‘Trem para Campinas terá duas classes com preços entre R$ 50 e R$ 64’, diz diretor da TIC Trens
Federico Andrés, diretor de implantação da TIC Trens, fala como serão os vagões da futura linha e aborda os desafios do projeto, como a “convivência” com uma linha de transporte de carga

O TIC Eixo Norte, trem que vai ligar Campinas à cidade de São Paulo com serviço expresso (64 minutos) e parador, é o primeiro de uma série de projetos do governo estadual de São Paulo para conectar com trens de alta velocidade as principais regiões do Estado. Único com leilão já realizado, a criação do TIC Campinas está a cargo da concessionária TIC Trens, formada pelo Grupo Comporte e pela fabricante chinesa CRRC. Segundo a Secretaria de Parcerias e Investimentos (SPI), do governo do Estado de São Paulo, investimento previsto é de cerca de R$ 14,6 bilhões com a geração de cerca de 10 mil novos empregos diretos e indiretos.
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A empresa também tem o desafio de modernizar a Linha 7-Rubi, atualmente operada pela CPTM, uma das mais defasadas do sistema de transporte de trens urbanos, marcada atualmente pela falta de acessibilidade nas estações, intervalos longos entre as saídas dos veículos e pela ausência de integração com outras linhas. Ela terá, além disso, que construir do zero o Trem Intermunicipal (TIM) Jundiaí-Campinas, com 44 km de extensão.
A operação terá início em novembro deste ano, quando a TIC Trens assume a Linha 7-Rubi. O início das obras de implementação do TIM Campinas-Jundiaí está previsto para maio de 2026, assim como a modernização das estações, uma vez finalizada a fase de estudos. Além disso, o TIM tem previsão de conclusão em 2029, e o TIC Campinas, em 2031.
O diretor de implantação do TIC Trens, Federico Andrés, participa do Summit Mobilidade, na próxima quarta-feira, 28, que vai discutir os novos rumos do transporte sobre trilhos nas grandes cidades. O evento acontecerá, das 8h30 às 18h, no Teatro Bravos (Instituto Tomie Ohtake), em São Paulo. Confira a programação completa e inscreva-se aqui.
Federico Andrés falou com exclusividade ao Mobilidde Estadão sobre os desafios e potencial do novo ramal. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

A TIC Trens inicia, ainda neste ano, a operação da Linha 7-Rubi, que corresponde à maior parte do trajeto do futuro TIC Eixo Norte. Quais mudanças os passageiros que usam a Linha 7-Rubi podem esperar?
Nosso objetivo é, no mínimo, manter a qualidade do serviço que a CPTM presta hoje. Em paralelo existe o desenvolvimento de projeto, que estamos fazendo agora. A ideia é começar as atividades de adequação de estações o quanto antes. Com relação às obras civis, com reformas e construções de novas estações, isso não é de imediato. Deve começar por volta do final de 2026. Com relação às estações da Linha 7, está no nosso escopo melhorias importantes nas estações, principalmente com relação à acessibilidade.
Funciona nesse trecho o Serviço 710, que liga Jundiaí até Rio Grande da Serra, mantendo um fluxo contínuo entre as linhas 7 e 10. Ele será descontinuado em setembro, com o início da operação pela TIC Trens. Reestabelecer esse serviço no futuro é do interesse da empresa? Quais seriam as formas de viabilizar isso?
Hoje, a questão é contratual. Temos uma dificuldade a nível de capacitação. Nosso time está capacitado para operar a Linha 7-Rubi saindo da Barra Funda e não continuando o Serviço 710. Em relação ao interesse, a nível de serviço, existe. No entanto, é uma questão contratual que precisa ser discutida um pouco melhor.
A concessionária precisaria encontrar uma forma, em diálogo com o poder concedente, de viabilizar essa continuidade do Serviço 710, o que até então não foi possível. Hoje, realmente não consigo informar qual seria a chance de termos qualquer tipo de mudança nesse contrato. Com o contrato como ele existe atualmente, a possibilidade de retomar o serviço é quase zero.
Com relação ao TIM, o novo trecho que vai ligar Jundiaí até Campinas, o que já se sabe sobre o ramal?
O TIM realmente é o trecho prioritário, já que temos a previsão de iniciar a operação em 2029. Sobre obras, por enquanto tudo aponta que iremos iniciar no segundo semestre do ano que vem. Estamos caminhando para concluir o projeto básico ainda este ano. Em seguida vem o projeto executivo, no começo do ano que vem, de forma que a gente consiga começar as obras no segundo semestre de 2026, visando a entrada em operação em 2029.
Como está a atual fase de estudos? Houve alguma surpresa no meio do caminho?
Com relação às atividades da Linha 7, há um aspecto crítico que são os pré-requisitos socioambientais. É, hoje, nosso principal desafio, pensando em todas as atividades de adequação das estações, de revitalização de via e tudo mais. Estamos falando de desapropriações e reassentamentos. É a primeira grande barreira que precisamos superar visando o início das obras civis. Com relação às desapropriações, não temos como alterar o fluxo, que é começar pelo desenvolvimento de projeto, e só então iniciar as negociações. Então, quanto antes tivermos o projeto concluído, antes iremos iniciar o processo junto aos distintos órgãos envolvidos nesse processo.
O diretor-presidente da TIC Trens, Pedro Moro, comentou em uma entrevista recente que há um problema com o transporte de cargas, realizado atualmente pela MRS Logística nos trilhos da Linha 7 fora do horário de operação comercial. Como está essa questão?
Com relação à via de carga, existe um trabalho conjunto visando compatibilizar projetos. E, uma vez superada essa etapa, compatibilizar cronogramas. Estamos encarando a implantação da segregação da via de carga como parte do nosso projeto, tanto do TIC como da Linha 7. De forma a evitar, realmente, que essa convivência impacte o nosso prazo.
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Por que a convivência é um problema? Quais estratégias estão sendo discutidas?
Quando falamos em revitalizar a Linha 7, estamos falando de tempo e de trabalho necessários para reconstruir via existente e, no segundo momento, atualizar o sistema. E esse trabalho é feito, normalmente, em horário não operacional. Aí que entra a questão da convivência com o transporte de carga, que funciona, atualmente, nos mesmo trilhos do transporte de passageiros, mas à noite. Há alguns meses estamos trabalhando em um planejamento conjunto entre o time de operação e o time da MRS. Estamos buscando estratégias de forma a viabilizar toda essa revitalização da via e implantação em sistemas sem impactar o serviço prestado.
O grande desafio é encontrar formas de implantar aparatos de mudança de via e trechos de via provisória, para que seja possível desviar o trem e permitir que o trabalho seja feito em paralelo á operação dos trens de carga. O nosso objetivo é comum, o que ajuda, obviamente. Eles vão ganhar capacidade de transporte de cargas, poderão operar em horário comercial, passarão a ter uma via dedicada ou exclusiva.
Em empreendimentos recentes como, por exemplo, o trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, a exploração de imóveis e serviços nas margens das ferrovias e próximos às estações é um ponto importante para viabilizar economicamente os projetos. O que está sendo considerado nesse sentido no TIC Campinas?
No TIC Campinas existe uma oportunidade realmente ímpar. Detalhes sobre o que está sendo pensado ainda estão a nível interno na organização, mas existe, sim, uma preocupação muito grande com toda essa região lindeira. Enxergamos, realmente, que essa implementação do serviço vai trazer uma mudança radical, no qual não tem outra saída a não ser realmente beneficiar os moradores e os usuários desse serviço.
Quais são os trechos que se mais destacam nesse sentido?
Em primeiro lugar, a região de Campinas e Jundiaí, pensando no TIC. Mas quando olhamos as estações que farão parte do TIM, estamos falando de Louveira, Vinhedo e Valinhos, que são regiões extremamente ricas, com potencial enorme para crescerem ainda mais do que já vêm crescendo. Mas ainda não podemos divulgar mais detalhes.
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Sobre o valor da passagem do serviço expresso, há dados conflitantes. Fala-se R$ 50 de valor médio, mas o valor limite estabelecido no contrato é de R$ 64. Já foi definido?
Não, ainda não está definido. O que já sabemos é que vai existir dois valores. Não sei se vai ser nomeado executivo e econômico ou não, mas terão dois tipos de passagem, como se pratica em trens dessa natureza em outros lugares. Então devem existir dois preços, entre R$ 50 e R$ 65. É algo que está sendo estudado e vai ser definido na sequência. Mas teremos, sim, dois tipos de valores.
Qual seria a diferença entre esses dois vagões? O que já se sabe em relação a capacidade de passageiros e característica dos trens? Terá Wi-Fi, banheiro e lanchonete a bordo?
A diferença está ligada ao conforto, com maior ou menor espaço entre o assento da frente, de largura de assento, entre outras coisas. Ainda há muito a se avançar na área de desenvolvimento do produto como um todo, com mais detalhes. Em relação a banheiro, sim, terá. Agora, quanto ao design do trem expresso e quais serviços ele vai oferecer, isso ainda não está definido. Estamos falando de trens com uma capacidade de 830 pessoas. Todo mundo sentado, com assentos e horários marcados. Ou seja, algo muito próximo do que os trens de média e longa distância praticam. A previsibilidade vai ser bem alta em relação à saída e principalmente à chegada, sobretudo em comparação com o trecho rodoviário entre Campinas e São Paulo, que acaba sendo uma grande incógnita nesse sentido.
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