Ciclovias de SP melhoram, mas 19% da rede precisa de reparos

Ciclovia na USP, em São Paulo, no dia 1o de agosto: pinturas novas. Foto: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

03/08/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 48 segundos
Com reportagem de Leon Ferrari, O Estado de S. Paulo

Na capital paulista, 81% da malha cicloviária apresenta bom estado geral de manutenção, conforme auditoria da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade). Mas 1/5 (19%) foi classificado na categoria que “exige atenção”. Apesar disso, a avaliação feita pela entidade da sociedade civil mostra avanços: o alerta da necessidade de melhora em 2018 valia para 41% das vias para bicicletas. Os ciclistas, contudo, frisam a necessidade de expandir a rede para as periferias, e também aumentar a oferta de paraciclos (estrutura usada para “estacionar” as bikes).

Dentre as que necessitam de manutenção, há uma gradação de urgência. Algumas estruturas estão completamente apagadas ou que não foram implementadas, embora constem no mapa oficial da Prefeitura (2%). Outras não respeitam condições mínimas de proteção (5%) e precisam de intervenção imediata. Enquanto isso, 12% precisam de reparos específicos e pontuais.

“O ganho é resultado da requalificação promovida a partir de 2020, que agora deve ser completada considerando os dados mais atuais. Ainda assim, é imperativo agir em pelo menos 7% das estruturas, que encontram-se completamente desgastadas ou apagadas”, conclui o relatório. A avaliação se deu em relação a quatro aspectos: condições de proteção, pintura, pavimento e sinalização horizontal em cruzamentos.

No documento, a associação destaca que, neste ano, as vistorias focaram no “estado de preservação das ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas existentes”. A base foi o mapa oficial da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que, entre maio e abril de 2022, quando a análise de campo ocorreu, listava 677 km de vias com tratamento cicloviário permanente — já são agora 699,2 km, segundo o site da CET. A escolha por averiguar o estado atual, explicam, está ligada ao Plano de Ação Climática da capital [que prevê, até 2030, bicicletas representando 4% das viagens na cidade] e ao Plano de Segurança Viária.

Flavio Soares, coordenador geral da auditoria, destaca que houve ganho tanto na expansão quanto na manutenção, principalmente ao comparar com as condições que os levaram a pesquisar em campo pela primeira vez em 2018 – na época, eram 485 km. “Estávamos vendo as ciclofaixas desaparecendo.” Porém, frisa que as estruturas dentro dos 7% que precisam de manutenção urgente têm situação “muito grave” e não podem ser esquecidas, por colocarem a vida do ciclista em risco.

O ponto de vista da jornalista e cicloativista Adriana Marmo, que participou da pesquisa de campo, é semelhante. Após ficar os dois primeiros anos da pandemia distante da capital, ela se surpreendeu positivamente com a expansão e a requalificação da malha em algumas regiões, como a de Interlagos, na zona sul. Porém, conta, pedalar pelo Campo Limpo, também na zona sul, é quase uma missão “kamikaze”. “É desesperador, a ciclovia sumiu e em alguns lugares, onde está boa, virou estacionamento.”

Outro dado importante: existe concentração da malha e também dos melhores estados de manutenção no eixo centro-oeste. Nesse sentido, afirmam ser necessário construir estrutura em áreas periféricas, além de fazer conexões com os demais bairros. “As periferias pedalam, mas são inviabilizadas”, diz Ricardo Neres, um dos diretores da Ciclocidade. “A periferia, como sempre, é desprovida dessa atenção.”

Em nota, a CET informou que entre 2019 e 2020, foram entregues 177 km de novas ciclovias e ciclofaixas, e 320 km – dos 500 km previamente existentes – passaram por reforma para se adequarem ao novo padrão de pavimentação e sinalização. “A ampliação da malha cicloviária permanente continuou a ocorrer mesmo durante o período de pandemia, alcançando 35% de expansão.”

Neste ano, afirma, a pretensão é aumentar a malha em 157 km (com ampla participação social), dos quais 48 km já estão em execução. “Ao final da gestão, atingiremos os 1 mil km de ciclovias e ciclofaixas.” O plano é de que, até 2028, a estrutura cicloviária tenha 800 km. A CET também informou que prepara novo edital para a manutenção e melhoria dos 700 km da malha existente, além de consulta pública sobre a iluminação de todas as estruturas.

A companhia frisou a importância dos pesquisas de campo da associação. “Algumas estruturas apontadas pela Ciclocidade, foram identificadas pela equipe técnica da CET e são pequenas conexões que estão sobre o passeio (compartilhadas) e outras que ainda aguardam a realização dos debates entre comunidade, como por exemplo a da Av. dos Metalúrgicos.”