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Fotos: a resiliência das mulheres pelo mundo

Por: Estadão Conteúdo . 13/10/2022

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Fotos: a resiliência das mulheres pelo mundo

Exposição em São Paulo traz fotos de mulheres que enfrentaram desafios pela liberdade; a mostra é gratuita e está em cartaz no Instituto Artium, em Higienópolis

4 minutos, 4 segundos de leitura

13/10/2022

O retrato Finding Freedom in the Water (Encontrando liberdade na água, em tradução livre), de Anna Boyiazis, compartilha a história de alunas da Escola Primária Kijini que aprendem a nadar e a realizar salvamentos, no Oceano Índico. FOTO: © ANNA BOYIAZIS/DIVULGAÇÃO/EXPOSIÇÃO RESILIÊNCIA

Com reportagem de Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo

Mulheres acompanham a partida da Copa da Liga dos Campeões da AFC entre os times Persepolis, do Irã, e Kashima Antlers, do Japão, em uma seção segregada de uma arquibancada no Estádio Azadi, no Teerã, Irã, em 10 de novembro de 2018. FOTO: © ALAEI FOROUGH/DIVULGAÇÃO/EXPOSIÇÃO RESILIÊNCIA

A presença de mulheres na arquibancada de estádios em jogos de futebol é corriqueira em muitas regiões do mundo, mas a imagem registrada em 2018 pela fotógrafa iraniana Alaei Forough, que mostra torcedoras iranianas assistindo a uma partida em um estádio em Teerã, é significativa: as leis do país não permitem o acesso feminino em estádios, mas, naquele dia, um grupo delas pôde assistir ao jogo entre Persépolis e o time japonês do Kashima Antlers.

A imagem captada por Alaei, mostrando a reação das torcedoras na arquibancada, tornou-se significativa como exemplo, ainda que fugaz, de liberdade. Tanto que foi uma das vencedoras do concurso da World Press Photo de 2019 com o título Crying for Freedom (Gritando por liberdade, em tradução livre). É justamente a intenção de mostrar tal força feminina diante de adversidades que inspira a exposição Resiliência – Histórias de Mulheres que Inspiram Mudanças, que abre nesta sexta, 14, no Instituto Artium de Cultura.

São retratos documentados por 17 fotógrafos, de 13 nacionalidades diferentes, entre 2000 e 2021 e que expressam, por meio das imagens, suas visões sobre questões como sexismo, violência contra mulher e direitos reprodutivos. “São exemplos de luta pela igualdade de gênero”, observa Wieneke Vullings, cônsul-geral do Reino dos Países Baixos, que organizou a mostra juntamente com a Fundação The World Press. “E é ainda mais significativo agora, quando vivemos o período pós-pandemia e que podemos sair de casa e voltarmos a nos preocupar com o que acontece ao redor do mundo.”

De fato, a imagem das torcedoras se expressando livremente no estádio iraniano revela uma forte carga de resistência: antes, quem se arriscasse era sumariamente encarcerada. Foi o que aconteceu em 2018, quando 35 mulheres foram presas depois de tentarem entrar em um estádio para acompanhar o jogo entre Persépolis e Esteghlal.

Dayana e Jairo, ambos ex-membros da Farc, deitam-se em uma cama com sua filha Andrée Nicole, na Colômbia. FOTO: © CATALINA MARTIN-CHICO/DIVULGAÇÃO/EXPOSIÇÃO RESILIÊNCIA
Dayana e Jairo, ambos ex-membros da Farc, deitam-se em uma cama com sua filha Andrée Nicole, no Rio Guayabero, Colômbia, em 21 de fevereiro de 2018. O retrato se chama Colombia, (Re)Birth, e se refere ao baby boom e à transição de volta à ‘vida normal’ entre as mulheres da guerrilha. FOTO: © CATALINA MARTIN-CHICO/DIVULGAÇÃO/EXPOSIÇÃO RESILIÊNCIA

DISFARCE

As mais determinadas, como Alaei Forough, chegaram a se disfarçar como homens para conseguirem acesso às arquibancadas. Foram momentos de tensão, pois houve hostilidade de alguns torcedores, mas também outros homens as apoiaram a seu modo, ou seja, ficando em silêncio mesmo sabendo que estavam ao lado de uma mulher. A liberação para aquela partida contra o time japonês — que só veio depois de uma pressão da Fifa — foi como a explosão de um grito preso no peito.

“Lembro que, quando passamos pelo portão e entramos no estádio, não consegui segurar as lágrimas por cerca de 10 minutos. Era tão humilhante quando você tinha de mudar seu rosto — nós até tivemos de enfaixar nossos seios para parecerem achatados como o dos meninos”, contou Alaei ao site Artistas No Musas, que defende os direitos femininos.

São momentos significativos como esse que marcam a exposição.

Wieneke aponta outro exemplo de resiliência: o retrato Finding Freedom in the Water (Encontrando liberdade na água, em tradução livre), da fotógrafa Anna Boyiazis, compartilha a história de alunas da Escola Primária Kijini que aprendem a nadar e a realizar salvamentos, no Oceano Índico, na Praia de Muyuni, Zanzibar. Tradicionalmente, as garotas do Arquipélago de Zanzibar são dissuadidas de aprender a nadar, muito por causa da falta de roupas de banho “mais recatadas”.

“Sou mãe de uma menina de 4 anos que frequenta livremente aulas de natação, portanto, essa imagem é particularmente forte para mim.” Para ela, além do aspecto estético, as fotografias refletem um compromisso contra a violência contra mulheres, uma grave ameaça global.

Na cidade de Limerick (Irlanda),  figuras gigantes, que representam o tratamento hostil dado às mulheres, esperam para desfilar em apelo silencioso aos moradores para que mudem a lei contra o aborto. A artista Alice Maher colocou discos como espelhos em suas cabeças 'para refletir de volta à sociedade irlandesa sua própria hipocrisia flagrante'. FOTO: © OLIVIA HARRIS/DIVULGAÇÃO/EXPOSIÇÃO RESILIÊNCIA
Na cidade de Limerick (Irlanda), figuras gigantes, que representam o tratamento hostil dado às mulheres, esperam para desfilar em apelo silencioso aos moradores para que mudem a lei contra o aborto. A artista Alice Maher colocou discos como espelhos em suas cabeças ‘para refletir de volta à sociedade irlandesa sua própria hipocrisia flagrante’. FOTO: © OLIVIA HARRIS/DIVULGAÇÃO/EXPOSIÇÃO RESILIÊNCIA

RESILIÊNCIA — HISTÓRIAS DE MULHERES QUE INSPIRAM MUDANÇA

  • Instituto Artium de Cultura
    Rua Piauí, 874. 3ª a 6ª, 12h/18h
    Sáb. e dom., 10h/18h. Gratuito
    Abre 14/10. Até 6/11

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