Na maior favela do Nordeste, Ju do Coroadinho é referência social

O enfrentamento da pobreza menstrual está entre os trabalhos mais importantes do coletivo Mulheres Negras da Periferia. À frente, a assistente social Ju do Coroadinho. Foto: divulgação

20/04/2022 - Tempo de leitura: 2 minutos, 26 segundos

A assistente social Julianna Costa nasceu numa das maiores favelas do Brasil, a Coroadinho, que fica em São Luís do Maranhão. Ju Coroadinho, como é conhecida, tem 29 anos. É fundadora e coordenadora do coletivo Mulheres Negras da Periferia, uma iniciativa de fortalecimento das mulheres pretas e suas famílias.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Coroadinho tem uma população de 54 mil pessoas e é a quarta maior favela do Brasil — a maior das regiões norte e nordeste

Criado em 2018, o grupo surgiu da inquietação de Ju e algumas amigas: elas não enxergavam, em outros movimentos sociais, a representatividade das negras periféricas. Com ações feitas na favela para a favela, a iniciativa acolhe e gerar impacto social no território. A maior preocupação é ver o trabalho reverberar na vida de quem vive no Coroadinho, afirma Ju. Ou seja: o que move o coletivo é o bem da comunidade e não o benefício individual.

Durante a pandemia, o Mulheres Negras da Periferia teve apoio da Central Única de Favelas (Cufa) para entregar cestas básicas e outros alimentos, como peixe, frango, além de produtos de higiene e proteção contra covid-19 como sabão, álcool em gel e máscaras. “Nosso povo sofreu muito, mas a gente se mobilizou para que esse sofrimento não fosse maior”, diz a assistente social. A ação alcançou mais de 5 mil famílias da favela.

O Cine Coroadinho, iniciativa do Mulheres Negras da Periferia, é a primeira sala de cinema para a comunidade. Foto: divulgação

O coletivo é formado por 12 mulheres e outras 32 voluntárias, todas negras e faveladas. A organização oferece à população oficinas de arte, educação, cursos gratuitos para mulheres negras, centro cultural e cozinha comunitária. Entre os projetos, se destacam o Cine Coroadinho — primeira sala de cinema para a comunidade —, a Pretoteca, um biblioteca para consulta e empréstimo, e a ação de combate à pobreza menstrual, que já entregou absorventes e coletores para mais de 100 mulheres.

“Esse trabalho é de suma importância, porque essas coisas não chegam para o nosso povo. Fazemos esse movimento de nós para os nossos porque sabemos onde dói, onde está o problema e como resolver”, diz Ju do Coroadinho. “O princípio de tudo é conseguir atingir as famílias não só com alimentos, mas também educação, cultura e a possibilidade de construir um caminho melhor.” A diferença que o coletivo faz na vida de cada mãe solo, criança ou jovem é um substrato para o futuro. “A gente pede para que tenhamos força para continuar. É difícil se manter na luta, mas a esperança de que o nosso povo vai viver dias melhores é a nossa maior firmeza”.

O Cine Coroadinho, iniciativa do Mulheres Negras da Periferia, é a primeira sala de cinema para a comunidade. Foto: divulgação