Estudo da Anfavea detalha o potencial do País na transição energética automotiva
No encerramento do Summit Mobilidade, Henry Joseph Junior, da Anfavea, mostra que o País tem várias rotas possíveis no caminho da descarbonização

As montadoras fazem parte da solução ou são as grandes culpadas pela mudança climática global? Em sua palestra magna, que encerrou o Summit Mobilidade 2025, Henry Joseph Júnior, diretor de sustentabilidade e de parcerias estratégicas e institucionais da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), fez a reflexão sobre o papel que a indústria automotiva exerce na descarbonização.
Com o tema “Indústria automotiva e mobilidade no Brasil – desafios e oportunidades para um futuro sustentável”, a apresentação de Joseph foi sustentada pelo estudo que a Anfavea desenvolveu em parceria com o Boston Consulting Group (BCG), no ano passado.
“Os combustíveis fósseis se tornaram o inimigo número 1 do aquecimento global”, afirma. Ele argumenta, porém, que o documento, chamado de “Avanços no caminho da descarbonização”, revelou que o setor de transporte representa 13% das emissões totais de dióxido de carbono (CO2), atrás de atividades como agropecuária (37%) e uso da terra e florestas (29%). “Ou seja, ele não é o vilão do meio ambiente. Dentro desses 13%, o transporte rodoviário responde por 94%”, diz.
O dirigente admite: cabe à indústria automotiva se empenhar para mitigar o impacto ambiental daquilo que ela produz. “O Brasil é protagonista em pesquisas e soluções que podem ser aplicadas no mercado externo para tentar reverter o quadro das emissões”, diz. “Não acreditamos em uma rota única, mas sim na avaliação dos cenários de cada país.”
Leia também: ‘Indústria automotiva não precisa de incentivos, mas de redução da carga tributária’, diz consultor do setor
Transição energética e novas tecnologias
Segundo o estudo, os três principais mercados vêm apostando em novas tecnologias de propulsão como vetor de descarbonização do setor. Nos Estados Unidos, 13% da frota de 2023 eram de veículos híbridos e 7% de elétricos. A projeção é que o número de elétricos chegue a 65% e de híbridos 6% em 2035. Na China, a invasão dos carros movidos a bateria será ainda maior: eles representarão 82% daqui a dez anos, contra 12% dos híbridos. Na Europa, os elétricos serão 93% da frota, numa predominância total sobre os híbridos (6%).
Joseph destaca que a descarbonização não acontece de forma mais acelerada no Brasil porque 40% da frota tem mais de 10 anos. “São carros já equipados com a tecnologia flex, mas produzidos sob legislações de emissões menos rígidas”, lembra. “A renovação ocorre em ritmo lento.”
A boa notícia, ele ressalta, é que o setor automotivo brasileiro não poupa esforços rumo à transição energética, com investimento anunciados acima de R$ 100 bilhões. “Em 2023, 4,5% dos automóveis vendidos no País foram eletrificados, com os híbridos impulsionando essa revolução”, salienta.
Leia também: Eletrificação no transporte dependerá do investimento de muitas tecnologias
O executivo expôs outra dado interessante do estudo da Anfavea. No Brasil, a expansão do setor automotivo na descarbonização está atrelada ao bom funcionamento de uma engrenagem composto por seis fatores, que são: regulamentações e incentivos, cadeia de suprimentos, oferta de veículos eletrificados, atratividade na compra dos modelos, aplicação de biocombustíveis e infraestrutura.
“Eles aspectos devem trabalhar em sincronia, levando em conta um cenário até 2040, quando as novas tecnologias poderão equipar de 35% a 40% de veículos leves e de 15% a 19% dos pesados”, aponta.
Um das tecnologias são os biocombustíveis, divididos, no levantamento da Anfavea, em etanol de primeira e segunda gerações, biodiesel, diesel verde e biometano. Além desses produtos, há investimentos no desenvolvimento de hidrogênio verde.
“Todos apresentam potencial significativo de descarbonização, de 30% a 50% nos veículos leves e de 30% nos pesados, colocando o Brasil em várias rotas possíveis de combate às emissões”, diz. De acordo com o relatório da Anfavea, a combinação das novas tecnologias e a aplicação dos biocombustíveis são capazes de evitar a emissão de 280 megatoneladas de CO2 até 2040.
No entanto, Joseph deixa claro que a transição eficiente está condicionada à criação de um ecossistema no futuro, constituído por infraestrutura de recarga de 750 mil postos, 15 bilhões de litros a mais de etanol (40% acima da oferta atual), nove bilhões de litros adicionais de biodiesel, produção de 370 mil toneladas de hidrogênio e 8% de aumento da produção atual de energia elétrica.
Leia também: Transição energética: projetos de estradas eletrificadas começam a sair do papel no exterior
0 Comentários