Atletas peruanos veem Parapan de Lima como meio para tornar o país mais acessível

Karina Torres é a capitã da seleção peruana do basquete em cadeira de rodas. Foto: Reprodução/ Facebook

22/08/2019 - Tempo de leitura: 4 minutos, 5 segundos

Os atletas peruanos esperam que os Jogos Parapan-Americanos de Lima seja o início do processo de transformação da cidade. A torcida é para que o governo aumente os investimentos em obras que privilegiem a acessibilidade para pessoas deficientes.

Capitã da seleção peruana de basquete em cadeira de rodas, Karina Torres destacou a atenção voltada para o esporte paralímpico por causa da competição. “Houve muita melhora, muita inclusão. Esperamos que isso se expanda para os outros Estados também. A Vila dos Atletas é o grande exemplo disso. Torcemos para que os Jogos incentivem as autoridades a fazerem mais adaptações”, disse em entrevista ao Estado.

Até o Peru se candidatar para receber os Jogos de Lima não havia Comitê Paralímpico no país, não havia organização no esporte para deficientes físicos também. Ao se tornar sede, houve uma transformação e foi criada em 2013 uma entidade para cuidar dos paralímpicos. A Vila dos Atletas, por exemplo, custou cerca de R$ 300 milhões e é toda adaptada, com rampas, banheiros e elevadores para cadeirantes. Também há indicação nas calçadas para os cegos e instruções em braile.

O local fica na periferia de Lima, rodeado de favelas. Um muro pintado com a bandeira de diversos países foi erguido para tentar esconder a pobreza local. A ideia do Comitê Organizador, no entanto, é que essa obra de moradia para os Jogos seja o primeiro passo da transformação no bairro. O governo doará uma porcentagem dos imóveis a pessoas carentes, segundo informou uma das guias que receberam os jornalistas no local. Outra parte será entregue aos atletas que conquistarem medalhas.

Karina, que estreará no Parapan no sábado, contra o Brasil, espera ser uma das contempladas. “Claro, vamos em busca. Logo de cara temos um adversário difícil que é o Brasil (bronze em Toronto-2015). Mas vamos em busca do prêmio”, disse. Outro atleta que vive esse sonho é Carlos Córdoba, do arremesso de peso classe F63 (amputados membros inferiores).

Finalista no salto em distância nos Jogos Paralímpicos do Rio-2016, ele perdeu a perna esquerda em atentado terrorista quando estava no exército peruano, em 2010. Em 2012, começou no esporte nas provas de pista. “A expectativa é me entregar 100%. É uma batalha a mais que tentarei sair vitorioso.”

Sobre a melhoria na infraestrutura, ele tem pensamento semelhante ao de Carina. “Temos muitas instalações novas por causa dos Jogos Pan-Americanos. As obras ajudaram muito as pessoas com incapacidade física”, comentou. “Mas é um trabalho muito amplo. Esses jogos estão abrindo os olhos das autoridades de cada cidade. Os Jogos vão ajudar o Peru a ser mais inclusivo”, disse.

OS OBSTÁCULOS

Estima-se que tenha sido gasto em Lima cerca de R$ 1,2 bilhão em obras para o Pan e Parapan. Na cidade, no entanto, aparentemente não houve grande transformação. O trânsito é caótico e intenso nas principais avenidas o dia inteiro. As sinalizações são confusas. O sinal abre para o pedestre, mas ao mesmo tempo também permite que veículos se locomovam. A buzina é um item utilizado a todo momento. O barulho ao caminhar por avenidas da cidade é ensurdecedor.

As calçadas estão sempre cheias. Há filas imensas no transporte público na hora do rush. O céu cinza e a poeira de uma cidade onde quase não chove “pintam” as poucas árvores e casas de uma cor de terra. Nesse cenário, a possibilidade de receber os Jogos Pan-americanos e Parapan-Americanos surgiu como a salvação para o povo peruano.

A cidade esteve perto de perder a competição por atraso nas obras. Há dois anos, o governo precisou abrir licitação para outros países a fim de estabelecer parceria para entregar tudo em dia. Houve um acordo com o governo britânico, que auxiliou no término das construções atendendo aos padrões de qualidade que uma competição desse porte exige.

O brasileiro Carlos Henrique Garleti, do tiro esportivo classe SH1, elogiou a estrutura em Lima, mas destacou algumas ressalvas. “É bem legal. A alimentação é muito boa. Só o transporte que está pecando um pouco por causa do trânsito. No Rio havia mais voluntários. O ônibus tinha frequência maior. Aqui é um pouco mais simples. É uma cidade muito mais horizontal. Para chegar ao local de tiro, por exemplo, demora uma hora, uma hora e meia de ônibus. Por mais que tenha batedores, há muito trânsito. Mesmo assim é de tirar o chapéu para o esforço do País”, reconheceu.

A Cerimônia de Abertura dos Jogos Parapan-Americanos acontece nesta sexta-feira, às 20h (de Brasília). O Brasil será representado por uma delegação com 337 atletas e tentará se manter pela quarta edição seguida no topo do ranking de medalhas.