Indústria das multas? Diretor do Observatório Nacional de Segurança Viária opina sobre radares
Ronaldo Rodrigues da Cunha Filho foi entrevistado durante o Summit Mobilidade

É alarmante o panorama do trânsito no Brasil, o volume de acidentes com feridos ou mortos continua a crescer. Esse é o recado de Ronaldo Rodrigues da Cunha Filho, diretor de operações do Observatório Nacional de Segurança Viária. Durante o Summit Mobilidade, que ocorreu nesta quarta-feira, 28, no Teatro Bravos, Rodrigues foi entrevistado pela editora-executiva do Estadão Luciana Garbin.
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Além de traçar o cenário dos sinistros, o diretor de operação ressaltou a percepção equivocada da população sobre o que chama de “indústria das multas” e a importância de desacelerar para além da velocidade. Aliás, esta campanha do Maio Amarelo, calcada no tema “Desacelere: seu bem maior é a vida”, foi recordista de downloads.
“Pretendemos e esperamos que isso percorra nos até o final do ano e para o próximo ano possamos reduzir e tentar talvez chegar a zero ao máximo do trânsito do Brasil”, deseja Rodrigues.
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Panorama do Brasil: motociclistas são a maioria das vítimas
Desde o início da fala, o diretor de operações do Observatório Nacional de Segurança Viária alertou para o volume de acidentes registrados no Brasil. Os dados mais atuais do DataSUS de 2023 mostram que o trânsito brasileiro vitimou 34.881 pessoas. Desse número, 60% são vulneráveis, ou seja, ciclistas, motociclistas e pedestres.
Conforme Rodrigues, na década de 2010 até 2020, o observatório trabalhou intensamente em campanhas educativas e engajamento da sociedade. Esse esforço deu resultado. De 22 mil mortes, o Brasil chegou a 22 mil em 2020.
Entretanto, o período da pandemia impactou profundamente as dinâmicas no trânsito e elevou o número novamente. “Acontece que em 2020 a gente teve uma pandemia, uma sequência de mudanças de normas, legislações, enfim, que acabaram impactando um pouco nesse cenário e hoje a gente tem os dados consolidados trazendo essa mudança”, explica Rodrigues.
Para Rodrigues, é evidente que o aumento da venda de motociclistas corrobora para o crescimento dessas vítimas. Entretanto, isso também está ligado a segurança viária. De acordo com o diretor, 39% das vítimas de trânsito no Brasil são motociclistas.
Desacelere não só no trânsito
Na percepção de Rodrigues, o grande problema dos acidentes de trânsito no Brasil está ligado a velocidade. Por isso, ele acredita na campanha do Maio Amarelo 2025, que aposta na desaceleração.
Aliás, ele ressalta que alguns quilômetros por hora a mais podem definir se uma vítima sobrevive ou não. “Quando a gente muda de vai de 80 [km/h] para 50 [km/h], falamos que a vítima tem 45% de chance a mais, num sinistro, de preservação da vida”, conta Rodrigues.
Portanto, além de defender o recomendado por especialistas, de reduzir a velocidade máxima nos perímetros urbanos, Rodrigues acredita que essa desaceleração vai além das vias. Portanto, o motorista deve focar totalmente em dirigir, lembrar que o outro indivíduo dentro do outro carro, também é uma pessoa.
Para isso, é preciso largar o celular. “Quando a gente tá com o celular, ouve o bip, quer pegar ele, é porque a gente tem algo que está tomando mais a nossa atenção do que aquilo que deveria ser nossa prioridade: conduzir um veículo, sabendo que aquilo é uma situação perigosa”, explica o diretor.
Indústria das multas?
Para reduzir as velocidades, e consequentemente as vítimas, medidas legislativas e normativas precisam entrar em vigor para garantir a fiscalização. Essa fiscalização ocorre de diversas formas, a mais adotada são os radares de multas.
Apesar da percepção geral da população entender esses dispositivos como uma “indústria da multa”, Rodrigues crê que isso ficou para trás. Ele explica que isso fez sentido enquanto a fiscalização de cumprimento das normas de trânsito era feita por fiscais humanos. Isso abria margem para questionamentos e até possibilitava a percepção da indústria da multa.
“Hoje você tem tecnologias que auxiliam poder público de fazer isso de forma efetiva e inquestionável”, afirma Rodrigues. Para o diretor de operações, é compreensível que as pessoas não gostem de tomar multa, mas são poucos os casos questionáveis. Portanto, as multas são aplicadas para quem está cometendo irregularidades, como dirigir acima da velocidade permitida ou usar o celular.
“Acho que é muito mais a questão de sensação das pessoas receberem uma multa e questionarem ela, entrar com recurso, falar que a placa tava suja, etc”, defende. Mas a eficiência das tecnologias são inquestionáveis.
Rodrigues lembra que, em alguns locais, existem questões técnicas que colocam aquele equipamento em questionamento. Mas ele entende que são exceções. Em todo caso, Rodrigues defende que cabe ao poder público e a engenharia de tráfego fazer os estudos.
“Na sociedade, principalmente na forma que a gente vive hoje, tudo é muito mais digitalizado, muito mais instantâneo, muito mais rápido”, contextualiza. Por isso, a indústria das multas, com os radares como mecanismos de arrecadação, “é muito mais uma percepção do que uma realidade”, conclui.
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