O painel Como Superar as Barreiras da Infraestrutura e Preço dos Carros Elétricos no Brasil? teve a participação de quatro especialistas, que trouxeram visões complementares da descarbonização. O fato é que, segundo eles, a eletrificação é apenas um dos caminhos. Nesse percurso pela redução da emissão de CO2, eles acreditam que não importa apenas o modal, mas que é fundamental pensar em modelos de negócio disruptivos e a busca contínua por atualização.
Guilherme Cavalcante, fundador da plataforma para mobilidade corporativa e elétrica Ucorp, contou que apenas dois anos após a formação da startup precisou redefinir a rota. “Tivemos vários problemas, no início, desde enfrentar enchentes por imprecisão do GPS até vandalismo. Entendemos que nosso negócio fazia mais sentido se fosse focado no público corporativo, e não no consumidor final. Como somos ágeis, conseguimos corrigir o rumo rapidamente”, afirmou o empresário.
Luciana Nicola, diretora de relações institucionais, sustentabilidade e empreendedorismo do Itaú Unibanco e responsável pela implantação das Bikes do Itaú, ressaltou que, no começo, teve problemas similares aos enfrentados pela Ucorp, mas que, 11 anos depois, a questão cultural foi superada. Atualmente, a empreitada conta com 3,8 milhões de usuários ativos e mais de 20 milhões esporádicos, está presente em cinco cidades brasileiras, além de Santiago do Chile e Buenos Aires, na Argentina. “Pensar na micromobilidade foi um ponto de partida. Muita informação foi captada, e, com essa inteligência, é possível buscar novos desafios”, disse.
Um desses desafios foi implementar o VEC Itaú, com o apoio da Ucorp. Ainda de forma experimental, o projeto beneficia os funcionários do Itaú, que podem reservar por meio do app. De acordo com Cavalcante, os primeiros dados obtidos pelo VEC Itaú são reveladores. “Ao contrário do que imaginávamos, 70% dos carros elétricos vão para a estrada, e não as rotas urbanas. Grande aprendizado, que nos fez buscar soluções como estações de recarga nas rodovias”, informou.
Uma das falas mais incisivas foi a de Tiago Faierstein, gerente de Novos Negócios da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Fazendo referência ao tema do painel, Faierstein explicou como viabilizar o carro elétrico. “Existem três formas: derrubar o preço dos veículos, criar incentivos e novos modelos de negócio.” O especialista afirmou, ainda, que a redução de ICMS é uma possibilidade muito remota, uma vez que é necessário ter adesão de 100% dos Estados. Ele sugeriu, então, que, em vez de buscar essa solução, a sociedade e as empresas se unissem para conquistar a redução do IPVA. Segundo ele, isso foi feito no Distrito Federal, e as vendas aumentaram significativamente. “A isenção do IPVA chegaria a 3% ou 4% de redução no valor do veículo, ao ano. Isso é muito maior que o ICMS, e, por outro lado, os Estados ganhariam no volume de comercialização.”
Para João Irineu, diretor de compliance de produto da Stellantis para a América do Sul, o carro do futuro é conectado, eco-friendly (amigo do meio ambiente), tecnológico e autônomo. O executivo afirmou que veículo elétrico é uma possibilidade para as marcas que podem oferecer automóveis de maior custo, mas que, ainda, existe espaço para os modelos flex. “O produto movido a etanol tem um ciclo de emissão similar ao elétrico, ou seja, é uma opção importante para a descarbonização e com um custo viável para quem quer participar desse processo”, concluiu.