‘O hidrogênio é a melhor solução para os veículos pesados’, afirma executivo da GWM Brasil

Dois mil caminhões com propulsão a hidrogênio da marca já rodam nas ruas da China. Foto: GWM Brasil

Há 10 dias - Tempo de leitura: 5 minutos, 35 segundos

A GWM se instalou no Brasil em 2022 para oferecer modelos eletrificados. No entanto, sua meta global de anular totalmente as emissões de dióxido de carbono (CO2) inclui um plano audacioso: desenvolver hidrogênio para veículos pesados, como já acontece na China com a FTXT. Trata-se da divisão da empresa dedicada ao desenvolvimento desse combustível, que já movimenta mais de dois mil caminhões nas ruas chinesas.

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Uma medida importante nessa direção aconteceu em março, quando Thiago Sugahara, gerente de ESG e relacionamento com stakeholders da GWM, visitou a Universidade de São Paulo (USP) para doar uma célula de hidrogênio, um cilindro de armazenamento e uma membrana de célula de hidrogênio de 1,4 milímetro.

O kit, entregue à Escola Politécnica (Poli-USP) e ao Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), será usado em pesquisas e aulas sobre veículos elétricos movidos a célula de hidrogênio. Ao Mobilidade Estadão, Sugahara falou sobre o envolvimento da GWM com o meio acadêmico e sua visão a respeito do hidrogênio como fonte de energia renovável.

Qual é a finalidade da GWM em fornecer célula de hidrogênio para a USP?

A empresa trabalha com uma agenda de descarbonização mundial, de gerar tecnologias capazes de substituir o diesel dos veículos pesados usados no transporte de cargas e logística.

Eles passariam a rodar com hidrogênio, obtido a partir de diversas matérias primas, como a molécula de água, composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Pela eletrólise, é possível dividir essa molécula e separar o hidrogênio do oxigênio, sem emissão de gases.

Como nasceu essa parceria com o ambiente acadêmico?

O acordo faz parte da visão da GWM Brasil de buscar as melhores soluções para a transição energética. Com esse kit, que produz energia a 110 kW, alunos e pesquisadores terão à disposição uma estrutura em escala real para estudar os componentes críticos e todas as possibilidades do motor a hidrogênio.

Essa iniciativa indica uma convivência mais efetiva da GWM com a academia?

A nossa ação deseja aproximar a academia da indústria automotiva, facilitando o acesso a tecnologias emergentes no campo da mobilidade sustentável. Afinal, acreditamos que a eletromobilidade será construída com estratégias envolvendo fabricantes, universidades e centros de pesquisa.

Esse material de trabalho é o primeiro passo para viabilizar um memorando de entendimento, com o objetivo de explorar ao máximo o resultado dos estudos. No futuro, a ideia é testar a tecnologia em caminhões nas vias brasileiras.

Vou além: a academia é vetor fundamental para as empresas que querem se instalar no País. Essa aproximação não se resume à produção de hidrogênio para veículos pesados, mas ao desenvolvimento de novas tecnologias.

O fornecimento do material está diretamente ligado à construção da estação experimental de hidrogênio renovável a partir de etanol, na Cidade Universitária?

Queremos estar próximos das iniciativas pioneiras que desenvolvem o novo combustível. Neste ano, a USP vai inaugurar o posto de hidrogênio e o Centro de Hidrogênio Verde (CH2V) da Universidade Federal de Itajubá (MG) já está em funcionamento, gerando hidrogênio a partir de painéis solares.

Os estudos da GWM são direcionados apenas aos veículos pesados? E os carros de passeio movidos a hidrogênio?

Outras montadoras vêm trabalhando com motores a hidrogênio em automóveis leves. Porém, a GWM acredita que, no momento, a tecnologia é mais viável nos veículos a diesel. Queremos buscar outros mercados, mas deixando claro que o objetivo central é transferir tecnologia e não importar ou exportar veículos.

Quais são os próximos passos do acordo com a USP?

Estamos planejando levar profissionais da universidade para conhecer os laboratórios da FTXT, na cidade de Baoding, na China, e também trazer um caminhão movido a hidrogênio – com autonomia de 400 a 500 quilômetros ­­– para testes de rodagem no Brasil. Podemos até mesmo fazer parcerias com outras montadoras instaladas no País.

Como está o desenvolvimento de hidrogênio na China, país-sede da GWM?

A China encontra-se na vanguarda da eletrificação automotiva. A FTXT é a antiga Shangai Fuel Cell que, em 2019, foi incorporada pela GWM para ser o braço dedicado ao desenvolvimento de células de combustível.

Dois mil caminhões com propulsão a hidrogênio da marca já rodam nas ruas do país. São veículos de 49 toneladas, empregados em atividades severas, como mineração.

A FTXT possui quatro sofisticados laboratórios de pesquisas – dois na China, um no Japão e um no Canadá, uma demonstração de que avançamos em outros mercados. A GWM é referência global nesse setor, com soluções em eletrificação e hidrogênio em seu portfólio.

A China já possui infraestrutura básica de fornecimento de hidrogênio aos caminhões?

O nível de maturidade da China na preparação de infraestrutura é fora da curva. Ela trabalha rápido demais e outras empresas tentam acompanhar essa corrida. A FTXT é uma das três principais empresas do país no desenvolvimento de hidrogênio.

Qual é o papel da subsidiária brasileira no compromisso de descarbonização da companhia?

Nossa meta global é zerar as emissões de CO2 até 2045. Além de apoiar as pesquisas da USP, o recém-lançado Tank 300, SUV off-road híbrido plug-in, se junta à linha vendida no Brasil, composta atualmente pelo híbrido Haval 6 e o elétrico Ora 03. O início das operações da fábrica de Iracemápolis (SP), com práticas sustentáveis, também faz parte dessa estratégia.

A seu ver, quais são os principais desafios para a utilização de hidrogênio verde no Brasil?

O País é um potencial produtor de hidrogênio verde e pode assumir o papel de protagonismo na descarbonização mundial, gradativamente tirando de cena os motores a combustão pelos combustíveis renováveis. É preciso, no entanto, que o governo federal crie políticas públicas para ajudar a fomentar investimentos.

Números da GWM Brasil

Início das atividades no País: 2022 
Portfólio de veículos: Haval H6, Ora 03 e Tank 300
Número de concessionárias: 101
Número de colaboradores: 400

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