Poucos esportes são tão complexos quanto o automobilismo. E poucas atividades esportivas dependem tanto de parceiros especializados. Foi exatamente esse o caso do impressionante acidente sofrido pelo piloto Gaetano Di Mauro na segunda etapa da Stock Car Pro Series, no último domingo (16), em Interlagos (SP). Em uma sequência rara de acontecimentos, o Chevrolet Cruze de Gaetano atingiu simultaneamente a traseira dos carros de Guilherme Salas e Daniel Serra, sendo catapultado ao ar, fato que causou duas colisões: uma contra o solo e outra no muro da última curva do circuito.
Contando o resgate no momento do acidente, atendimento no posto médico do autódromo e transporte, em apenas vinte minutos o piloto já estava em um hospital localizado a 13 quilômetros da pista, em um novo marco para a equipe responsável pela operação na Stock Car.
Na batida, o piloto foi exposto a uma forte desaceleração, tanto no impacto contra o solo quanto no choque contra o muro. Como resultado, Di Mauro ficou desacordado por alguns minutos. Os efeitos foram minimizados pelo projeto do Chevrolet Cruze Stock Car, lançado em 2020, que prevê estruturas de absorção de impacto e deformação visando manter a integridade da célula de sobrevivência – uma espécie de gaiola que protege o piloto.
Absorção de impacto
Segundo a equipe KTF Racing, defendida por Gaetano, a absorção de impacto foi tão eficiente que, apesar das forças envolvidas, o chassi está aparentemente intacto. “Foram afetados apenas componentes projetados para absorção de energia nas batidas, como as suspensões e a estrutura instalada no espaço do porta-malas”, destaca Sergio Troy, engenheiro da equipe. “A confirmação virá das análises estruturais a serem realizadas nos próximos dias”, completa.
Na Stock Car a equipe médica é comandada pelo Dr. Dino Altmann, brasileiro que também ocupa o cargo de presidente da Comissão Médica da FIA, entidade máxima do automobilismo mundial. Com um total de oito médicos traumatologistas, além de sete enfermeiros e uma equipe de resgate composta por doze profissionais treinados que operam quatro veículos especializados, a operação liderada por Altmann segue protocolos de segurança adotados, por exemplo, na Fórmula 1.
Toda essa operação ganhou em 2021 o reforço do Prevent Senior Sports, um centro de medicina desportiva de ponta apoiado em processos de alta tecnologia que insere a Stock no mesmo patamar de categorias importantes do automobilismo internacional no que tange ao cuidado com a saúde dos pilotos. “Iniciativas semelhantes foram levadas a efeito no exterior, mas nada parecido com isso foi feito no automobilismo nacional”, esclarece Álvaro Razuk, diretor-executivo da Prevent Senior responsável pelo projeto.
Entre os incrementos proporcionados pela patrocinadora da Stock está o emprego do helicóptero UTI Airbus EC135, fabricado na Alemanha especialmente para a tarefa. Da decolagem até a chegada ao hospital Sancta Maggiori, em São Paulo, o percurso foi percorrido em apenas três minutos.
Tempo reduzido
“O uso do helicóptero contribuiu muito para a redução do tempo de remoção do piloto até o hospital”, detalha Altmann. “No momento do acidente ficamos preocupados por que o Gaetano estava inconsciente, e isso poderia significar algo mais sério. Felizmente a equipe foi muito ágil tanto no resgate, quanto no diagnóstico inicial e na conclusão do atendimento no Sancta Maggiori. Foi uma operação muito bem sucedida”, destaca o médico-chefe da FIA e da Stock Car.
Gaetano Di Mauro ficou hospitalizado no Sancta Maggiore até a manhã da segunda-feira, apenas para observação. Submetido a uma bateria completa de exames, o piloto não apresentou lesões e, ainda no domingo, postou um vídeo avisando os fãs que passava bem.
Valendo pela terceira etapa, o próximo compromisso da Stock Car Pro Series está agendado para o dia 19 de junho, no Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu (SP).