Dia do Motorista: mulheres almejam dirigir caminhões

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Dia do Motorista: mulheres almejam dirigir caminhões; faltam políticas empresariais

Por: Isabel Lima . Há 1 dia atras

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Mobilidade para quê?

Dia do Motorista: mulheres almejam dirigir caminhões; faltam políticas empresariais

Em um simples processo seletivo com 12 vagas destinado a mulheres, empresa recebeu mais de 600 inscrições; experiência mostra apetite das mulheres brasileiras para tornarem-se motoristas de caminhão

4 minutos, 3 segundos de leitura

25/07/2025

Antes de virar motorista, Roselene trabalhou como boia-fria, doméstica e faxineira para sustentar sozinha os dois filhos. Foto: Divulgação/JSL
Antes de virar motorista, Roselene trabalhou como boia-fria, doméstica e faxineira para sustentar sozinha os dois filhos. Foto: Divulgação/JSL

Aos 57 anos, Eleonara Faria passou quase uma década tentando ocupar o lugar que sempre quis: o banco do motorista. Natural de Natércia (MG), ela comprou um cavalo mecânico em 2014 e chegou a abrir uma transportadora, mas ainda não tinha habilitação para dirigir carretas. Só em 2022, com a troca da CNH para a categoria E, pôde enfim conduzir o próprio caminhão. “Mesmo com o documento em mãos, enviei mais de 800 currículos e não tive retorno. Era como se não vissem a gente ali”, conta.

Leia também: Apenas 4% dos motoristas de caminhão no Brasil são jovens

Foi por meio de conhecidos que Eleonara soube da existência do programa Mulheres na Direção, da JSL. “Eu não me enquadrava nos critérios da vaga original, mas algum tempo depois a empresa me convidou para participar do curso. Foi quando a porta finalmente se abriu”, relembra. Desde maio de 2025, ela atua como motorista carreteira na unidade de Louveira (SP). “Hoje me sinto renovada. Tenho uma filha, três netos e muito orgulho do que construí.”

Antes de conseguir a vaga, Eleonara trabalhou com financiamento de veículos — inclusive de caminhões que ela mesma sonhava dirigir, mas não podia por não ter habilitação. Foto: Divulgação/JSL
Antes de conseguir a vaga, Eleonara trabalhou com financiamento de veículos — inclusive de caminhões que ela mesma sonhava dirigir, mas não podia por não ter habilitação. Foto: Divulgação/JSL

Até o Dia do Motorista, mulheres lutam por oportunidades

Roselene Aparecida Marcelo, 61, também viu o caminho se abrir tardiamente. Moradora de Piracicaba (SP), ela teve o primeiro contato com a direção ainda criança, quando pegou escondido a chave do fusca do tio. Aos 12 anos, ao ver uma mulher dirigindo um caminhão pela primeira vez, decidiu: seria motorista. A habilitação veio em 1994, mas a paulista só conquistou a categoria E em 2009, após incentivo do filho.

Em 2020, no auge da pandemia e sem emprego, Roselene viu nas redes sociais a chance de ingressar em um processo seletivo voltado exclusivamente a mulheres. “Fiz o treinamento e fui aprovada. Achei que não era capaz, mas fui em frente. Hoje sou reconhecida e respeitada no que faço”, diz. “Os desafios ainda existem: falta de apoio na estrada, estrutura precária, preconceito. Mas nada supera o prazer de realizar um sonho antigo.”

Formação com garantia de emprego

O programa Mulheres na Direção da JSL surgiu em 2021 com o objetivo de capacitar e contratar mulheres para funções operacionais historicamente dominadas por homens. Desde então, mais de 220 motoristas passaram pela formação, com edições realizadas em estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

O curso dura cerca de três meses e inclui cerca de 374 horas de aulas práticas e teóricas, além de treinamentos comportamentais em temas como comunicação, inteligência emocional e educação financeira. As candidatas assinam contratos como trainees desde o início, com salário, benefícios e registro em carteira.

“Nosso diferencial é oferecer a oportunidade de trabalho desde o primeiro dia. Elas não vêm só para aprender, mas já com a certeza de que estão assumindo uma nova fase da vida”, afirma Bianca Furlan, gerente de Gente e Cultura da JSL. “O nome do programa também é simbólico. Queremos que elas estejam à frente da própria história, que tomem a direção da vida delas.”

Demanda existe, oportunidades ainda são poucas

Na primeira edição do projeto, foram abertas apenas 12 vagas. O número de inscritas surpreendeu: mais de 600 mulheres. “Isso mostrou que elas estavam prontas. Só faltava alguém oferecer a chance”, completa Bianca. Só em 2024, 100 novas vagas foram ofertadas pela empresa, em meio a uma realidade de pouca representatividade feminina no setor.

Conforme dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o número de mulheres habilitadas na categoria E saltou de 75 mil, em 2023, para 98 mil em 2024. O avanço é expressivo, mas as mulheres ainda representam apenas 2% das pessoas com habilitação profissional no país.

Na JSL, a presença feminina nas funções operacionais saltou de 4% para 22% desde o início do programa. Aliás, a meta da empresa é crescer 30% em dez anos. “A gente entende que, como uma das líderes do setor, tem o dever de puxar esse movimento”, afirma Bianca.

Tanto Eleonara quanto Roselene dizem que o que mais as motiva hoje é o impacto que causam em outras mulheres. “Quando estou na estrada, vejo os olhares de admiração. Principalmente das mulheres, que dizem: ‘Olha, uma de nós ali!’”, diz Eleonara. Roselene completa: “Meus filhos e netos têm orgulho. E eu digo para todas: não desistam. Não é fácil, mas tudo que vale a pena exige esforço.”

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