No final dos anos 80, do norte de Minas Gerais ao sul da Bahia, o rapper viajou com a família em busca de comida. A história é relembrada agora, no lançamento de uma antologia inspirada na obra do artista
Manno G é o nome artístico escolhido por Germínio Andrade, que também atua como ativista e liderança comunitária em diversos bairros da região norte de São Paulo, a exemplo do Jardim Felicidade, onde vive atualmente. Idealizador e fundador da Casa do Hip-Hop do Jaçanã, Manno organiza festas e distribuições de presentes para crianças.
Neste ano, o rapper comemora 19 anos de carreira musical com o lançamento de um projeto literário. O livro Universo Confuso reúne textos de 18 autores brasileiros, portugueses e moçambicanos inspirados na canção de mesmo nome lançada por Manno G em 2016. Entre os autores da coletânea está a filha do artista. Gabriela tem 13 anos.
Trecho da canção Universo Confuso, de Mano G
“Fiz essa letra pensando no comportamento das pessoas do Jardim Felicidade, bairro onde moro. Lá, antes de fazer a coisa certa, as pessoas fazem as coisas erradas. Outras, por sua vez, consideram coisas erradas como certas e vice-versa. É também sobre aquelas pessoas que não fazem nada, mas criticam aqueles que buscam os seus sonhos”, resume o rapper.
Autor das músicas Respeite o Nordestino (2014) e Orgulho Nordeste (2021) com os repentistas Caju e Castanha, nesse trabalho literário Manno G celebra o povo nordestino e relembra um momento marcante da sua vida. Foi há mais de três décadas, em 1989. Aos 6 anos, o artista e seu irmão gêmeo, a mãe e o padrasto percorreram a pé uma distância de 420 km para fugir da fome e da seca. A família Andrade foi de Espinosa, norte de Minas Gerais, até Salto da Divisa, que faz fronteira com o sul da Bahia.
“Quando estávamos muito famintos, minha mãe acendia um fogo na estrada e assava alguns peixes, misturando com farinha para nos alimentar”, lembra o rapper. Sob sol escaldante, era preciso beber água barrenta, junto com bois e vacas. “Meus pés não tinham lugar para mais calos, minhas pernas franzinas queimavam e minha cabeça doía. Aquilo parecia não ter fim.” Para Manno G, a jornada foi uma importante lição de vida e ecoa a luta de milhões de migrantes que lutam por condições melhores e enfrentam a desigualdade.