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Quando a empatia aumenta a segurança viária

Por: Rogério Viduedo . 13/07/2022

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Quando a empatia aumenta a segurança viária

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3 minutos, 50 segundos de leitura

13/07/2022

maio amarelo
O ciclista Anderson Augusto entende a dificuldade dos motoristas em monitorar os pontos cegos. Foto: Rogério Viduedo

Brunna Rodrigues Zannetim é uma das 117 motoristas recém-admitidas no sistema de transporte público da SPTrans, na capital paulista, que passou por um dos quatro treinamentos de inversão de papéis com ciclistas, realizados nos últimos 12 meses. A capacitação acontece, desde 2017, com algumas das empresas concessionárias das 1.600 linhas que operam 13.000 veículos e transportam 6,7 milhões de passageiros, diariamente.

O objetivo é chamar a atenção de quem divide as ruas da cidade para as dificuldades enfrentadas pelo outro lado e, assim, aumentar a segurança viária, contribuindo para reduzir a taxa de mortalidade no trânsito, das atuais 6,5 pessoas por 100 mil habitantes, para 4,5.

A última atividade aconteceu, em 26 de maio, nas ruas da Cidade Universitária, zona oeste paulistana. Em cima de uma bicicleta estacionária, Bruna sentiu na pele o efeito da “fina educativa”, quando o condutor do carro decide, deliberadamente, ultrapassar um ciclista a menos de 1,5 metro de distância e em velocidade incompatível com a segurança, infringindo o Artigo 201, do Código de Trânsito Brasileiro.

A motorista Brunna Zannetim experimenta a fina educativa no treinamento: “Baquezinho”. Foto: Rogério Viduedo

Experiência pela metade

Pedalar parado, no entanto, não reflete 100% da experiência vivida por ciclistas, cotidianamente, quando tomam a “fina”, mas, ainda assim, a aproximação de um ônibus de 13 metros, e o consequente deslocamento de ar que ele provoca ao passar bem rente ao grupo de ciclistas, é marcante.

“Dá um baquezinho, sim. A gente fica preocupada”, diz Brunna, logo após sair da bicicleta. “Eu me senti um pouco trêmula. Não tinha noção do vento que faz, do balanço que dá”, sorri, encabulada.

Ela diz haver muitos ciclistas na rota que cumpre na zona sul e, por isso, redobra a atenção, principalmente, nas faixas da Avenida Nações Unidas, no período entre 17h e 19h. “Eu não tenho problema com ciclistas, pois sou prudente. Quando estão na minha frente, eu reduzo a velocidade e espero a decisão deles para eu tomar a minha. Se vão ficar naquela faixa, eu saio para a outra e ultrapasso com segurança”, explica.

Pontos cegos

Enquanto motoristas ocupam as bicicletas, ciclistas, convidados pela SPTrans, têm a oportunidade de se sentarem ao volante de um ônibus articulado de 26 metros de comprimento. É uma jamanta que, vazia, pesa 40 toneladas e pode carregar quase 200 pessoas. Para cumprir o efeito desejado, foi estacionado em “V”, de forma a simular uma das posições mais ingratas em termos de visualização do que acontece dentro e fora do ônibus.

O publicitário Anderson Augusto, ciclista veterano, atesta a dificuldade pela qual passam motoristas. “Quando nos sentamos no cockpit do ônibus,é que a gente entende o lado dos motoristas, que operam um veículo de várias toneladas e que possui vários pontos cegos, nas laterais e na frente. A gente precisa entender que é preciso empatia de ambos os lados”, opina.

Os pontos cegos aos quais Augusto se refere são os locais dos ônibus em que o motorista não nota a presença de alguém, mesmo com o auxílio de quase uma dezena de espelhos. Por isso, a SPTrans tem instruído as empresas concessionárias da cidade a colarem adesivos amarelos que devem ficar na altura da visão de ciclistas e pedestres e alertar para o perigo de estarem ali. “O motorista não consegue ver esses pontos, a não ser que tivesse auxílio de câmeras e um monitor”, calcula o ciclista.

Alta mortalidade

Leandro Ventura, outro motorista presente ao treinamento, conta uma experiência que quase resultou em morte. “Aconteceu quando eu estava parado na Avenida Brasil para entrar na Nove de Julho. O farol abriu e, quando comecei a acelerar para entrar à direita, fui interrompido por gritos: ‘Para, Para!’ Se um dos passageiros e o cobrador não me alertassem, eu acho que eu tinha matado o ciclista. Eu não tinha visto ele ali”, confessa.

Segundo o Infosiga, houve três mortes de ciclistas de janeiro a março deste ano provocadas por ônibus, na capital, mas só uma delas teve envolvimento de empresa de transporte municipal. O número de pessoas em bicicleta feridas neste trimestre somou 22 pessoas.

Já o último relatório de sinistros de trânsito de 2020, produzido pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), mostra que, apesar de a frota de ônibus representar não mais do que 3% do total de veículos que trafegam no município, eles são responsáveis por 15% dos atropelamentos fatais.

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