Ciclovia retirada para dar lugar a estacionamento sob o Minhocão, em SP, provoca protestos
Vereadores, associações e especialistas afirmam que ação contraria Plano Diretor da cidade e defendem interrupção das obras

A decisão da Prefeitura de São Paulo de transformar em estacionamento para carros uma parte do canteiro central da avenida Amaral Gurgel, que fica sob o Elevado Presidente João Goulart (popular ‘Minhocão’), está provocando uma onda de protestos de associações, vereadores e especialistas em mobilidade urbana. A principal crítica, nesse sentido, é que retirar uma ciclovia para priorizar o transporte de carros seria um retrocesso.
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A vereadora Renata Falzoni (PSB) e o vereador Nabil Bonduki (PT) entraram com uma Ação Popular contra a Prefeitura. Eles defendem que as obras sejam interrompidas até que sejam apresentadas mais informações sobre o tema. Em suas redes sociais, Falzoni foi uma das primeiras a denunciar a decisão, que ela chamou, dessa forma, de um “show de horrores”. “A medida reduz o espaço de pedestres e ciclistas, desrespeita o Plano Diretor e ignora as necessidades urgentes da cidade diante da crise climática”, disse a vereadora.
Bonduki também foi contundente. “O dinheiro público está sendo desperdiçado com essa ideia absurda do vice-prefeito, que busca holofotes”, afirmou em suas redes sociais. Além disso, ele ressaltou que a avenida já fica congestionada todo final de tarde e, com o estacionamento, a situação se tornaria um verdadeiro “caos”.
Ciclovia retirada contraria Plano Diretor
A Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) também publicou uma nota repudiando a remoção da ciclovia. A entidade diz o que está ocorrendo é um desmonte das políticas pró-mobilidade ativa consagradas no Plano Direitor, Plano de Mobilidade Urbana, Plano Cicloviária, assim como no Plano de Ação Climática e na Agenda 2030. A nota diz ainda que se trata de uma “inversão de prioridades” realizada sem participação popular e transparência quanto aos gastos públicos envolvidos.
“Com isso, [a Prefeitura] segue privilegiando a mobilidade de uma pequena parcela da população, já que 64% das viagens em São Paulo são realizadas em transporte público e por modos ativos, de acordo com a Pesquisa Origem-Destino de 2023”, ressalta a nota.
Para o engenheiro Luis Kolle, atual presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), a decisão da Prefeitura “contraria toda e qualquer política pública sustentável de trânsito em grandes cidades”. Segundo Kolle, deveria haver estímulos ao transporte cicloviário, e não o contrário. Além disso, ele afirma que há risco de que, com o estrangulamento da ciclovia que passa no local, ciclistas e pedestres fiquem expostos a riscos desnecessários.
Ele destaca a contrassenso de realizar a obra para retirada de ciclovias um dia após a 8ª Conferência da Cidade de São Paulo. Isso porque a conferência encaminhou propostas de valorização dos transportes ativo e coletivo ante ao transporte individual motorizado. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o vice-prefeito Mello Araújo (PL) não compareceram à conferência.
Protesto nesta terça, 29
Uma manifestação com bicicletas, ou “bicicletada”, foi convocada pelo coletivo Massa Crítica São Paulo para esta terça-feira, 29, às 20 horas. O local marcado para o protesto é o cruzamento da avenida Amarel Gurgel com a avenida Major Sertório. O movimento protesta contra a retirada da ciclovia e denuncia o “higienismo cruel” da Prefeitura contra pessoas em situação de rua.
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