Caminhão elétrico cruza Brasil de Sul a Norte com 91 recargas
Partindo de Porto Alegre até Fortaleza, experiência durou 100 dias e foi apresentada na COP30
3 minutos, 52 segundos de leitura
19/11/2025
É possível um caminhão totalmente elétrico cruzar o país? Essa foi a questão levantada pela Aurora Lab no final do ano passado, quando o time se propôs a enfrentar o desafio de um caminhão elétrico que partiu de Porto Alegre em maio deste ano e chegou à Fortaleza com 91 recargas.
Para isso o Mobilidade Estadão conversou com Gabi Vuolo, diretora executiva da Aurora Lab e uma das idealizadoras do projeto.
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Como e quando surgiu essa ideia de levar um caminhão do sul até o nordeste do país?
Gabi Vuolo: Acho que essa ideia nasceu em meados de novembro do ano, quando tivemos que estruturar alguma ideia para a COP30 neste ano. O tema em discussão da descarbonização está em alta no mundo mas não no setor de cargas, e queríamos fazer este teste, para entender a viabilidade e descobrir os principais desafios dos caminhoneiros.
Existia esse desejo de usar a estrada como laboratório para fazer um diagnóstico de como está o cenário de carga pesada no Brasil.
E quais os problemas estruturais que vocês encontraram?
Gabi Vuolo: Os desafios começaram antes da gente começar a viagem, com três grandes questões. O primeiro desafio foi conseguir uma empresa parceira para alugar um caminhão para que pudéssemos realizar essa jornada. As negativas sempre eram vinculadas a não possibilidade de percorrer o caminho todo, levantado pelo lado das empresas.
O segundo desafio foi de fazer um seguro para essa viagem e no final não conseguimos, indo para a estrada sem cobertura. Isso escancarou o problema de que as empresas de seguros não estão prontas para oferecer serviços para esse setor.
O terceiro problema enfrentado foi um esquema de recarga, que sabíamos que não teria em todos os lugares. Eletropostos são gerlamente preparados para veículos de passeio e escassos a medida que subimos o mapa.
Para isso, com um parceiro criou também um adaptador para poder carregar em qualquer eletroposto e em sistemas com 220V trifásicos. Com a autonomia de 150 km do caminhão, fomos bem dedicados em procurar os pontos de recarga.
Quantas cargas o caminhão fez no total?
Gabi Vuolo: O caminhão realizou 91 recargas em 100 dias, mas a disparidade entre os números de recargas nas regiões é muito acentuado. Na região Sul carregamos 9 vezes, 7 em eletropostos. Na região Sudeste foram 34 recargas, sendo 20 em eletropostos.
Já na região Nordeste, fizemos 48 recargas com apenas 7 sendo em eletropostos. A ideia era ir até Brasília e chegar em Belém para a COP30, mas quando subimos para Fortaleza, as dificuldades de recarregar se tronaram constantes. Por questão de segurança e planejamento, decidimos encerrar em Fortaleza.
Como foi apresentar o caminhão elétrico na COP30?
Gabi Vuolo: Eu fiquei surpresa com a receptivivdade da conversa porque as pessoas estavam curiosas para saber os desafios e problemas que passamos. Acabou sendo uma conversa interessante sobre os passos para a descarbonização no setor, em que saíram três questões.
A primeira delas foi o incentivo à regulação, de eletropostos e dos veículos mesmo. A segunda questão foi a necessidade de um interesse e responsabilidade corporativa das empresas. A terceira foi sobre a mudança de cultura, de aceitação da sociedade desses novos modelos.
Quais os principais desafios para descarbonização do setor?
Gabi Vuolo: Acho que a questão da autonomia dos veículos é um grande ponto, pois nenhum caminhoneiro anda 150 km por dia no seu expediente. Junto com isso, a velocidade de recarga também é um ponto importante para o setor pensar, pois tivemos situações em que paramos para recarregar e demoramos 8 horas para completar a bateria.
Estamos falando de uma frota de 2 milhões de caminhoneiros segundo o censo 2019, e enquanto a tecnologia não estiver diponível, muito díficil o setor deslanchar.
Vocês fizeram a conta para ver gastos do caminhão elétrico?
Gabi Vuolo: Sim. pelos nossos cálculos, uma viagem dessa com um rendimento de 2,5 km/l de diesel, consumiria cerca de 2.423 litros no total, gerando um custo de R$ 14.665. Nós gastamos R$ 14.900. Mas não emitimos 6,5 toneladas de gás carbônico na atmosfera em 6 mil quilômetros. Então consideramos que essa diferença miníma foi um grande ponto positivo da expedição.
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