Prêmio destaca as melhores cidades do Brasil para os deslocamentos a pé | Mobilidade Estadão |

Buscando sugestões para:


Publicidade

Prêmio destaca as melhores cidades do Brasil para os deslocamentos a pé

Por: Daniela Saragiotto . 20/09/2023
Meios de Transporte

Prêmio destaca as melhores cidades do Brasil para os deslocamentos a pé

Em sua segunda edição, Cidade Caminhável analisa boas práticas de mobilidade a pé de todas as regiões do País e premia três iniciativas que podem ser facilmente replicadas em outras localidades

6 minutos, 48 segundos de leitura

20/09/2023

Por: Daniela Saragiotto

Ruas de terra e sem sistema de drenagem se transformaram com os novos pisos intertravados e calçadas. Foto: Prefeitura Municipal de Fortaleza

Incentivar a mobilidade ativa, especialmente os deslocamentos a pé nos centros urbanos, é um desafio nacional. Falta de infraestrutura adequada, de segurança e de hábito são alguns dos fatores que dificultam a prática.

Leia também: Obras no Minhocão: prefeitura vai gastar R$ 60 milhões

De acordo com pesquisa divulgada em 8 de agosto, Dia Mundial do Pedestre, conduzida pelo Instituto Caminhabilidade em parceria com a MindMiners, apenas 13,3% das cidades brasileiras estão até 15 minutos a pé de uma instituição de educação, e somente 19,8% delas contam com serviços médicos acessíveis dentro dessa mesma distância.

Assim, para promover boas práticas dos municípios e reconhecer iniciativas que têm melhorado os deslocamentos a pé pela população, há dois anos foi criado o Prêmio Cidade Caminhável, iniciativa do Instituto Caminhabilidade e apoio da Walk 21, instituição internacional que promove a mobilidade ativa.

Asssim, o objetivo da premiação é mapear iniciativas feitas entre 2021 e 2022 pelo poder público nas cidades brasileiras que têm beneficiado as pessoas e a prática. 

“O prêmio valoriza e dá visibilidade a projetos que estão melhorando os deslocamentos a pé no País. São locais que estão encontrando soluções para as pessoas se deslocarem ativamente com baixos investimentos”, explica Leticia Sabino, diretora presidente do Instituto Caminhabilidade.

Outro aspecto importante é mostrar como é possível pressionar por mudanças em seus municípios, como as que privilegiam a apropriação dos espaços públicos pelas pessoas, em detrimento dos automóveis.

Saiba também: Os melhores tênis para quem caminha pela cidade

Saiba mais sobre o prêmio

Nesta edição, foram 32 cases inscritos, de 17 cidades, de sete Estados, de todas as regiões do Brasil. Quatro mulheres, especialistas em mobilidade nas cidades, avaliaram os cases, que se dividiram em três categorias (cidades pequenas, médias e grandes).

E os cases foram avaliados de acordo com os seguintes critérios: caminhabilidade, impacto, participação social, colaboração e inovação. Desse total, três localidades foram as vencedoras (veja abaixo).

De acordo com Letícia, um destaque importante dessa edição é que os municípios inscreveram mais de um case, o que mostra que as práticas estão se multiplicando.

Outro aspecto é que a maior parte dos projetos se localizam em áreas marginalizadas. “Muitos deles são de locais periféricos das cidades, distantes dos principais investimentos e equipamentos, revelando uma visão ampliada da mobilidade”, diz.

Um exemplo é o case de Fortaleza, um dos vencedores, que se trata de uma iniciativa de saneamento básico, mas que a gestão municipal entendeu a necessidade de fazer, também, um projeto de urbanização e de qualificação dos espaços públicos. “Tudo isso favoreceu a mobilidade a pé”, finaliza Leticia. Conheça, abaixo, os cases vencedores.

Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento (Proinfra) – Fortaleza, Ceará

Vencedora na categoria grandes cidades, a capital cearense tem 2,6 milhões de habitantes e é bicampeã, pois já havia se destacado na primeira edição, quando ganhou com o Plano Municipal de Caminhabilidade (PMCFor).

Desta vez, a iniciativa que chamou a atenção foi o Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento (Proinfra), que tem foco na urbanização de vias com a construção de sistema de drenagem, com galerias e bocas de lobo, pavimentação com piso intertravado e novas calçadas. 

“O programa visa a urbanização das áreas mais carentes de infraestrutura da cidade, regiões que cresceram sem o devido planejamento e sem pavimentação. O Proinfra já requalificou mais de 570 vias e a ideia é chegar a 1 mil ruas até o final de 2024”, explica Samuel Dias, secretário de Infraestrutura de Fortaleza.

De acordo com ele, foram empregadas técnicas inovadoras para as obras, como trabalhar nessas áreas sem desapropriações da população, o que evita conflitos e traz soluções mais adequadas pela interação com as pessoas.

Entre os benefícios, Dias menciona acessibilidade, segurança e aquecimento da economia local. “No final, o que temos é praticamente o resgate da dignidade das pessoas que moram nessas áreas. É uma transformação completa da comunidade por conta de obras de infraestrutura”, explica.

O programa já fez mais de 200 km de calçadas, e a expectativa é a de que o Proinfra beneficie mais de 160 mil pessoas. “O investimento total do programa é de R$ 630 milhões, sendo que já foram investidos R$ 515 milhões até o momento.” 

Plano de Bairro Novo Horizonte e Região – Jundiaí, São Paulo

Plantio de árvores e reforma de
calçadas para incentivar as crianças
a irem caminhando até a escola. Foto: Prefeitura Municipal de Jundiaí

Jundiaí, que se tornou, em 2021, região metropolitana, possui em torno de 440 mil habitantes e foi a grande vencedora do prêmio na categoria cidades médias.

O case detalha o trabalho do Departamento de Urbanismo da Unidade de Gestão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente ao desenvolver, de forma participativa, um plano de bairro com foco na infância, estruturado em quatro metas e 31 ações previstas.

“Tivemos participação, inclusive, de crianças, que nos trouxeram suas necessidades”, diz Sylvia Angelini, diretora do departamento de urbanismo da prefeitura de Jundiaí (SP). 

Todo o trabalho nasceu de um grande mapeamento feito junto à população, que teve como objetivo entender, entre os que não se deslocavam a pé, suas principais queixas.

“Identificamos, por exemplo, que apenas 40% das crianças vão a pé para a escola. No entanto, dentre as 60% que não vão caminhando, 1/3 afirmou que iria a pé se as calçadas fossem melhores e se o caminho tivesse sombra”, explica Sylvia.

Esses e outros resultados serviram como base para o plano, que compreende 21 km do chamado percurso da infância, com 15 escolas públicas no trajeto.

“Com essas informações, passamos a ter um critério de priorização para essa região, para implementar melhorias como plantio de árvores, alargamento e reforma de calçadas, melhoria do mobiliário urbano, entre outras, que são comuns a toda a cidade”, explica Sinesio Scarabello Filho, gestor Planejamento Urbano e Meio Ambiente do Município de Jundiaí.

Dessa forma, o plano, que será feito em várias fases pelos próximos quatro anos, prevê o plantio de 1.571 árvores, instalação de rampas de acesso, entre diversas outras melhorias.

Projeto Rua da Gente – Benevides, Pará 

Com pouco mais de 64 mil habitantes, Benevides é um município paraense da região metropolitana de Belém, a capital do Estado, que registra altas temperaturas praticamente o ano todo.

O projeto da cidade foi vencedor na categoria cidades pequenas, e consiste na abertura de ruas para brincar no centro da cidade, todos os sábados e domingos, das 18h às 22h, incluindo um trecho de rodovia estadual.

Assim, de acordo com a prefeitura, por conta do calor, o período esse é o que oferece as melhores condições para que as pessoas saiam ao ar livre.

A iniciativa começou em 2021, motivada por políticas de primeira infância, e culminou na elaboração do Plano Municipal da Primeira Infância.

Ao estimular o brincar livre e a diversão de crianças e adultos, o projeto ‘devolve’ as ruas para as pessoas, fortalecendo a identidade do território local, principalmente por meio do resgate de brincadeiras de rua, o que oferece autonomia e segurança.

“Além do projeto já estar em curso e impactar todas as pessoas da cidade, outro ponto forte é que ele está em processo de se tornar um projeto de lei e, assim, expandir e se consolidar”, diz Gessica Macamo, uma das juradas do prêmio.

Conheça todas as juradas

  • Circe Monteiro, arquiteta e urbanista paranaense, professora da UFPE
  • Gessica Macamo, cientista política moçambicana e diretora executiva do Centro de
    Estudos Urbanos de Moçambique (CeUrbe)
  • Hannah Machado, arquiteta e urbanista paulista, mestre em Gestão e Políticas
    Públicas
  • Taynara Gomes, arquiteta e urbanista paraense, mestre e doutoranda em arquitetura
    e urbanismo, professora da ONG Laboratório da Cidade.

De 1 a 5, quanto esse artigo foi útil para você?

Quer uma navegação personalizada?

Cadastre-se aqui

0 Comentários


Faça o login