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Alunas do Batucavidi, no Vidigal, fazem intercâmbio na Europa

Por: Vanessa Ramos . 22/11/2022

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Alunas do Batucavidi, no Vidigal, fazem intercâmbio na Europa

Alunas do Batucavidi, no Vidigal, fazem intercâmbio na Europa

3 minutos, 53 segundos de leitura

22/11/2022

Alunas do Batucavidi em intercâmbio na Europa. Foto: Bruno Lavit

A professora de musicalização Isis Maria, de 28 anos, é protagonista na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, onde nasceu e cresceu. Fundadora do Batucavidi, um grupo que ensina percussão para crianças e adolescentes, ela também criou o espetáculo musical O Voo das Fitas, onde canta, toca viola caipira e naipe de percussão.

A linha do tempo do sonho de formar jovens percussionistas começou em 2016 quando Isis adaptou baldes e baquetas para ensinar crianças de um jeito improvisado. Dois anos depois, surgiria o Batucavidi, com o apoio da ONG Favela Inc., cujo fundador é o norte-americano Adam Newman. O espaço recebeu instrumentos doados pela trupe francesa Batukavi. Naquele ano, a professora fez sua primeira viagem internacional, para França, e os franceses ficaram hospedados no Vidigal durante 15 dias em 2019. Daí veio o convite para o intercâmbio dos alunos brasileiros. Por causa da pandemia de covid-19, a viagem foi adiada duas vezes até finalmente ocorrer em abril de 2022 com a participação de 12 alunos e 3 professores.

Crianças e jovens estiveram com os músicos do Batukavi em Grenoble, na França, em experiências de acampamento e trocas de aprendizagem. Também partilharam apresentações no centro comercial da cidade, em parque de diversão e no Estádio dos Alpes de futebol.

“Sou da arte desde muito cedo, trabalho hoje com uma turma de 65 alunos e 90% são pretos, entre meninos e meninas”, conta Isis. “Quando a gente viajou, a maioria era mulher. O empoderamento e o feminismo são muito importantes. E, além disso, precisamos ocupar com a nossa fala os lugares de maioria branca”, avalia.

Em sua agenda pela Europa, o Batucavidi foi até Genebra, na Suíça, percorrendo sete lugares, chegando a se apresentar na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) para representantes de algumas nações na atividade cultural A Social Program Experience in Brazil: the Heritage of Afro Drums Forging a New Generation (Uma experiência de programa social no Brasil: a herança dos tambores afro forjando uma nova geração).

“Antes da apresentação, fiz um breve discurso na sede da ONU. Comecei a falar em português e resolvi me apresentar em inglês”, diz a professora. “Vi a cara das pessoas impressionadas comigo, mulher preta, de 1,58 metro de altura, num lugar de maioria branca. Falei sobre sermos brasileiros, estarmos ali ocupando o lugar e falando de nossa cultura.”

Isis Maria, fundadora do Batucavidi. Foto: Kevin David

Inspiração e novos sonhos — Isis Maria explica que o apoio da Favela Inc. no processo de incubação de seu projeto, assim como o ensino sobre marketing, desenvolvimento pessoal e educação financeira ajudaram o grupo a crescer. Mais de 100 crianças já passaram pela formação musical, que recebeu R$ 3.500 em instrumentos. Sete pessoas estão envolvidas na operação. “Seis são mulheres, a maioria negra”, diz Isis, que inspira crianças e adolescentes no Vidigal.

Uma de suas alunas é Ana Clara Cruz, de 15 anos, que teve seu primeiro contato com o Batucavidi em 20 de novembro de 2019, Dia da Consciência Negra, como faz questão de contar. “Assisti a uma apresentação em um evento social em que eles tocaram, fiquei extremamente encantada com os ritmos, com a dança e a alegria do pessoal. Nunca tinha visto nada daquele tipo antes”, descreve.

Depois, uma amiga levou Ana Clara num ensaio, onde iniciou uma história que a faria sair pela primeira vez do Rio de Janeiro, no intercâmbio pela Europa. “O Batucavidi me abriu diversas portas. Quando vi que realmente estava sobrevoando o Brasil, entrei em êxtase! Aprendi que o céu não é meu limite e que posso fazer tudo que quiser”, ressalta.

Ser atriz profissional, viajar o mundo e conhecer novas culturas estão entre os novos sonhos de Ana Clara, que afirma se inspirar no trabalho realizado por Isis Maria. “Com certeza, a Isis é uma das minhas maiores inspirações, não só como professora, mas como mulher. Ela me ensina a ser boa cidadã todos os dias, claro que com puxões na orelha”, brinca, ao falar sobre a relação e o comprometimento da professora.

O Batucavidi ainda não gera renda para seus colaboradores. Mas esse é um objetivo de Isis. “Todas as pessoas envolvidas na coordenação do projeto atualmente têm um trabalho externo para sobreviver, ou seja, são voluntárias. A manutenção dos custos do projeto é garantida através das apresentações. Mas o nosso sonho é garantir renda e condições para que todas as pessoas envolvidas possam se dedicar integralmente ao projeto”, finaliza.


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