A Vila de Paranapiacaba, localizada a 30 km do centro de Santo André (SP), é um museu a céu aberto. As casas construídas por imigrantes ingleses que vieram trabalhar na estrada de ferro Santos–Jundiaí, na segunda metade do século 19, o Museu Funicular, os festivais gastronômicos e a Mata Atlântica preservada são alguns dos atrativos que chamam turistas para o local. Mas, além dessas atrações, a vila se destaca no Halloween.
Durante a construção da vila e da ferrovia, no século 19, muitos trabalhadores morreram. Somando as trágicas histórias com a constante neblina que paira sobre a região da Serra do Mar, é possível obter o cenário perfeito para histórias de terror, por exemplo, o trem fantasma, os espíritos dos operários e várias outras.
Nesse Halloween, confira alguns contos do folclore de Paranapiacaba e saiba como a vila une lendas de terror com a sua rica história, que se cruza com a construção das estradas de ferro no Brasil.
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“Na construção da ferrovia houve, de fato, acidentes que tiraram a vida dos operários na época. Isso acabou favorecendo o surgimento de lendas”, conta Gabriel Vianna, fundador da Arterra Turismo, uma empresa de São Paulo que organiza passeios para Paranapiacaba.
Vianna afirma que uma das lendas mais populares na vila é a do Trem Fantasma. “Existe um relógio na antiga estação de trem, uma réplica do Big Bang, de Londres. A lenda diz que, em uma tarde comum, o maquinista observou o relógio pelo espelho retrovisor do trem e confundiu o número 4 em algarismos romanos (IV) com o 6 (VI)”.
“Vendo o horário errado, o maquinista deu a partida. Ao fazer a descida da serra, em um dos túneis houve uma colisão frontal com um trem que estava subindo”, acrescenta o guia de turismo. Ele explica que alguns moradores da cidade afirmam que, em certos trechos, é possível ouvir o barulho de um trem se aproximando, mas o veículo nunca chega. Como se um trem fantasma percorresse eternamente os trilhos, tentando chegar ao seu destino.
O torre do relógio, citada na história, realmente existe. No entanto, o número 4 em algarismos romanos aparece como IIII, em vez do tradicional IV. De acordo com Vianna, os moradores contam que o “erro” foi proposital, com o número trocado após o acidente.
Vianna acredita que os guias de turismo, ao reunirem essas histórias, têm papel de conservação da cultura local. “Essas lendas urbanas são patrimônio da vila e, independentemente de fatos verídicos, é importante colher essas informações dos moradores locais e perpetuar. Porque, quando contamos essas lendas, também falamos sobre o sistema funicular, das ferrovias e da história de Paranapiacaba”, explica.
Este ano, Vianna está organizando o “Halloween: Tour das Lendas” em Paranapiacaba. O passeio será realizado, propositalmente, no Dia de Finados (2 de novembro). Sendo assim, durante a viagem, os visitantes entrarão na Casa do Engenheiro Chefe da Ferrovia, no Museu da Família Ferroviária e conhecerão a lenda do trem fantasma com mais detalhes.
Douglas Borges, um legítimo morador de Paranapiacaba e neto de ferroviários, é fundador da agência de turismo Ser da Mata. O guia conta, com orgulho, que recebeu o título de “contador de lendas oficial da vila” por Dona Francisquinha, sua professora que também se dedicava ao folclore da região.
De acordo com Borges, foi a própria Dona Francisquinha que criou e divulgou outra famosa história na região. “Ela contava que, toda última sexta-feira do mês, o trem chegava à vila repleto de espíritos dos barões e baronesas do café. Ela os recebia na passarela e acompanhava as almas até a casa do engenheiro chefe. Por fim, depois que os fantasmas entravam, ela ouvia música do lado de fora”, conta Borges, já que Dona Francisca morreu e o deixou encarregado de continuar a tradição.
Aproveitando o clima de Halloween, ele também afirma que, nesse túnel, onde os trens teriam se chocado, ao encostar o ouvido nas paredes seria possível ouvir as almas dos passageiros mortos se lamentando. No entanto, o acesso a esse túnel está fechado atualmente. Por isso, o guia não consegue organizar passeios ao local.
O turismo ferroviário de Paranapiacaba não se encerra no Halloween. Sendo assim, os interessados em trens podem encontrar atrações na vila o ano todo. Se ficou curioso, confira algumas das principais atrações e saiba os preços dos passeios.
Museu foi montado na antiga casa do engenheiro chefe da cidade. Localizada no alto de uma colina, o local permite visão completa da vila e do Pátio Ferroviário que fica na região.
Por fim, as visitas podem ocorrer aos finais de semana e feriados, sempre das 10h às 15h30. O preço do ingresso com direito a vista monitorada é de R$ 10.
O Museu Funicular de Paranapiacaba fica na Serra do Mar e apresenta aos visitante como funcionava o sistema funicular, um complexo esquema de engenharia que puxava os vagões com cabos de aço pelos trechos mais acidentados da serra.
O local fica aberto durante os finais de semana e feriados das 10h00 às 16h00. Por fim, os ingressos custam R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia entrada.
O Expresso turístico da CPTM sai aos domingos da Estação Luz às 08h30 e chega em Paranapiacaba às 10h30. Ao custo de R$ 50 por pessoa, o passeio permite que os turistas viagem abordo de um trem fabricado no Brasil na década de 50.
Além das paisagens naturais no caminho e da passagem por estações de trem tombadas como patrimônio histórico (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), o turista pode conhecer a vila de Paranapiacaba e aproveitar a culinária e o ecoturismo local.