De acordo com o último dado da PNAD Covid, pesquisa realizada pelo IBGE mensalmente de maio a novembro de 2020, o Brasil possuía 7,3 milhões de trabalhadores em home office (58,3% dos quais na região Sudeste do Brasil), um número que representa 9,1% do total de trabalhadores do País. Apesar da pesquisa ter sido descontinuada, outras sondagens do setor dão conta que o teletrabalho é uma realidade que veio para ficar.0
Visto que 49,8% das viagens motorizadas da cidade de São Paulo acontecem por causa do trabalho (Pesquisa Origem-Destino do Metrô de SP/2017), seria intuitivo então concluir que a problemática de mobilidade tenderia a melhorar nas grandes cidades, uma vez que o trabalho remoto diminui as necessidades de deslocamento. Porém, quando olhamos para as estatísticas da mobilidade nas cidades, temos uma realidade diferente: dados da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU/2020) e da Associação Nacional de Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANP Trilhos/2020) revelam redução da ordem de 70% no volume de passageiros de transportes públicos durante a pandemia.
Em contrapartida, dados do Waze mostram que os alertas de trânsito na cidade de São Paulo totalizaram 13.143 em julho de 2021 contra 7.691 no mesmo período do ano passado e números da CET indicam que, no primeiro semestre de 2021, a média de congestionamento na cidade de São Paulo foi 163% maior quando comparada com o 1º semestre de 2020.
Com base nessas estatísticas vemos que, mesmo com quase 10% dos trabalhadores realizando suas atividades de forma remota, tivemos um esvaziamento dos transportes públicos e um aumento considerável dos congestionamentos. Até agora, a pandemia não provocou uma mudança positiva na mobilidade da cidade, muito pelo contrário: agravou o problema mesmo tendo trazido uma mudança estrutural no volume de pessoas em teletrabalho.
Nesse cenário caótico, que inclusive ainda intensifica a catástrofe climática, é preciso chamar a atenção para a mobilidade corporativa. Ao mesmo tempo em que as empresas são as grandes protagonistas do problema, elas podem facilmente se tornarem as propulsoras da mudança, basta colocarem a mobilidade de seus colaboradores em pauta e mudarem suas políticas internas a fim de estimular a mobilidade ativa, incentivar a mobilidade compartilhada, favorecer escolhas sustentáveis e fomentar o trabalho híbrido.
Os exemplos dos benefícios gerados são muitos: o deslocamento compartilhado é uma ótima forma de criar vínculos e incentivar o networking entre os colaboradores em um período pós isolamento social; a mobilidade ativa constrói saúde para o corpo e para a mente, aumentando a qualidade de vida e a produtividade; uma ação afirmativa que incentive a escolha do etanol traz impacto na redução da poluição associada ao ir e vir dos colaboradores.
Precisamos agir rápido e compreender o papel da mobilidade corporativa dentro das pautas estratégicas. Não podemos achar que esse aumento estrutural do teletrabalho já resolve todas as questões, é preciso olhar para o contexto, para os dados, pensar sobre os trabalhos que vão seguir sendo presencias, sobre os deslocamentos que continuam acontecendo, sobre as pessoas. É necessário termos ousadia e responsabilidade para resolvermos os problemas que nós mesmos estamos intensificando a partir das nossas escolhas institucionais e políticas corporativas.