Principais argumentos contra e a favor da regulamentação de mototáxis em SP

Os argumentos favoráveis e contrários ao mototáxi esbarram sempre na questão da segurança. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

25/11/2019 - Tempo de leitura: 4 minutos, 42 segundos

Em uma cidade tão complexa quanto São Paulo, com uma frota de 9 milhões de veículos, a liberação dos mototáxis ganha adeptos, mas enfrenta desafios. Os argumentos favoráveis e contrários a essa nova modalidade esbarram sempre na questão da segurança. Enquanto a prefeitura de São Paulo tenta reverter a decisão, o serviço é oferecido por aplicativos, como a empresa colombiana Picap.

“Temos uma cidade grande, com um trânsito pesado e complicado. Nosso serviço tende a ser acionado nos períodos e locais de maior engarrafamento. A área central da cidade é onde temos maior fluxo de pedidos. Nosso aplicativo tem sido visto como uma solução para fugir do trânsito parado e conseguir se locomover de forma mais rápida, ágil e segura”, afirma Diogo Travassos, CEO da Picap.

Ele afirma que na capital possui mais de 40 mil usuários inscritos, sendo 55% homens e 45% mulheres. Entre São Paulo, Rio e Recife, onde o app atua, são 150 mil usuários. Do outro lado, são 3 mil motociclistas cadastrados em São Paulo. Nesta primeira fase, eles ficam com 100% do valor da corrida. “Estamos crescendo 200% por mês, o que demonstra a necessidade de alternativas”, ressalta Travassos.

Favorável, mas com ressalvas

André Garcia, consultor de segurança no trânsito e criador do projeto Motosafe, é a favor da motocicleta como alternativa de mobilidade, mas vê com restrições o serviço dos mototáxis. Para ele não é qualquer tipo de motocicleta que serve para esse tipo de transporte. “A Honda CG, que é a motocicleta mais vendida no país, leva até 160 kg, então não serve para garupa nem para trafegar em rodovia. É de uso urbano, em baixas velocidades”, afirma. O mesmo ocorre com pequenos scooters.

Ele aponta ainda a importância da moto vir com sistema antitravamento ABS nas duas rodas. “A prefeitura precisa regulamentar isso com urgência, proibindo as motos de baixa cilindrada. Ter no mínimo, capacidade de 180, 190 kg e dotada de freios ABS de duplo canal”, sugere.

A pressa é outra questão perigosa. O que se vê em São Paulo são os motociclistas utilizando um corredor entre os carros. “O corredor é necessário, mas o problema é que fazem o uso errado. Deve ser usado de acordo com a velocidade do tráfego, não como vemos hoje”, pondera Garcia.

Luiz Vicente, engenheiro e especialista em Trânsito e Tráfego da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, também concorda que os mototáxis são um meio de transporte com ressalvas. Ele cita a questão da segurança de quem vai conduzir a moto, desde a vestimenta adequada, com jaqueta, bota e luva.  Outro ponto é o capacete: há diferenças de tamanho e quando ele não está firme, na dimensão adequada, não protege. Por isso, ele indica que o garupa leve seu próprio capacete.

“A motocicleta não é o veículo mais indicado para mototáxi. Os scooters são mais apropriados porque têm transmissão automática, sem solavancos e assento mais confortável. Outro ponto é o garupa: se o piloto, numa curva, deitar a moto, o garupa precisa acompanhar esse movimento e não fazer o pêndulo oposto”, avalia Vicente.

Com essas observações, o especialista conclui: “É um transporte que vem agregar, mas é preciso regulamentar.”

‘Mototáxis não!’

Flavio Adura, vice-presidente Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, diz que em uma cidade como São Paulo, de tráfego intenso e lento, o motorista profissional torna-se uma alternativa indispensável para a mobilidade urbana. “Mas mototáxis, não.

A Abramet é contrária desde a lei federal promulgada em 2009. As taxas de mortalidade de motociclistas têm trajetória de aumento. Desde o ano passado, morrem mais motociclistas do que pedestres em São Paulo”, afirma Adura. “Pena que o Tribunal de Justiça se preocupe com o que é inconstitucional, mas não com o que é mortal.”

O médico aponta a vulnerabilidade desse tipo de veículo com consequente exposição ao risco. “A motocicleta confere muito pouca proteção aos ocupantes. Muitas lesões a membros inferiores e superiores, e o mais grave são os traumas na cabeça. O índice de mortalidade por 10 mil veículos é dobro na moto em relação a outros veículos automotores. Em caso de acidente grave, a chance de morrer é de 7%. Na moto é em torno de 70%”, alerta.

Adura ainda cita um estudo da CET que indica que o risco de morrer no trânsito de São Paulo é 17 vezes maior para o ocupante de motocicleta do que os de automóveis.

“A agilidade que proporciona o mototáxi só aumenta a fragilidade. Por isso temos que exigir que os usuários usem as proteções necessárias. O elevado risco exige políticas de treinamento para o condutor e fiscalização”, finaliza Adura.

 Horácio Figueira, especialista em Engenharia de Transportes, não é só contra mototaxistas, como das motocicletas em geral e se baseia na legislação e nos números. A começar pela largura das faixas de rolamento das avenidas, não suficientes para suportar os chamados “corredores” de motociclistas. “Há uma oscilação natural e transversal do veículo dentro da faixa. Além disso, a ultrapassagem tem que ser pela esquerda”, afirma.

Outro problema é a fiscalização. Ele cita que 55% das multas aplicadas por agentes em São Paulo são de rodízio, estacionamento proibido e zona azul. “É preciso mudar o foco. Carro parado não mata ninguém.”