Associação Multiplicando Sonhos leva educação financeira às periferias
Em 2022, instituição formou cerca de 1.500 jovens de curso pré-vestibular e cinco escolas públicas da cidade de São Paulo
Ensinar educação financeira a jovens de escolas públicas e mostrar que toda jornada começa no sonho que é seguido de planejamento, organização e conhecimento. É por meio dessa ideia que a associação sem fins lucrativos Multiplicando Sonhos procurar leva conhecimento financeiro a jovens da periferia. Em 2022, a organização atuou em cinco escolas públicas da zona leste da capital paulista e num cursinho pré-vestibular na cidade de São José dos Campos (SP), formando cerca de 1.500 alunos.
A ação contou com apoio e parceria da Universidade Presbiteriana Mackenzie, da Arton Advisors, da 99 Pay e da JVN Locadora.
A entidade comemorou sua última etapa de formação deste ano em 11 de novembro, com uma celebração na Escola Estadual Jardim Iguatemi, onde se formaram 480 alunos do terceiro ano do ensino médio.
O empreendedor Evandro Mello, CEO e fundador da Multiplicando Sonhos, explica que o objetivo da instituição é transformar a vida de jovens de escolas públicas por meio da educação financeira. Recentemente, a entidade passou a integrar o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, iniciativa que envolve o setor privado em ações direcionadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Educação financeira — O programa de educação financeira da Multiplicando Sonhos é composto por oito aulas sobre comportamento, finanças, empreendedorismo e sustentabilidade. “Após as aulas, percebemos que os jovens passaram a vislumbrar a possibilidade de realizar sonhos. Somos uma ponte entre essa juventude e o acesso à educação financeira. Vimos jovens negros, mulheres, estudantes que trabalham e ajudam a compor a renda familiar, muitas vezes de famílias de mães ou pais solos”, explica.
Uma das jovens formadas é Ana Clara Gusmão, 18, que passou por todas as etapas na Escola Estadual Jardim Iguatemi. “Sempre tive insegurança e, depois do ensino médio, a preocupação está em arcar com custos como o de uma faculdade, o que gerava ansiedade. As aulas são dinâmicas e me ajudaram a entender melhor sobre o tema”, diz. “Uma vez, deram uma paçoca em sala de aula, depois passaram um vídeo formativo e, no final da aula, os alunos que não comeram a paçoca, ganharam outra. Queriam explicar com isso que se a gente conseguir poupar hoje e nos organizarmos, amanhã teremos mais”, relata Ana, que sonha em ser professora de Matemática.
Diretora de Estudos Comportamentais da Multiplicando Sonhos, Isabella Paschuini afirma que o melhor resultado foi ver que o primeiro passo da educação financeira foi dado a esses jovens na periferia. “Foram 144 horas de aula sobre educação financeira na Escola Estadual Jardim Iguatemi, os alunos colocaram 282 sonhos no papel. Ao longo do tempo, é possível perceber como o conhecimento financeiro vai evoluindo sobre temas como inflação, juros, renda fixa e variável, mesmo que a gente utilize outras linguagens para falar sobre isso”.
O estudante Bruno dos Santos Augusto, 18, que sonha em se formar em Direito, conta que todos os conhecimentos recebidos em sala de aula foram partilhados com sua família. “Sem organização, não vamos a lugar nenhum. Foi isso que aprendi. Vendo minha família sempre endividada, quis mudar meu futuro. Nunca consegui ter um apoio e aprofundamento até então. Essa mentoria me ajudou a ver onde minha família estava errando. Mostrei para os meus pais toda organização financeira que montei no computador”, detalha.
De acordo com a diretora da Escola Estadual Jardim Iguatemi, Susy Rocha Ribeiro, o projeto veio para se somar ao currículo de formação regular dos estudantes do ensino médio. “Excepcionalmente neste ano tivemos 12 turmas formadas. Percebemos um grande engajamento dos alunos e muitos deles hoje enxergam a educação financeira como algo presente na vida e no cotidiano”, avalia.
Histórias de vida — O hoje professor Lindberg Clemente de Morais, coordenador de Programas, Projetos e Serviços da Universidade Presbiteriana Mackenzie, observa na iniciativa sua própria história, como estudante de escola pública do interior do Rio Grande do Norte. “Foi uma escola pública que me abraçou, que me tirou das drogas e me ensinou o caminho de uma vida digna. Sem escola pública, não temos democracia. Essa é uma fala de Anísio Teixeira, a quem eu dedico todo meu tempo de pesquisa. Cheguei onde cheguei porque tive professores que seguraram em meus braços”, destaca.
Assim como professor Lindberg, outra vida impactada foi a do aluno camaronense Karl Yves Georges Kenko, 19, estudante do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Barão de Ramalho, no bairro Penha de França. “Quando cheguei no Brasil, estava perdido, sem falar a língua. Depois das aulas do Multiplicando Sonhos, estou entendendo melhor as coisas e consegui um emprego no Banco Safra como jovem aprendiz. Espero que esse projeto ajude mais jovens como me ajudou.”
Karoliny Camily, ex-aluna da Multiplicando Sonhos no projeto piloto realizado em 2019, também comenta sobre os frutos do projeto. ‘Comecei vendendo doces na escola para ter uma renda. Aprendi com as aulas que precisava me organizar melhor financeiramente. Hoje, tenho um trabalho fixo em uma empresa e estou me preparando para realizar um intercâmbio nos Estados Unidos no próximo período. Isso só foi possível porque coloquei em prática os conhecimentos sobre planejamento financeiro”, conclui.
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