Moradores da capital e até mesmo turistas sabem que podem contar com a Av. Paulista, um símbolo da cidade, aberta aos domingos e feriados para pedestres e ciclistas para uma programação de lazer ao ar livre. Batizada de Paulista Aberta, a iniciativa da Prefeitura de São Paulo foi ganhando adesão popular ao longo dos anos e faz parte de um programa chamado Ruas Abertas, que começou com a Av. Paulista, em 2016, e em outubro de 2023 se expandiu para algumas vias do bairro da Liberdade.
Por dois domingos seguidos, entretanto, nos dias 9 e 16 de junho, os frequentadores da Av. Paulista foram pegos de surpresa, encontrando a via aberta para veículos automotores, o que causou aglomerações nas calçadas, além de dúvidas sobre a continuidade dessa política pública.
Na ocasião, a Prefeitura de São Paulo informou que o programa foi suspenso por recomendação da Polícia Militar, por conta de eventos realizados no local nas datas, como a Marcha da Maconha, uma corrida de carrinhos de rolimã e uma manifestação política. Mas abrir a via para automóveis alegando segurança acabou gerando ainda mais questionamentos.
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Procurada pelo Mobilidade Estadão sobre o motivo do fechamento da via, a Subprefeitura Sé informou, por meio de nota, que ‘eventuais alterações no funcionamento regular do Programa Ruas Abertas são divulgadas previamente através dos canais oficiais de comunicação da Pasta, como site, rede social, plataformas comunitárias e o Diário Oficial da Cidade’.
Questionada sobre se há planos para expansão do programa, a nota informa apenas que ‘a Prefeitura também promove o programa Ruas de Lazer, que, de maneira descentralizada, oferece alternativas de lazer, esporte e cultura em mais de 130 vias espalhadas pela cidade’. E continua: ‘para propor melhorias para o programa, a Secretaria Municipal da Casa Civil criou, em março, o Grupo Temático ‘Ruas Abertas #Todospelocentro’, que visa integrar ações entre as secretarias e órgãos municipais para a requalificação e aproveitamento do potencial turístico, cultural e de lazer da região central da cidade’, finaliza.
A interrupção do programa na Av. Paulista para pedestres e ciclistas nos dois domingos de junho acabou levantando outras questões por frequentadores e urbanistas, como o comprometimento da atual gestão com o programa, o fato de o horário de funcionamento ter sido reduzido – atualmente a via fica fechada para carros até 16h, e no passado ficava até 18h – além da iniciativa englobar atualmente apenas duas regiões em uma cidade do tamanho de São Paulo.
“O programa Ruas Abertas já existiu em vias de 29 Subprefeituras da Cidade de São Paulo logo após sua criação, em 2016, sendo muito relevante o fato de as áreas terem sido escolhidas, na época, conjuntamente com a população em audiências públicas”, explica Suzana Leite Nogueira, arquiteta urbanista e especialista em planejamento e projetos de mobilidade ativa.
Suzana explica que o desafio da iniciativa “é o de garantir atividades, realizar o monitoramento do programa e criar políticas locais de incentivo, como estava previsto originalmente, envolvendo as secretarias municipais de Coordenação das Subprefeituras, Transportes, Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo, Cultura, Segurança Urbana, Esportes, além da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e da Agência São Paulo de Desenvolvimento”, complementa.
Ela conta que, na época em que o programa se expandiu, chegou a participar de atividades em diferentes regiões da cidade. “O Rua Aberta do Jardim Peri, localizado na Rua Afonso Lopes Vieira, por exemplo, foi muito simbólico, pois chegou a ter uma elevada frequência de público por um período considerável. Mas assim como outros bem-sucedidos, como o da Av. Sumaré e da Av. Luiz Gomes Cardim Sangirardi, eles acabaram sendo desativados”, explica.
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Para a especialista, é fundamental repensar o programa, levando em conta sua concepção original. “É preciso fazer isso considerando que vivemos numa cidade desigual, com diferentes realidades locais, e o Ruas Abertas é uma oportunidade de qualificar os espaços públicos, podendo favorecer áreas carentes de infraestrutura de lazer, esporte, cultura, além de fomentar a oportunidade de trabalho nestes setores e também dinamizar o comércio local”, afirma.
Para Suzana, a iniciativa representa a democratização dos espaços públicos na cidade, permitindo que as pessoas usufruam do viário para atividades físicas, de lazer e convívio social. “Na Liberdade o programa qualificou o uso e a circulação local, proporcionando espaços mais agradáveis e confortáveis, e reduzindo o conflito de circulação que existia com veículos motorizados nas vias antes da intervenção”, afirma.
Um estudo realizado em 2019 pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB/PROURB/UFRJ) e pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento do Brasil (ITDP), e apoio de outras organizações locais verificou algujns dos efeitos da iniciativa na vitalidade urbana da Av. Paulista.
Os resultados em várias frentes apontam que o programa torna avenida mais atrativa, pois permite que as pessoas façam atividades de lazer ao ar livre, motivando-os a frequentarem outros espaços públicos em seu cotidiano e fomentando a economia do entorno (veja mais resultados no destaque abaixo).
Fonte: Pesquisa LABMOB/PROURB/UFRJ/2019
Programa Ruas Abertas no Centro – SP
Datas: domingos e feriados
Horário: das 9h às 16h
Locais:
1) Avenida Paulista — da Praça do Ciclista até a Praça Oswaldo Cruz
2) Liberdade:
Rua dos Estudantes — entre Avenida da Liberdade e Rua da Glória
Rua Américo de Campos — entre Rua Galvão Bueno e Rua da Glória
Rua Galvão Bueno — entre Rua dos Estudantes e Rua Américo de Campos
Rua dos Aflitos