Rodovias que carregam a bateria dos veículos elétricos enquanto eles trafegam, asfaltos com a capacidade de regenerar buracos e irregularidades sem a necessidade de pessoas trabalhando na pista, comunicação personalizada entre veículos, condutores e as estradas e pedágios capazes de cobrar proporcionalmente por trecho percorrido. Quando pensamos em rodovias do futuro, são inúmeras as possiblidades que a tecnologia permite, assim como os recursos para aumentar o conforto e a segurança dos usuários.
Segundo Carlo Andrey Gonçalves, cofundador e COO da Greenpass, algumas dessas tecnologias já podem ser vistas pelo mundo em projetos piloto ou em laboratórios de pesquisa. “Uma empresa de Israel, chamada Electreon, tem feito testes de carregamento de veículos elétricos sem fio em países como Suécia e Alemanha, permitindo que eles sejam recarregados enquanto trafegam”, diz. Gonçalves conta que projetos como o do asfalto regenerativo já vêm sendo trabalhados em diferentes formatos. “Seja para reduzir o tempo dos reparos, seja, até mesmo, para fazer com que as estradas se ‘curem’ sozinhas”, diz.
Outro aspecto é a conectividade, um recurso já disponível em diversos automóveis, mas que demanda uma infraestrutura das estradas para que seja totalmente aproveitado. “Carros conectados serão uma tendência cada vez mais forte, possibilitando pagamento de serviços pela central multimídia, com uso da tecnologia 4G para geolocalização, além da possibilidade de identificar falhas mecânicas”, diz Petrus Moreira, superintendente de produtos B2B e B2B2C da Veloe.
Moreira menciona, também, a tecnologia V2X, que, em linhas gerais, permite que os veículos se comuniquem com as partes móveis do sistema de tráfego. “Por esse recurso, que já existe na Europa e nos EUA, os automóveis geram informações sobre aonde estão circulando e esses dados alimentam uma rede, conectando máquinas, ciclistas, pedestres, para a redução de acidentes e ajudando o trânsito”, diz. O executivo da Greenpass concorda. “Com o desenvolvimento do 4G e 5G, a tendência é que haja uma conectividade cada vez maior nas estradas. Porém, vale reforçar que o Brasil é um País continental e que nossas rodovias são repletas de saídas e acessos, trazendo dificuldades a uma implementação 100% integral, simultaneamente”, diz Gonçalves.
No Brasil, especialistas concordam que a adoção dessas novas tecnologias ainda vai levar um tempo para acontecer. “Temos que resolver o básico por aqui, o que significa construir rodovias cada vez mais seguras, com modelos contratuais que assegurem a inovação constante e a exploração de novos serviços”, afirma o COO da Greenpass. Enquanto esses recursos ainda não estão disponíveis, outros estão mais próximos de se tornarem realidade. É o caso do free flow, ou sistema de pórticos, que permite a cobrança de pedágio com o veículo em movimento. “Essa será uma das grandes inovações para melhorar a experiência dos usuários. Hoje, a cobrança é analógica, paga, muitas vezes, em dinheiro. E ter que desacelerar o veículo causa impacto na segurança”, diz Marco Aurélio de Barcelos, diretor-presidente na Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).
Sua implementação é mais barata que a dos pedágios convencionais. “Isso porque será possível instalar mais pórticos nas rodovias, com cobrança proporcional ao trecho percorrido, o que traz mais equidade nas tarifas”, diz Barcelos. De acordo com o executivo da Veloe, o Brasil já conta com projetos piloto em novas concessões, em fase de testes. “Eles são importantes para entendermos a viabilidade desse tipo de cobrança e o comportamento dos motoristas em relação à inadimplência, um dos principais desafios do free flow”, diz Petrus Moreira.
O Estado de São Paulo já conta com pontos de free flow desde o ano passado, sendo que um dos testes mais recentes se encontra na Ayrton Senna (SP). “Os demais estão nas rodovias sob concessão da Colinas (Campinas), Rota das Bandeiras (Jundiaí) e Renovias (Jaguariúna)”, diz Moreira. Embora a tecnologia venha sendo avaliada, ainda não há previsão para início da operação. “O desafio para implementação é muito menos em relação à tecnologia e mais em função da regulação. Mas o free flow é o caminho”, finaliza o diretor-presidente da ABCR.