Descarbonização. Gelog importa caminhão elétrico chinês para atender operações da Basf

Peso-pesado da fabricante Sany pode transportar contêineres de 27 toneladas do porto de Santos até o interior de São Paulo. Foto: Divulgação/Gelog

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Há uma década, a Gelog, companhia de soluções logísticas, transporta contêineres da empresa de indústria química Basf do porto de Santos até a cidade de Jacareí, localizada a cerca de 60 km da capital paulista. Como as duas parceiras têm uma meta comum – reduzir 25% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de suas operações até 2030 –, elas adotaram uma medida importante em prol da descarbonização.

Dona de uma frota de 300 caminhões, a Gelog comprou seu primeiro veículo pesado 100% elétrico da Sany Truck. “Depois de um longo estudo, vimos que não havia nada no Brasil, com propulsão elétrica, que atendesse a nossa necessidade”, afirma Blancher Sanches Souza, diretor operacional do Grupo Gelog. ”Em 2019, fizemos uma tentativa com um caminhão movido a gás, mas a redução de emissões é mínima em comparação ao diesel.”

De acordo com os estudos da Gelog, um veículo a gás emite 960 gramas de dióxido de carbono (CO₂) por quilômetro rodado, contra 1.000 gramas do similar com diesel no tanque. “Os ganhos eram insignificantes”, lembra.

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A Basf precisava de um caminhão robusto, capaz de transportar 27 toneladas de carga com emissão zero. Sem opções no mercado nacional, a Gelog recorreu à fabricante chinesa. Mas não foi uma aquisição simples e rápida. Durante dois anos, a Gelog abasteceu a engenharia da Sany de informações sobre topografia e clima para que o caminhão suportasse todas as especificações do roteiro que inclui os desafios da Serra do Mar.

Terminado o período de pesquisas e desenvolvimento, o caminhão Sany SE 588 kWh 6×4 – que custou R$ 1,9 milhão – desembarcou no País há três meses para testes, homologação e aprovação da Agência Reguladora de Transportes de São Paulo (Artesp) e do Departamento de Trânsito de São Paulo (Detran-SP).

Descarbonização sem elevar custo do frete

“Com 300 km de autonomia, o veículo já está em operação, fazendo três viagens semanais de Santos a Jacareí”, diz Cassiano Augusto Correia Silva, gerente de comércio exterior da Basf. “Com essa operação, a estimativa é deixar de emitir aproximadamente 53 toneladas de CO₂ por ano.”

Além disso, o custo do frete para a Basf continua o mesmo. “Mesmo com o uso do caminhão elétrico, não houve repasse para o cliente”, celebra o gerente. Souza acrescenta que a Gelog ainda não sabe ao certo o impacto na economia nos valores de manutenção e de consumo de energia.

Um engenheiro da Sany acompanhou as primeiras viagens para, ao lado dos profissionais da Gelog, avaliar o desempenho do caminhão, levando em conta as distâncias percorridas, a altimetria (variações de elevação do solo), as situações de trânsito, o engarrafamento e eventuais adversidades.

Segundo Souza, o Sany SE é o primeiro caminhão elétrico de transporte de carga pesada em atividade na América do Sul. E não será o único. Com investimento de R$ 38 milhões, a Gelog encomendou um lote de mais 20 unidades da Sany, que chegou ao Porto de Santos, onde está em fase de desembaraço. “Acreditamos que eles comecem a rodar na primeira quinzena de dezembro”, revela.

A autonomia desses caminhões é um pouco maior, 400 km com a carga completa de bateria, e alguns modelos podem ficar a serviço da Basf, que transporta, principalmente, insumos empregados em produtos de cuidados pessoais e no agronegócio. “O Sany tem bateria de 588 kWh e entrega potência de 330 kW (equivalente a 650 cv). Sua atuação é específica e não serve para qualquer aplicação”, explica Souza.

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Infraestrutura de recarga

A Gelog trouxe os pesos-pesados elétricos, mas não se esqueceu da infraestrutura de recarga. Souza revela que a empresa instalará, no primeiro momento, três pontos de recarga rápida: na matriz, em Santos, e nas filiais de Paulínia e Pindamonhangaba, em São Paulo. Cada equipamento custa cerca de R$ 200 mil e pode abastecer dois veículos ao mesmo tempo em uma hora.

Encerrado o ciclo de dez anos da bateria, a Gelog vislumbra o seu aproveitamento na chamada segunda vida, quando ainda restarem de 70% a 80% de sua capacidade. Elas, então, serão alocadas para acúmulo estacionário de energia em armazéns e centros de distribuição.

Agora, uma comitiva de diretores da Gelog se prepara para viajar a Changsha, cidade-sede da Sany, a fim de conhecer de perto todos os processos de fabricação do caminhão elétrico que está rodando no Brasil.

Importar os caminhões da Sany não é uma experiência inédita da Gelog com equipamentos elétricos da gigante chinesa. Souza destaca que a companhia já utiliza empilhadeiras nos armazéns e a Reach Stacker, empilhadeira que movimenta contêneires e outros materiais no porto e em terminais intermodais.