As paisagens idílicas de Fernando de Noronha têm um forte aliado para a sua preservação, o Projeto Noronha Carbono Zero, iniciado em 2019. O objetivo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa e contribuir para o processo de descarbonização do arquipélago.
Para tanto, a partir de agosto de 2023, veículos a combustão estarão proibidos de entrar na região, sendo que só será permitida a circulação das unidades já presentes na ilha. Em 2030, apenas veículos elétricos terão autorização para circular no local.
A Renault participa do projeto desde o início e, hoje, tem 49 unidades 100% elétricas circulando no arquipélago. Na última semana, a companhia levou os primeiros exemplares do Renault Kwid E-Tech, o veículo elétrico mais acessível do País (partir de R$ 146.990) para um début no Projeto.
Noronha conta com um ecoposto público que pode atender até seis carros, simultaneamente, e gera 26MWh por ano. A recarga dos automóveis é feita à base de energia solar, por meio de placas fotovoltaicas instaladas em sua cobertura de 90 m².
O Projeto Noronha Zero também contempla a instalação de duas usinas de geração de energia limpa por meio de placas solares. A primeira já foi concluída e a segunda será finalizada no primeiro trimestre de 2023. As duas áreas somam cerca de 2.100 m² e, juntas, terão capacidade de gerar 155 MWh de energia por ano, quantidade que cobre em até três vezes o consumo elétrico de todos os veículos do projeto que circulam pela ilha.
Planeta Elétrico – Como esses novos modelos entram no Projeto Noronha Carbono Zero?
Bruno Hohmann – Hoje, das 49 unidades de veículos elétricos na ilha, a maioria está nas mãos de pessoas físicas. Para nossa surpresa, 60% das vendas do Kwid E-Tech foram para proprietários particulares. Na ilha, não é diferente. A acolhida do produto foi muito positiva por causa da acessibilidade, o menor custo.
Vocês vão implementar algum sistema de car sharing?
Hohmann – Não temos um projeto formatado. Atualmente, o aluguel de carros é um tipo de serviço oferecido pelas próprias pousadas.
Quais foram os principais desafios e aprendizados para a implementação do projeto?
Hohmann – Na primeira fase, aprendemos muito com os moradores. Uma característica da ilha, por exemplo, são as estradas de terra, que exigem veículos mais altos e, às vezes, até a instalação de protetor para a estrutura inferior do carro. Certamente, o principal desafio foi organizar uma solução de reparo ágil e eficiente no local. Hoje, temos assistência técnica na ilha por meio de um parceiro e uma concessionária completa em Recife.
A Renault também desenvolve projetos de eletrificação em outras duas ilhas, Porto Santo (Portugal) e Belle-Ille-En-Mer (França). Quais são as diferenças e similaridades?
Hohmann – Na verdade, são bem similares. Talvez a maior similaridade esteja no fato que essas ilhas estão fora do grid e acabam tendo que chegar sua própria energia, no caso a diesel. Em Porto Santo e Belle-Ille-Em-Mer é permitida a geração de energia eólica, o que não é possível em Noronha por conta da proteção aos pássaros e paisagem. Por outro lado, tem ótimas condições para gerar energia fotovoltaica e nós incentivamos isso.
Quais são os planos para as baterias ao fim da vida útil nos veículos?
Hohmann – Estamos trabalhando com a unidade Mobilize, a marca do Grupo dedicada à mobilidade, para desenvolver soluções de reutilização. A garantia das baterias é de oito anos, mas já sabemos que elas duram cerca de 10 na sua primeira vida. Após este período, devem se tornar fonte de armazenamento de energia para a ilha. Um processo muito otimizado, já que durante o dia os painéis fotovoltaicos geram energia, alimentam as baterias, que, por sua vez, a compartilham no período noturno.
No Brasil, a Renault acredita na solução 100% elétrica ou também vislumbra um futuro híbrido?
Hohmann – A mobilidade vai passar pelo transporte por aplicativo, transporte público, carro por assinatura, entre outros. Mas, no fim, o brasileiro acredita que mobilidade é chegar ao veículo próprio. O Brasil precisa manter os carros acessíveis. Se transferirmos toda a tecnologia para os elétricos, o carro vai virar produto de elite. Isso não é a visão da Renault.
O híbrido ganha força quando é flex (utiliza etanol) porque entra em uma cadeia renovável. Já temos híbrido não flex na Europa; e já estamos estudando como seria a utilização da tecnologia híbrida com o etanol.
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