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“Dirigir é um ato arriscado”

Por: Daniela Saragiotto . 27/05/2022

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“Dirigir é um ato arriscado”

Especialista em mobilidade fala sobre desafios e soluções para um sistema viário mais seguro

3 minutos, 16 segundos de leitura

27/05/2022

Ciclistas e motociclistas têm sido as maiores vítimas do trânsito no Brasil. Crédito: Image Bank

Com décadas de vivência no sistema de transporte e de tráfego do País, tanto no Poder Público como em organizações internacionais e instituições de pesquisa, o advogado Sérgio Avelleda, hoje coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, do Insper, consegue ter uma visão que poucos possuem sobre segurança viária, seus desafios e soluções.

Para ele, a consciência dos motoristas dos riscos que as altas velocidades representam é fundamental. Confira, a seguir, algumas de suas reflexões sobre o tema. 

O que é necessário para que o Brasil tenha um trânsito menos violento?

Sérgio Avelleda: A segurança viária depende de um fluxo completo que contemple, em todas as suas etapas e componentes, a visão de um sistema seguro. Dessa forma, a engenharia precisa desenhar vias para proteger todos os que as utilizam, necessita reduzir velocidades, sinalizar adequadamente e proteger os mais vulneráveis. A indústria deve contribuir com veículos cada vez mais dotados de sistemas protetivos para os que estão nele e os demais transeuntes. Os motoristas precisam estar treinados e conscientizados do risco que representa o ato de dirigir e condicionados a conduzir os veículos tendo a segurança como principal premissa. O que chamamos de direção defensiva é exatamente a consciência do risco, antes de mais nada.

Por que é importante que os motoristas tenham essa consciência?

Avelleda: Dirigir é um ato arriscado. Com essa consciência, o motorista adota, como que por instinto, as medidas protetivas para si e para todos os demais ao seu redor. Reduz a velocidade, dá preferência a pedestres e ciclistas, conduz pensando sempre na sua segurança e na dos demais que fazem parte do sistema. A junção de todos esses componentes – engenharia, indústria e direção defensiva – resultaria em um trânsito seguro, em que a visão zero de fatalidades estaria permeando a política de tráfego e a maneira de conduzir os veículos pelas pessoas.

Como conduzir nossa sociedade para a transição rumo a um sistema viário mais seguro?

Avelleda: Em primeiro lugar, o processo de formação dos motoristas deve mudar. Ele deveria ser mais rigoroso, com aulas e provas mais complexas e, principalmente, deveria expor o condutor, com um instrutor, ao trânsito no papel de pedestre e, se possível, também no de ciclista. Deveria fazer parte do treinamento caminhar pelas ruas da cidade mostrando ao candidato a vulnerabilidade do pedestre e seu papel nesse sentido. Outro aspecto fundamental é a conscientização do risco da velocidade, pois as pessoas não têm noção disso. É preciso que elas compreendam a diferença entre trafegar a 30 km/h e 50 km/h – que, para quem está dentro do carro, não aparenta ser muito grande –, mas é decisiva quanto à morte ou à sobrevivência de um pedestre, no caso de uma colisão. Essa consciência precisa ser transmitida desde as primeiras aulas. E não estamos falando de altíssimas velocidades: basta 40 km/h ou 50 km/h para, praticamente, eliminar a possibilidade de sobrevivência de um pedestre.

Na sua visão, os motoristas deveriam ser reavaliados periodicamente?

Avelleda: Deveria haver, a cada cinco anos, no mínimo, uma nova checagem se aquele motorista mantém os mesmos atributos e capacidades de dirigir. Seria importante uma reciclagem e um novo exame de verificação para entender se os habilitados continuam atendendo aos requisitos iniciais e se estão atualizados em termos de legislação de trânsito e em consciência do risco em relação à velocidade.

Foto: Acervo Pessoal

Sergio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, do Insper: “O processo de formação dos motoristas deve mudar. Necessita ser mais rigoroso, com aulas e provas mais complexas”

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