Empresária e ativista estimula educação e combate ao racismo

A ativista e empresária Luana Genot, fundadora do Instituto Identidades do Brasil. FOTO: DIVULGAÇÃO

11/12/2022 - Tempo de leitura: 5 minutos, 20 segundos

Luana Génot, ativista e empresária brasileira do Rio de Janeiro, viaja o País e o mundo representando a organização sem fins lucrativos fundada por ela — o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR). O ID_BR está sustentado em três pilares principais: educação, identidade e engajamento. O objetivo, diz Luana, é fazer com que a sociedade diga “não ao racismo e sim à igualdade racial”.

“Somos maioria como população negra e indígena, mas [em uma sociedade] que não dá as mesmas oportunidades de acesso e de liderança para essa grande população. Quando eles [negros e indígenas] conseguem esse acesso, tudo muda, tudo se desenvolve”, observa Luana, que conversou com o Expresso na Perifa durante o evento Salvador Capital Afro, que ocorreu em Salvador (BA), entre os dias 30 de novembro e 4 de dezembro.

O que a impulsiona para movimentar montanhas e quebrar barreiras são os números cruéis que envolvem a baixa empregabilidade de negros no Brasil. De acordo com a pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, do Instituto Ethos, o setor privado vai demorar pelo menos 150 anos para que o número de pessoas negras se equipare ao número de pessoas brancas contratadas. Hoje, apenas 5% dos cargos executivos são ocupados por negros.

“A gente precisa ter empregabilidade. Temos o selo Sim à Igualdade Racial, para apoiar empresas em uma jornada, que elas possam ter certificações com o selo da diversidade. A gente faz consultoria para que as empresas alcancem novos patamares, como o selo da Diversidade Étnico Racial aqui da Bahia e outros.”

Sobre os avanços do ID_BR e seus colaboradores, Luana conta que a organização atende mais de 40 empresas e 700 mil funcionários no Brasil e na América Latina. “A gente também tem no pilar da educação o apoio a funcionários negros e indígenas em uma jornada, com a conexão dos funcionários entre si, e alguns cursos, como educação financeira. Muitas vezes você é o primeiro funcionário negro ou indígena da sua família a ter acesso a uma outra oportunidade.”

Novos caminhos — A pesquisa do Instituto Ethos também mostra que a igualdade salarial no Brasil vai demorar cerca de 72 anos para ser alcançada e a renda de 80% dos profissionais negros não passa de dois salários-mínimos, de acordo com dados da Oxfam, entidade inglesa que trabalha com direitos humanos. Por isso, a atuação de organizações como o ID_BR é essencial em meio a tanta desigualdade, intolerância e racismo — é importante principalmente para a difícil tarefa de mudar o cenário em que o que predomina ainda é um empreendedorismo negro e indígena de sobrevivência.

“A gente não pode romantizar esse empreendedorismo”, afirma Luana. “Precisa dar mais oportunidade para empreendedoras negras e indígenas para que a gente possa prosperar, escalar nossos negócios e causar impacto, como o IB_DR está causando e quer causar mais.” O instituto está em vários países da América Latina, especialmente no México, em parceria com outras instituições. Luana faz parte da rede de líderes responsáveis do Fórum Econômico Mundial, para onde leva a pauta antirracista a um nível global. “Fazemos com que vários países falem sobre essa questão racial e étnica, além de construir políticas afirmativas sobre essa temática.”

Origens — A base familiar de Luana foi essencial para começar na luta desde a infância: “Minha mãe e minha avó são duas grandes inspirações para mim. São as Anas da minha vida. Dona Anna, minha avó; e minha mãe, Ana. Mulheres extremamente líderes, que me ensinaram a não baixar a cabeça para a questão racial. Nunca foram letradas racialmente sobre a pauta, sempre me ensinaram muito a correr atrás dessa educação formal. Então, devo a elas quem sou, tudo o que faço, e entender que cada passo que eu dou, porquê elas plantaram essa semente de correr atrás.” E continua: “Foram valores muito importantes para que eu entendesse que a luta, a vitória, não é individual. Acho que essa questão de sempre pensar no coletivo foi algo que permeou muito meus ensinamentos, porquê entendi em cada lugar que eu fui, sozinho aquilo não é uma vitória, não era só uma massagem no ego. Então, quando eu falo do ID_BR, dos nossos 50 colaboradores, da nossa rede de fellows [bolsistas], das empresas que a gente atinge, entendo que a gente não anda só”.

LIVRO INFANTIL

Luana também é escritora e acaba de lançar o livro infantil Guerreiras do Sim (HarperKids), que fala de uma garotinha cheia de perguntas e promove debates sobre as diferenças — ascendência, cor, gênero, etnia e constituição familiar. “Sou mãe da Alice, que tem 4 anos e começa a me fazer um monte de perguntas. Eu queria ter um aparato na mão para falar mais sobre isso. Gosto muito de literatura infantil, já gostava bastante antes de escrever livro infantil. Mas eu sentia que os livros infantis romantizavam ou não explicavam a questão do racismo, as questões de sermos iguais ou diferentes”, explica a autora. “Escrevi algo pensando em crianças dos 4 anos para cima, que pudessem fazer leituras com sua rede parental, sua rede de cuidado, para explicar que somos iguais e diferentes. Conto a história de Lari e sua mãe, que juntas se transformam nas guerreiras do sim. Que dizem sim para a possibilidade de caçar respostas a perguntas difíceis, que muitas vezes no dia a dia a gente negligencia por dizer que não temos tempo para explicar o que é racismo”.

A obra ainda conta com as ilustrações de Letícia Moreno, artista engajada na representação de pessoas de diferentes etnias de forma fiel em prol de uma identificação dos mais diversos leitores. Ao final da leitura, há uma divertida atividade assinada pela artista e artesã indígena We’e’ena Tikuna, que permite criar os próprios colares com sementes de açaí e se juntar à importante missão dos guerreiros do sim.