Instituto Jô Clemente usa simulador com Realidade Virtual para ajudar pessoas com deficiência a andar de metrô
Parceria entre a ONG, USP e Fundação Alstom fomenta também a mobilidade ativa
“Eu tive que aprender sozinha”, diz Vitória Rosa. A jovem, que possui deficiência intelectual, foi atendida por quatro anos no Instituto Jô Clemente e hoje trabalha como assistente administrativa no local. Durante seus primeiros meses na ONG, Vitória precisou aprender o caminho entre a Estação de metrô Hospital São Paulo, na Linha 5-Lilás, e a instituição. “Foi um pouquinho difícil, mas logo fui me adaptando”, conta.
O percurso entre a estação e a ONG, na verdade, foi um desafio para muitos atendidos. “Percebemos que pessoas com deficiência intelectual ou autismo, apesar de não terem deficiência físico-motora, tinham dificuldade para se locomover na cidade com autonomia”, explica Victor Martinez, supervisor do setor de educação e longevidade do IJC.
Por esse motivo, o Instituto Jô Clemente inaugurou, em 8 de agosto, um simulador. Com óculos de realidade virtual, os atendidos treinam o caminho entre o instituto e a Estação Hospital São Paulo, aprendendo como caminhar com segurança.
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Treinando em segurança
O simulador do IJC é o primeiro do tipo no mundo, segundo Martinez. O sistema funciona como um jogo: ao seguir normas de segurança, como olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, usar a faixa de pedestre ou ficar à direita na escada rolante, a pessoa pontua. Por outro lado, não se atentar a esses detalhes faz com que a pontuação caia.
O percurso em realidade virtual sai da portaria do IJC e percorre ruas na região, sempre alertando sobre os semáforos e faixas. Por fim, a simulação “passa pela entrada do metrô, ensina a usar o cartão na catraca, a se locomover pelas escadas rolantes ou elevadores e faz o trajeto da Estação Hospital São Paulo até a Santa Cruz”, conta Martinez.
A captação das imagens e o desenvolvimento do programa de realidade virtual foram possíveis graças a uma parceria com a USP. Cinco membros do Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológicos da USP (LSI-TEC) gravaram o trajeto usando uma câmera 3D.
Em seguida, receberam o apoio de pessoas atendidas pelo IJC, como Vitória, para saber em quais pontos adicionar instruções sonoras, setas e recomendações.
“A realidade virtual permite uma imersão na qual a pessoa acompanhada se desloca sem risco”, afirma Adilson Hira, coordenador de P&D do LSI-TEC. De acordo com o pesquisador, “já vemos simuladores há muito tempo. Eles são usados por pilotos de avião ou no processo de tirar CNH. Mas é possível fazer outras aplicações em mobilidade urbana, como essa do IJC”.
Promover autonomia
O objetivo do simulador é promover autonomia e treinar os atendidos pelo IJC, permitindo que façam o trajeto entre a instituição e o metrô sozinhos. “Não garantimos que todas as pessoas que passam pelo jogo vão andar sozinhas no metrô, mas com certeza irá auxiliá-las a perder o medo”, conta Martinez.
“Para algumas pessoas, passar pela simulação uma vez bastará. Mas entendemos que cada um tem necessidades diferentes. Então, os atendidos poderão participar quantas vezes forem necessárias”
Victor Martinez, supervisor do setor de educação e longevidade do IJC.
O Instituto Jô Clemente firmou a meta de atender 900 pessoas com o simulador até o final do ano. As sessões começam na próxima semana, e cerca de 40 pessoas devem passar pelo projeto semanalmente.
Antes de instalar o simulador, a equipe do Instituto Jô Clemente usava outros métodos para auxiliar os atendidos a usar o transporte de São Paulo. “Desenhávamos o mapa do metrô no chão e transformávamos isso em um jogo, ou íamos com eles até o metrô de forma acompanhada”, afirma Martinez.
“A ideia é que, a partir do treino com a simulação, os acompanhados continuem por um tempo sendo acompanhados até o metrô por membros do IJC, mas que esse tempo seja encurtado”, explica Hira.
Instituto Jô Clemente planeja expandir o projeto
O simulador do Instituto Jô Clemente teve financiamento de um edital da Fundação Alstom. “O edital acontece uma vez por ano em todos os países onde a Alstom está presente. Ele busca projetos em quatro pilares, sendo um deles o acesso à mobilidade”, detalha Ana Caiasso, diretora de comunicação e responsabilidade social da Alstom na América Latina.
No ano passado, houve 220 inscrições; apenas 35 projetos receberam verba, entre eles o simulador do Instituto Jô Clemente. A ONG afirma que planeja participar do edital novamente este ano, pedindo recursos para expandir a simulação.
“Temos a ideia de ampliar, talvez já no próximo ano, inserindo outros elementos, por exemplo, uma baldeação com ônibus, que é uma realidade de muitas pessoas atendidas pelo IJC”, explica Martinez. De acordo com a instituição, pessoas de todas as regiões de São Paulo e de cidades no entorno viajam para buscar atendimento no Jô Clemente.
Os pesquisadores da USP também planejam expandir o projeto. “A ideia é que esse tipo de ferramenta possa ser utilizada em outras instituições de apoio. Esses atendidos poderão alcançar o potencial que têm e se tornar mais incluídos na sociedade”, defende Hira.
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