Civil e da Polícia Militar.
Como cereja do bolo, um acordo entre o Metrô, a Via Mobilidade e o Theatro Municipal poderia resultar em descontos ou incentivos a quem fosse ao teatro de transporte público. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, sob liderança da competente Aline Cardoso, poderia mobilizar ambulantes e food trucks que poderiam expor seus produtos. A Secretaria de Cultura poderia ficar responsável pela curadoria dos artistas de rua. As secretarias das prefeituras regionais e de Infraestrutura providenciariam a requalificação das ruas Barão de Itapetininga e Xavier de Toledo. E à Secretaria Municipal de Segurança Urbana caberia criar uma estratégia de proteção aos transeuntes.
Tenho certeza de que, com algumas dessas medidas, seria possível aumentar a audiência do Theatro Municipal, revitalizar alguns espaços públicos da região central da cidade bem como criar novas oportunidades de renda, estimular comércio local e incentivar o uso do transporte público e da mobilidade ativa. Não tenho dúvida de que um projeto bem estruturado, unindo vários entes públicos, atrairia muito mais gente do que apenas a plateia do teatro. Por que não tentar?