eVTOLs serão realidade em 2026
Chamadas de carros elétricos voadores, aeronaves vão revolucionar a mobilidade urbana
Aeronaves do tipo electrical vertical takeoff and landing, ou eVTOL, para o transporte de passageiros, estão sendo desenvolvidas por startups em diversas partes do planeta, como no Reino Unido, nos Estados Unidos e até mesmo no Brasil. “É uma espécie de corrida espacial para ver quem certificará o primeiro eVTOL para transporte de passageiros. Ainda é cedo para identificar um vencedor, mas já se pode falar que as autoridades aeronáuticas estão fazendo um excelente trabalho, combinando agilidade documental com segurança operacional”, resume Sergio Quito, conselheiro de segurança e de operações da Gol.
“O advento dessa tecnologia é um marco de revolução na mobilidade em grandes cidades. A atual matriz de transporte terrestre já apresenta saturação há anos nas regiões metropolitanas: os congestionamentos geram prejuízos aos negócios, além dos danos sociais provocados pela poluição produzida pela queima de combustíveis fósseis, pelos acidentes de trânsito e por todo o custo que esses males geram. A aplicação de energia limpa é, também, uma realidade bem clara em automóveis, e é inevitável que esse avanço chegue ao modal aéreo”, afirma Andrei Oliveira da Silva Santos, major no Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Por aqui, nossa representante é a Eve, empresa da Embraer que formalizou, junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em fevereiro, o processo para entrega de Certificado de Tipo ao projeto do eVTOL, oficializando seu compromisso com os requisitos técnicos e de aeronavegabilidade obrigatórios. “O Brasil tem algumas ilhas de excelência, e a regulação aérea é uma delas. O racional desse negócio é que iremos resolver um problema da sociedade, que é a locomoção de forma ágil, tudo isso alavancado no conhecimento da Embraer e usando, por fim, uma tecnologia disruptiva e sustentável”, resume André Stein, co-CEO da Eve.
A empresa trabalha com a Thales, francesa que comercializa sistemas de informação e serviços para as indústrias aeroespacial, de defesa e de segurança. “Na nossa parceria com a Eve, temos um cronograma inicial de 12 meses para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o eVTOL. Depois desse prazo, um protótipo começa a ser desenvolvido, ainda sem data definida para lançamento”, explica Luciano Macaferri, diretor-geral da Thales no Brasil.
Próximo voo
A Eve, entretanto, já estabelece o período para início da operação: 2026. “E essa é uma previsão bem realista, levando em conta todo o trabalho de desenvolvimento e certificações que ainda precisa ser feito”, diz Stein. Em maio, a empresa fez uma série de voos experimentais na capital carioca para avaliar novas tecnologias em condições reais.
“Simulamos a operação do eVTOL com passageiros com helicópteros, inclusive com venda de passagens. Atendemos mais de 600 pessoas, indo da Barra da Tijuca até o aeroporto do Galeão, e o valor foi a partir de R$ 99. No geral, o voo ficou seis vezes mais barato, comparando com um helicóptero”, diz Stein. O piloto estava presente nesses sete dias de voos da empresa. “O futuro é autônomo, mas iremos seguir até que a certificação completa de um sistema pilotado remotamente seja alcançada”, completa o co-CEO.
A GOL também entrou nesse mercado ao anunciar, em setembro do ano passado, um acordo com a irlandesa Avolon para compra ou arrendamento de 250 aeronaves até 2025. “O transporte de passageiros nas aeronaves eVTOLs seria feito em operações regulares similares às atuais da Gol, em dias e horários marcados. A previsibilidade é essencial para o sucesso no controle de espaço aéreo e sustentabilidade do negócio”, explica o executivo. O conceito de operações envolve a compra da passagem por meio das plataformas de vendas, e o passageiro se dirigindo ao local do voo. “Por exemplo, no aeroporto de Guarulhos, após a chegada de um voo internacional, realizando seu check-in e embarcando na aeronave”, explica.
A Azul também tem planos nesse novo segmento. Em agosto, anunciou uma parceria com a alemã Lilium para construir, no Brasil, uma malha com aeronaves elétricas do tipo eVTOL a partir de 2025.
Usos ilimitados
Embora o transporte de passageiro seja apontado como uma forte vocação para os eVTOLs, ela não é a única. “Para ter uma breve ideia do que se discute com essas aeronaves, já consideramos a possibilidade de ver ambulâncias aéreas e veículos policiais de resposta rápida. O transporte de cargas também faz parte do roadmap desse produto e mercado”, explica o diretor-geral da Thales no Brasil, completando que tudo será feito de forma autônoma.
Preparando o horizonte
Infraestrutura aeroportuária, controle de tráfego aéreo e aceitação das pessoas são alguns desafios
Por ser um mercado muito novo e disruptivo no mundo todo, há diversas barreiras a serem superadas até a operação comercial. A começar pelo trabalho de desenvolvimento do equipamento e avaliação de sua viabilidade operacional. “Meu ponto de vista é que o agente regulador precisa caminhar junto com o desenvolvimento do produto, definindo, no início, as regras que precisam ser cumpridas e, no final, avaliar se elas estão consistentes”, diz Roberto Honorato, superintendente de aeronavegabilidade da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A infraestrutura aeroportuária também demanda atenção. “A operação desses aparelhos somente será viável quando houver uma rede de estações de embarque e desembarque, que estamos chamando de VertPorts”, explica Andrei Oliveira da Silva Santos, major no Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). É preciso ter, no perímetro urbano, dezenas de estações para operações simultâneas de eVTOLs, com embarque e desembarque de centenas de passageiros, e o carregamento dos aparelhos que exigem redes elétricas de alta capacidade.
O controle do tráfego aéreo é outro grande desafio. “Para que o eVTOL se estabeleça como um serviço de táxi aéreo, é preciso que o controle dos voos e o desconflito entre as rotas sejam feitos com capacidade computacional”, diz o major do Decea.
Aceitação
Para o conselheiro de segurança e de operações da GOL, a aceitação pública é um dos principais desafios para o sucesso dos eVTOLs. “Uma aeronave elétrica e com uma operação diferente do que os clientes estão acostumados, incluindo os passageiros frequentes, são pontos-chave para que o negócio possa ser sustentável ambiental e financeiramente”, diz. Fabricantes e reguladores têm endereçado todos esses pontos. “A absorção de novas tecnologias passa por etapas de aceitação. Não se trata apenas da criação de novas soluções mas uma nova tecnologia tem que promover a percepção de seu valor para que a indústria patrocine sua aplicação comercial”, diz o major do Decea.
Segundo ele, conquistar a confiança das pessoas passa por demonstrar segurança e benefícios em suas vidas. “E os fabricantes de aeronaves sabem disso. Poucas indústrias possuem níveis de confiabilidade tão elevados como a aeronáutica. O eVTOL está sendo desenvolvido nos mais elevados graus técnicos, será submetido a rigorosos critérios de certificação e só entrará em operação quando houver a certeza de sua aplicação viável e segura”, finaliza.
Este será um temas debatidos no Parque da Mobilidade Urbana, que acontecerá entre 23 e 25 de junho, no Memorial da América Latina (SP). Para saber mais sobre o evento e fazer a inscrição, clique aqui.
Leia também: objetos voadores identificados.
Quer uma navegação personalizada?
Cadastre-se aqui
0 Comentários